Com transmissão ao vivo, Rádio Pirata faz festa para poucos na Funhouse

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Dizem por aí que a internet está matando tudo: o rádio, o mercado fonográfico, a televisão, o cinema. Enquanto isso, o DJ Mauro Farina separa de duas a três horas do dia para pesquisar e comprar música na rede. Desse ritual diário ele tira conteúdo sonoro para alimentar a pista do Paradise After-Hours, na D-Edge, e as 1.500 mentes abertas que sintonizam na Rádio Pirata toda quarta-feira.

Na web há quatro anos, a rádio on-line abre o microfone às 20h e é transmitida em tempo real pela Under Records, enquanto Mauro F. e o multiartista Enor recebem um convidado e 15 sortudos em um dos andares da Funhouse, o novo QG da "festa". "Em 2009 passamos por duas locações diferentes, mas em nenhuma delas tínhamos um espaço físico para receber esses curiosos e amigos", explica Mauro. "O programa sempre teve uma cara de festa, mesmo porque é bem longo, são quatro horas ao vivo sem parar. É uma happy hour informativa, com pessoas interessadas em ouvir novidades da música underground".

Assim como a casa noturna, que ainda é considerada um reduto da cultura alternativa, Mauro F. e Enor não reproduzem o que toca as rádios convencionais. E uma das receitas para a proposta conceitual da rádio não desandar é a escolha criteriosa dos convidados de cada edição. "O programa é voltado para o dubstep [estilo de música eletrônica] e o hip hop experimental. Nada melhor que o Akin para mostrar essa fusão", justifica Mauro a escolha da semana.

Uma das cabeças do Afasia, projeto de música "torta" que criou com Carlos Issa, do Objeto Amarelo, Akin é MC e também 1/6 da Ponicz Crew, coletivo mentor da festa de música negra Chaka Hotnightz, que acontece toda sexta-feira no Tapas Club. "O Afasia é algo que me inspira, a Chaka é algo que me dá esperança e ser MC é algo em que acredito", avalia o rapper paulista, que transcende a linguagem convencional do rap para fazer suas rimas e beats (leia bate-papo com Akin abaixo).

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E é essa personalidade musical não convencional que Akin vai mostrar a partir das 20h na Rádio Pirata, com um set especial feito com vinis. Sintonize www.underrecords.com. Para participar da gravação na Funhouse, é preciso mandar e-mail para radiopiratata@gmail.com.

Três perguntas para Akin

Folha Online - Palavras do Mauro F.: "O programa é voltado para o dubstep e o hip hop experimental. Nada melhor que o Akin para mostrar essa fusão". Você recorda o que te fez firmar o gosto por esse tipo de música?
Akin - Acho que o fato de ser MC há quase 11 anos me fez enxergar que não há como evoluir dentro de um gênero sem expandir o horizonte de influências para outros gêneros. A primeira época em que troquei grande informação musical foi no período em que andava de skate no vale do Anhangabaú. A cena do skate passou por diversas fases e diferentes influências que ditavam a cara e a atitude do esporte. Acho que cada época relacionada a isso se tornou uma fração da minha própria formação dentro da música. Vi de perto o auge e o término da época de ouro do rap, assim como a ascenção dos novos gêneros musicais que atualmente vêm da Europa. As trilhas sonoras dos vídeos de skate acabaram sendo o estopim de tudo. No começo ouvia mais hardcore, porque era isso que tocava nos vídeos. Sem perceber, de uma hora pra outra já estava ouvindo rap, trocando fitas k7 com outros skatistas do centro e indo em festas com microfone aberto.
Acho que o mais importante é que nenhum estilo ou gênero musical morre para dar lugar a outro. O que acontece é que as pessoas não entendem que é necessário uma força de vontade para reinventar aquilo que já existe. Eu como MC procuro me reinventar sempre.

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Folha Online - Rádio no Brasil tem jeito ainda? O que você recomenda?
Akin - Acho que o rádio, assim como a TV, precisa passar por períodos de inovação e renovação constantes.
A vantagem do rádio é que você possui formas alternativas de manter uma estação em pleno funcionamento; o que é um sopro de esperança que a televisão não possui, já que é um meio de informação que precisa de muito mais suporte finaceiro para se manter. O que eu percebo é que cada vez mais o rádio aproxima sua programação de acordo com a opinião do ouvinte, e isso é o essencial. A possibilidade de rádios pessoais, com programação feita pelo ouvinte é o que acho que garantirá a longevidade do meio. Hoje, escuto mais rádio on-line do que rádio convencional. Sempre ouço a Dublab e a BBC Radio, entre outras de fora do país. No formato convencional, escuto as clássicas Alpha FM e Cultura FM, que possuem uma programação mais interessante no meu ponto de vista.

Folha Online - E na noite paulistana, falta algo?
Akin - Essa é uma pergunta difícil de responder, porque, na minha opinião, falta muita coisa, mas as duas principais são o fim dos preconceitos e olhos e ouvidos mais atentos. Acho quase ridículo uma cidade cosmopolita como São Paulo ainda ser tão cheia de regras de comportamento e modismo tendencioso que não levam a lugar nenhum. Existe muita gente e muita coisa boa na cidade para se ver e ouvir, mas as pessoas passam a maior parte do tempo de olhos fechados para o que está acontecendo. É engraçado como muita coisa precisa reacontecer e ser rotulada por um termo modista pra que todos prestem atenção. A maioria acaba prestando mais atenção no rótulo de "novo" sem perceberem que o novo em si não existe. O problema é que as coisas que mais valem à pena de se conhecer possuem uma autenticidade radical demais pra serem digeridas de imediato. As pessoas têm essa tendência de ignorar aquilo que elas não entendem tão facilmente, e isso faz com que muita coisa ruim, já mastigada, ganhe atenção e muita coisa boa passe despercebida.

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