Em 'Playtime', Jacques Tati apresenta uma sátira à vida moderna

Ao desembarcar em Paris, turistas que percorrem uma capital por dia descobrem que o aeroporto é exatamente o mesmo que tinham acabado de deixar em Roma, as estradas são as mesmas de Hamburgo e a iluminação pública é estranhamente semelhante à de Nova York, nas palavras de Jacques Tati.

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"O cenário não mudou de uma cidade para outra. Eles se movem nesse cenário internacional que é real, eu não o inventei", afirmou o diretor francês.



Pode não ter inventado, mas recriou com um olhar perspicaz, uma inigualável abordagem satírica e uma ambição cenográfica que lhe custaram caro. "Playtime" (1967) foi realizado ao longo de três anos, tornou-se a mais cara produção francesa feita até então e, com seu fraco desempenho comercial, provocou a falência de Tati (1907-1982), que só conseguiria se reerguer para a despedida em "As Aventuras de M. Hulot no Tráfego Louco" (1971).

Assistir a essa obra-prima quase meio século depois sugere que "Playtime" estava à frente do seu tempo. A suposta modernidade que ali era detectada, em seu infame nascedouro, transformou a vida urbana em uma tragicomédia que Tati só não flagrou por inteiro porque não lhe ocorreu inserir na narrativa zumbis caminhando pelas ruas de olho na tela do aparelho que carregam na mão.

Quando os turistas do filme encontram franceses, um pouco de calor humano é criado. Quem está no centro dessa busca pelo contato é, claro, Monsieur Hulot, célebre personagem de Tati visto ainda em outros clássicos, como "As Férias do Sr. Hulot" (1953) e "Meu Tio" (1957, longa que lhe rendeu o Oscar de filme estrangeiro).

Com seu futurista parque de diversões, "Playtime" oferece alento a quem hoje se sente um pouco como ele, em Paris, Roma, Hamburgo, Nova York ou São Paulo.

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