Crítica: 'Fome de Poder' tem história sensacional e boa direção


Keaton interpreta Ray Kroc, que criou império de fast food a partir de ideia dos McDonald
Keaton interpreta Ray Kroc, que criou império de fast food a partir de ideia dos McDonald - Divulgação

O cineasta Martin Scorsese já disse: quando um filme tem uma boa história para ser contada, o melhor que o diretor pode fazer é não atrapalhar. E John Lee Hancock não atrapalhou "Fome de Poder": ritmo ágil, diálogos enxutos, atuações contidas e um ótimo Michael Keaton no papel principal. Mas, sem dúvida, a história real é sensacional.

A trajetória da rede de lanchonetes McDonalds mostrada no longa é guiada pela fúria empreendedora de Ray Kroc, o homem que criou o império do fast food em cima da ideia inovadora dos irmãos Dick e Mac McDonald.

Kroc (1902-1984) era um vendedor que percorria as emergentes lanchonetes da América nos anos 1950, oferecendo novos equipamentos para facilitar a operação daqueles pontos de vendas de hambúrguer. Ao ser surpreendido por um pedido monstro dos misturadores de milk-shakes que vendia, quis saber mais sobre o desconhecido restaurante de San Bernardino (Califórnia) que teria demanda para tanto leite batido.

Kroc deu de cara com uma bem-sucedida lanchonete com apenas quatro opções no cardápio: hambúrguer, refrigerante, milk-shake e batata frita. Não tinha garçonetes (o cliente pegava seu pedido num saco de papel) nem mesas (quem comprava ia comer seu lanche onde bem quisesse). Na cozinha, um sistema de preparo com ações sincronizadas dos jovens funcionários garantia a entrega do lanche em um minuto.

A perseverança de Kroc para entrar no negócio e, com seu conhecimento do mercado, transformar o McDonalds em uma rede de franquias esbarrou na pouca ambição dos McDonald. Eram veteranos no ramo muito satisfeitos com o sucesso local. Quando o obstinado Kroc consegue sua parte na iniciativa, o filme passa a contar em detalhes saborosos como ele vai espalhando as lojas pelo país, não sem enfrentar um caminhão de problemas.

Todo mundo que já comeu um Big Mac deverá ficar curioso para conhecer a história. Logo fica evidente que Kroc irá dar uma rasteira nos irmãos e abocanhar tudo, mas a cadeia de acontecimentos até o bote final é empolgante.

Uma das qualidades do filme é não se preocupar tanto com a vida pessoal dos envolvidos. O longa põe na tela o mínimo necessário para que as pessoas entendam o relacionamento de Kroc com a mulher, mas o foco está mesmo na disputa jurídica pela rede. E, claro, em Michael Keaton, longe do ator histriônico do passado. Ao lado de "Birdman" e "Spotlight", "Fome de Poder" o coloca no panteão atual de Hollywood.

Avaliação: muito bom

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