Karina Buhr faz shows de lançamento e disponibiliza álbum para download


Feminismo e inconformismo guiam o terceiro álbum de Karina Buhr, "Selvática", totalmente autoral, a ser lançado em dois shows no Sesc Pompeia, na sexta-feira (2) e no sábado (3).

No álbum, que está disponível para download desde esta terça-feira (29), a cantora conta com participações de Elke Maravilha e Laura Lavieri. A cantora e atriz Denise Assunção participa tanto do disco quanto do show.

No palco, Karina será acompanhada, entre outros músicos, pelos guitarristas Fernando Catatau (Cidadão Instigado) e Edgard Scandurra (Ira!).

Confira abaixo a entrevista sobre o novo álbum com a cantora.


Desde que você conquistou espaço no cenário musical brasileiro, passou por situações em que o machismo tenha sido empecilho?
Acho que é um empecilho sempre, na vida de todas nós. Uma coisa que acontece com mulheres que cantam, por exemplo, é não serem tão exaltadas por suas músicas e letras como homens são. E, quando são, é "entre as mulheres", um total absurdo, isso não se divide por gênero. E se cria essa coisa cafona de diva, as cantoras são tratadas dessa forma, mesmo não sendo a verdade delas. Se faz um balaio de cantoras e, sempre que surge uma nova, compara-se ela com todas as outras e, não raramente, dizem que "agora, sim, surgiu uma diferente de todas as outras". Isso é pura e simplesmente machismo, com os homens não acontece isso.

Sobre conquistar espaço neste cenário, você acredita que já tem o seu consolidado?
Acho que são tantos cenários e eles mudam tanto que é difícil falar, mas não acredito nisso de espaço consolidado. Acho que ninguém está consolidado. Pensando bem, tem um monte de gente consolidada, mas eu não [risos]. Tenho um espaço conquistado e adoro ele, mas isso de consolidado já é outra história.


Selvática tem sido divulgado como feminista, mas o seu discurso sempre teve esse apelo, mais evidente no livro "Desperdiçando Rima" e no zine "Sexo Ágil". Em que este álbum é diferente dos outros trabalhos?
Qualquer trabalho que eu faça vai ser regido por isso, porque sou feminista, mas não significa que eu só vá falar disso, de maneira alguma. Posso fazer um disco falando só do mar, da lagoa e do pôr do sol. Mas esse disco tem isso da personagem Selvática, que é, sim, uma representação muito forte das mulheres, do feminismo, de reconstruir e reescrever uma história.

Como suas experiências de vida estão dispostas neste novo álbum?
A música "Esôfago" é a narração de um homem que matou a mulher e depois se matou. Fiz pensando nessas notícias de jornais sobre feminicídio, que rarissimamente citam essa palavra e carregam um certo perdão, um certo "aplauso do público", que tenta sempre encontrar o motivo do assassinato. É um crime ainda aceito socialmente como menos grave, quase que como uma fatalidade. É sempre um "foi esfaqueada", "morreu", em vez de ser "esfaqueou", "matou".


Você contou com participação de Elke Maravilha, Denise Assunção e Laura Lavieri em algumas faixas. Como se deu a escolha dessas parcerias?
Elke e Denise me vieram ao mesmo tempo que a letra da música "Selvática". Elas são musas absolutas, personificação dessas mulheres todas. Laurinha Lavieri eu tinha convidado pra visitar a gente no estúdio. Acabei não resistindo e pedindo pra ela gravar um vocal que antes eu mesma faria. Teve também seu Manoel Cordeiro e a banda Devotos. Seu Manoel estava passando pra visitar e claro que também foi abduzido rs, não daria pra deixar escapar. A parceria com Cannibal foi a partir do projeto Joinha Lab, de China, que convidou nós dois pra fazer música e letra juntos. Achei bem massa o resultado e peguei pro disco também.

Podemos esperar um desempenho mais forte da percussão, algo que foi tão fundamental na sua formação como artista, no novo trabalho?
Nunca deixou de ser. Ao vivo não toco há um bom tempo, mas todas as músicas que faço, inclusive desse disco e dos outros dois, faço sempre com percussão e voz. Agora tô numa vontade de voltar a botar uma coisa ou outra ao vivo, mas isso vai acabar acontecendo na estrada, com o show tomando mais corpo.

Você arrecadou mais de 30 mil reais por financiamento coletivo no Kickante. Qual sua intenção com essa iniciativa, se o disco já estava gravado?
Pagar o que ficou pendurado, ou seja, tudo [risos]. Voltando pra sua pergunta sobre ser uma artista consolidada... O financiamento coletivo prova que não.


Por que disponibilizar para download gratuito?
Porque é uma forma de chegar nas pessoas mais facilmente, de espalhar logo pros sete ventos. E aí quem gostar depois vai no show, compra o disco e assim vamos costurando.

Como você tem articulado a questão do financiamento do seu trabalho, ou ainda, o que paga os custos do seu trabalho?
A vida inteira sempre trabalhei com música, teatro e afins. Vivo disso há bastante tempo, mudando as formas muitas vezes e sempre. Faço shows, faço músicas pra trilhas, pra outras pessoas gravarem, escrevo e ilustro coisas por aí, faço participações em shows, gravações, tem o livro, um monte de coisas acontecendo e me mantendo viva e seguindo. Quem contrata o show, quem compra o ingresso, o disco, a camiseta, o quadro, a ilustração, o copinho artesanal ilustrado, quem convida pra esse e aquele projeto, todos fazem a usina moer.

O que te leva a compor e cantar novas canções? Sei que faz parte de seu trabalho, mas o que te move como artista neste sentido da produção?
Esse é o sentido pra mim, criar essas coisas. Todo o resto é consequência disso ou coisa que a gente faz pra poder viver no mundo do dinheiro, mas, sem criar essas coisas, eu não vivo. Não é só meu trabalho, tornou-se meu trabalho, mas é minha vida.

Além da música, você já já passeou por vários meandros artísticos, como o teatro, literatura e as artes plásticas. Como essa desenvoltura entre os diferentes campos interfere na sua música?
Tudo interfere um no outro, tá tudo interligado. Não sei explicar como interfere, talvez atrapalhando [risos].

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais