Mistério fortalece penúltimo longa do diretor italiano Marco Bellocchio

"Sangue do Meu Sangue" é o penúltimo longa de Marco Bellocchio, diretor italiano festejado pela crítica, sobretudo por "De Punhos Cerrados" (1965), "Olhos na Boca" (1982), "A Hora da Religião" (2002) e "Vincere" (2009).

O filme é bipartido em histórias separadas por séculos. No século 17, o jovem padre Federico (Pier Giorgio Bellocchio, filho do diretor) é chamado para um convento em Bobbio, onde deve conseguir uma confissão da freira Benedetta (Lidiya Liberman), única que pode salvar a alma de seu irmão mais velho, também padre, que cometeu suicídio. Seria ela uma bruxa?

Sangue do Meu Sangue - A atriz ucraniana Lidiya Liberman vive uma freira que pode salvar a alma do irmão de um padre
A atriz ucraniana Lidiya Liberman vive uma freira que pode salvar a alma do irmão de um padre - Divulgação

No século 21, um milionário russo quer comprar o prédio onde ficava o convento de Bobbio, mas nele reside um conde misterioso (Roberto Herlitzka) que se recusa a deixar o lugar. O mesmo Pier Giorgio Bellocchio interpreta agora um homem sem caráter, entregue à corrupção de nossos dias.

De que modo essas histórias se juntam é o grande mistério que acompanha o espectador até o final. É também o grande trunfo do longa. Podemos dizer que a junção é tão sutil quanto enigmática e envolve o filme em uma redoma de mistério que de alguma forma o fortalece.

A grande questão aqui é entender a complicada operação proposta por sua estrutura. À primeira parte, rigorosa e litúrgica, soberba em todos os sentidos, soma-se uma segunda, mundana e desconcertante no modo como apresenta os tempos atuais: pelo buraco de uma fechadura. É como um outro filme que irrompe para enterrar o anterior.

Cena de "Sangue do Meu Sangue"
Cena de "Sangue do Meu Sangue" - Divulgação

Religião, família e política sempre foram os pilares do cinema de Bellocchio. Não seria errado dizer que são também os pilares que constituem a sociedade italiana.

Percebe-se então que o olhar de Bellocchio para a Itália continua eminentemente crítico. Revela um país corrompido por suas instituições, personificadas na figura sinistra e vampiresca do conde.

O último longa que Bellocchio dirigiu, Belos Sonhos, tem estreia brasileira prevista para o fim deste mês. O espectador assim poderá ver o cinema italiano contemporâneo em seu melhor.

Avaliação: ótimo
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