Viveiros de Castro exibe pela primeira vez 400 fotografias; veja destaques

Neste sábado (29), o Sesc Ipiranga recebe "Variações do Corpo Selvagem: Eduardo Viveiros de Castro, Fotógrafo".

Organizada por Eduardo Sterzi e Veronica Stigger, a exposição apresenta cerca de 400 imagens de Viveiros , considerado um dos mais influentes antropólogos brasileiros.

Professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ele elaborou em meados dos anos 1990 a ideia do perspectivismo ameríndio, que trata, em linhas gerais, dos diferentes entendimentos do "humano" para índios e ocidentais.

O "Guia" conversou com os curadores Eduardo Sterzi e Veronica Stigger para entender as interlocuções presentes na exposição e saber no que é preciso ficar de olho.

Sesc Ipiranga - r. Bom Pastor, 822, Ipiranga, região sul, tel. 3340-2000. Ter. a sex.: 8h às 21h30. Sáb.: 10h às 21h30. Dom.: 10h às 18h30. Até 22/11. Livre. GRÁTIS


O TRAJETO
A exposição está montada no Sesc Ipiranga e em suas imediações. Na instituição, tem como espaço expositivo uma galeria em L, o jardim e o galpão. O parque da Independência e sete comércios do bairro, como bares e restaurantes, também recebem as obras.


CORPO EM DIÁLOGO
Por meio do corpo, os curadores aproximaram as duas fases de Viveiros fotógrafo -durante os anos 1970, ao lado de Ivan Cardoso, e entre as décadas de 1970 e 90 registrando os índios. Não é qualquer corpo, mas um corpo selvagem, em vários sentidos metafóricos, que não se encaixa no modelo da gestualidade e da atitude ocidental (leia abaixo). A corporalidade também articula a produção fotográfica com a obra antropológica do autor. Por isso é importante observar os escritos das paredes. Eles foram extraídos de entrevistas e de textos de Viveiros e funcionam como mote, como síntese, dos núcleos fotográficos.

TRÊS CONCEITOS FUNDAMENTAIS DO CORPO
- É uma fabricação social
- Apresenta-se em performance
- Precisa ser imaginado


CINEMA
Em cena de "O Segredo da Múmia" (1982), filme de Ivan Cardoso, Expedito Vitus (Wylson Grey) está em frente a Igor (Felipe Falcão), que tem a cabeça careca toda escrita. Foi Viveiros de Castro que grafou as palavras —lê-se, por exemplo, "tara", "visão" e "poesia". É como se cada área do cérebro se dedicasse ao que está escrito.


AS VARIAÇÕES
O título da exposição já anuncia: as variações, ou seja, as transformações das coisas são partes importantes da mostra. As divisões dos quatro núcleos temáticos não são estanques. A passagem de uma imagem para a outra prevê fluidez. Há sequências de fotos que dão a impressão de vermos os corpos em plena atividade, como a cena de um filme.


JOGOS DE ÉPOCAS
Repare nas aproximações formais das imagens de temáticas distintas. Fotos da pintura de um índio Kulina estão próximas às imagens do poeta Waly Salomão com um de parangolé de rosto de Hélio Oiticica —parangolés são tipos de capas coloridas que, em movimento, modificam o corpo de quem dança. Cara a Oiticica, a transformabilidade proporcionada pelos parangolés se estende às imagens fotografadas. "As fotos da época de Ivan Cardoso se concentram num certo tipo de prática que também dava à corporalidade um papel central. Estamos falando de 1970, da contracultura e de Oiticica, que teve grande importância em minha formação estética", conta Viveiros de Castro.


APROXIMAÇÃO EMPÁTICA
Apesar de as fotos tiradas nas comunidades indígenas não terem caráter etnográfico, para os curadores, elas não foram clicadas por um olhar ingênuo. "Há, de certa forma, a visão do antropólogo que conhece a tradição figurativa dos índios e assume uma posição crítica à representação fotográfica deles", comentam Eduardo e Veronica. A ausência de interesse documental faz com que as fotos tenham uma dimensão poética e artística, além de preverem uma relação simpática entre Viveiros e os fotografados. Ao lado, um índio brinca com a câmera super 8 do antropólogo.


QUEM É MAIS ÍNDIO?
Na área do galpão, a frase "No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é" orienta as imagens. Há fotos que se detêm nas relações pessoais, caso de uma série de madonas, e outras que mostram a incorporação por parte dos índios de elementos supostamente não indígenas. "Do ponto de vista conservador, o que ainda é índio? Nessa foto [ao lado], em que há um menino de peito nu e outros dois vestidos, qual é mais índio? Essa pergunta não faz sentido. Mas essa é a maneira como fomos treinados a olhar", diz Eduardo Sterzi.


FIM DE MUNDO
A última parte da mostra gira em torno do fim do mundo e do índio como especialista em sobrevivência. "A indianidade não é uma sobrevivência do passado, mas um projeto de futuro", diz Viveiros em entrevista à revista "Prisma Jurídico" em 2011. Aqui, há uma compilação de fotos de crianças indígenas.

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais