Longa de Leyla Bouzid perde força como denúncia política

Garota que sonha ser cantora de rock enfrenta a pressão da mãe, que prefere ver a filha estudando medicina, bem longe do namorado bad boy. Resumindo dessa maneira, parece muito um dos vários filmes feitos para adolescentes no cinema americano. Mas basta mudar a ação para a Tunísia de 2010, às portas da Primavera Árabe, para que tudo mude de figura.

"Assim que Abro Meus Olhos", de Leyla Bouzid, alcançou uma carreira frutífera em festivais. O apelo universal da jovem deslocada contribuiu, mas o filme tem outros atrativos. A curiosidade pelo cotidiano da classe média num dos países árabes varridos pela onda de revoluções no início desta década chama uma parcela de público.

A atuação entusiasmada de Baya Medhaffer como a garota que sonha ser cantora merece elogios
A atuação entusiasmada de Baya Medhaffer como a garota que sonha ser cantora merece elogios - Divulgação

A atuação entusiasmada de Baya Medhaffer como a adolescente Farah, fofa e obstinada, também merece elogios. E o roteiro, pelo menos nos dois terços iniciais do filme, é bem costurado. A história rende mais ali, quando centrada nas ambições e angústias de Farah. Já com vaga na faculdade garantida, ela conhece o músico Borhène, alguns anos mais velho, que apresenta para a garota as baladas, o sexo e sua banda punk.

Daí é só um passo para Farah virar a vocalista que comunica às pequenas plateias dos botecos a poesia contestadora de Borhène. São letras muito boas e a música também empolga. Punk rock, sim, mas na Tunísia fica diferente. No lugar das guitarras, a banda utiliza o alaúde, espécie ancestral do violão, mas sem perder a fúria.

Cena de "Assim que Abro Meus Olhos"
Cena de "Assim que Abro Meus Olhos" - Divulgação

Aos poucos, a historinha adolescente vai cedendo espaço à tensão política. Um antigo namorado da mãe de Farah tem ligações não muito bem explicadas com a polícia e se reaproxima para avisá-la de que sua filha corre riscos. A banda é considerada subversiva e está sendo vigiada. Farah despreza os conselhos da mãe para que deixe o grupo, e o cerco da polícia logo vai mostrar consequências terríveis.

Como crônica dos ritos de passagem da juventude, "Assim que Abro Meus Olhos" tem frescor. Como denúncia política, o filme perde força, fica parecido com cinema panfletário que outros já fizeram melhor.

Avaliação: bom
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