Diretor de 'O Pequeno Príncipe' parou de reler o livro para focar a produção

Quando era criança e morava em Vermont (Estados Unidos) com a família, o cineasta Mark Osborne adentrou a casa e se deparou com a mãe esparramada no sofá com lágrimas caindo pelo rosto. Era um sábado à tarde. De olho em uma pequena TV com imagens em preto e branco, ela assistia "A Noite dos Desesperados", de Sydney Pollack.

"Eu lembro de me pegar pensando 'como aquela imagem em preto e branco, saindo daquela caixa pequena, poderia fazer ela chorar?'", diz o diretor em entrevista ao Guia. "Aquilo me impressionou. Saber que há tanto poder nesse tipo de storytelling", conta.

O cineasta lembra da história quando é questionado sobre algo de sua infância que tinha esquecido, mas se lembrou ao dirigir a animação "O Pequeno Príncipe" —que bate na tecla que devemos manter a criança dentro de nós enquanto envelhecemos.


O filme, que foi exibido pela primeira vez em São Paulo nesta sexta (17), no festival Anima Mundi, estreia no dia 20 de agosto.

Em sua versão do clássico de Antoine de Saint-Exupéry, um dos livros infantis mais vendidos da história, Osborne cria uma trama paralela a do garotinho que mora em outro planeta e passa uma série de ensinamentos.

Na principal, "guardiã", como ele gosta de descrever, uma garotinha é treinada pela mãe controladora para ingressar em uma escola renomada. Após fracassar na primeira tentativa, recomeça o processo e, no meio do caminho, faz um amigo incomum.

É ele quem lhe apresenta a história do pequeno príncipe. E é quem também tira a protagonista de uma realidade cinza e cheia de números e frações e a leva para outra, colorida, da imaginação. Para diferenciar as duas, ele mistura tecnologia 3D e o stop-motion em 2D, respectivamente.

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O cineasta não sabe enumerar quantas vezes ele e sua equipe retomaram o livro durante a produção, que levou cerca de cinco anos. Mas, curiosamente, ele afirma que parou de reler "O Pequeno Príncipe" há alguns anos para que pudesse focar o longa. "O que eu amo sobre o livro é o fato de ele ser diferente toda vez que você o lê. Em alguma ocasião no ano que vem vai ser muito interessante ler de novo e ver o que conecta", diz.

Ele ganhou o seu exemplar há 25 anos de uma namorada. "Eu estava indo viajar para estudar animação em outra cidade e íamos viver um relacionamento à distância. Ela me deu o livro e disse 'o essencial é invisível aos olhos'. Foi difícil, mas ficamos juntos", conta. Ela acabou se tornando sua mulher.

A animação de Osborne tem sido bem aceita, mas ele ainda tem medo decepcionar os fãs do título francês. "Eu sou um fã. Todo mundo que fez o filme ama o livro. E você não pode agradar todo mundo quando faz algo. Mas quando eu chamei os artistas para se juntar ao filme eu pedi que eles aceitassem na missão de proteger o livro. Falhar nisso seria devastador", conta.

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