Gabriel O Pensador diz que jovem que votar de brincadeira vai se sentir um babaca

Em "Nunca Serão", faixa mais politizada do disco "Sem Crise", de Gabriel O Pensador, um homem encontra com o Capitão Nascimento --personagem vivido por Wagner Moura em Tropa de Elite 1 e 2. O oficial pede para cheirar a mão dele, à procura de vestígios de maconha. Os dois engatam uma conversa para concluir que não é esse tipo de bandido que ele deve buscar.

No clipe da música, dirigido por José Padilha ("Tropa de Elite 1 e 2") e lançado em 2010, deputados e senadores são incitados: "pede pra sair" --em referência ao famoso jargão criado por Nascimento. No contexto dos manifestos que ocorreram em junho desse ano, a canção parece se encaixar.

Gabriel O Pensador subirá ao palco do Teatro Renault (centro de São Paulo), nesta terça-feira (dia 22), para show de divulgação de seu novo álbum: "Sem Crise". Os preços dos ingressos variam entre R$ 30 e R$ 140 e estão à venda no site Tickets for Fun.


Questionado sobre o assunto das manifestações, o músico desabafou. "Eu e o Marcelo Yuka fizemos uma palestra juntos em Curitiba e conversamos sobre isso no camarim. As pessoas achavam que artistas como nós éramos muito ingênuos e sonhadores, cantando frases de protesto e estimulando uma reação popular muito improvável".

Mas ele acredita que essa realidade mudou. "O jovem que votar de brincadeira ou que não souber nada sobre política, hoje vai se sentir excluído, um babaca. Quando eu tinha 18 e comecei com a música "Tô Feliz (Matei o Presidente)", eu não me empolguei com os caras-pintadas. Eu achava a minha geração muito alienada. Eu cantava 'Retrato de um Playboy' e 'Loraburra'", lembra.

"Cheguei a pintar faixas sozinho e a distribuir panfletos dando o meu número de telefone para quem quisesse criar um 'movimento'. Não deu em nada.", diz. A não ser pela música, que o salvou da frustração. "Mas hoje a galera tem a internet, o Instagram, a TV Ninja, a faca e o queijo na mão. Um clima meio "Yes We Can" no ar, mas muito caminho a ser percorrido", complementa.

Ele diz que interage com muita gente na sua página oficial no Facebook. Lá, ele recebe trechos de letras que nem lembrava mais de ter escrito, além de trocar ideias e compartilhar opiniões.

"Claro que eu fiquei feliz por notar que minhas músicas inspiraram e inspiram a galera", revela. E finaliza: "Minha felicidade é ver que nosso povo não é covarde".

ASSISTA AO CLIPE DE "NUNCA SERÃO", DIRIGIDO POR JOSÉ PADILHA:


LETRA DA MÚSICA "NUNCA SERÃO"

Eu caminhava no meu Rio de Janeiro quando alguém me parou e falou
Aí parceiro me dá tua mão que eu quero ver se tá com cheiro
Porque eu sou um cara honesto e detesto maconheiro
Eu tinha acabado de sair do banheiro
E dei a mão pra ele cheirar, mas foi uma cena "bizonha"
Ele cheirou a minha mão por um tempo
Eu disse espera tu não é o capitão Nascimento?
Que vergonha meu capitão, procurando maconha no calçadão
Qual é a tua missão?
Eu vi teu filme, mas não me leva a mal
Não me tortura assim não, que eu sou um cara legal
Em certas coisas eu concordo contigo
Mas não é assim que você vai achar os grandes bandidos
Este pais tá "fodido" ele falou eu sei disso
Quando entrei na PM eu assumi o compromisso
Luto pela justiça (eu também)
Sem justiça não tem paz e sem paz eu sou refém
A injustiça é cega e a justiça enxerga bem
Mas só quando convém
A lei é do mais forte
No BOPE ou na FEBEM
Na boca ou no Supremo
Que justiça a gente tem
Que justiça nós queremos

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