Crítica: Com poucas palavras, peça leva poesia para bebês

Uma delicada arqueologia da memória é desvelada no terceiro espetáculo para bebês do Sobrevento, "Terra", em cartaz na sede do grupo.

Num palco circular de terra está a atriz Sandra Vargas, vestida de branco, acariciando o chão, morada de seus segredos de menina. Ali, ela desenterra seu pequeno inventário de objetos cheios de lembranças –uma colher da avó, uma concha do pai, um livro da mãe.

O monólogo é marcado por silêncios, num diálogo de máxima precisão com os bebês. Os gestos, lentos, se repetem ao alisar, roçar e cavoucar o chão e, depois, deixar escoar a terra pelos dedos. Palavras, poucas, são por vezes sussurradas e compõem uma narrativa de fragmentos.

Monólogo 'Terra', do grupo Sobrevento
Monólogo 'Terra', do grupo Sobrevento - Almir Ribeiro/Divulgação

A atriz é acompanhada pelos músicos William Guedes (violão e direção musical) e Denise Ferrari (violoncelo). A música, que em vários momentos pontua gestos, é puro acalanto.

Imagens profundas são evocadas em cena, do aconchego do chão à imensidão da noite. Tudo é falado em poesia, que parece ser bem recebida pelos bebês, atentos a todo movimento.

Experiente, a produção do grupo dá avisos às famílias logo no início (e que bem servem para qualquer espetáculo): não é preciso explicar nem apontar nada às crianças durante a peça. Sim, vale acreditar no potencial poético dos bebês.

Avaliação: muito bom
Indicação da crítica: de 6 meses a 3 anos

Espaço Sobrevento - R. Cel. Albino Bairão, 42, Belenzinho, região leste, tel. 3399-3589. 70 lugares. Sáb. e dom.: 11h. Até 11/12. É necessário fazer reserva p/ tel. Ingresso: GRÁTIS 

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