Com toques de Almodóvar e Fellini, peça mostra mulher arrasada com separação

Ser atriz não é aprender a contar mentira, mas, sim, aprender a falar com verdade. Essa frase do monólogo "As Lágrimas Quentes de Amor que Só Meu Secador Sabe Enxugar" ilustra bem o que Paula Cohen faz em cena: mostra dores, alegrias e dúvidas que fazem parte da vida de todo mundo.

Em cartaz até 26/10 no Teatro MuBE Nova Cultural (zona região de São Paulo), com sessões aos sábados e domingos, a peça fala de uma atriz que leva um pé na bunda após ter largado tudo —inclusive emprego— para morar com seu amor na Argentina. Ela vivia um sonho... até que ele terminou o casamento.


Desesperada, ela pega o avião e volta pra casa, desolada, surtada, sem saber o que fazer. O cenário é cheio de malas e nécessaires que se transformam em bancos, mesas e bancadas —e que simbolizam uma vida em eterna mudança.

"Esse é um assunto que muito me interessa. Quem sou a mulher que fui criada para ser? Quem sou a mulher que me tornei em consequência dos meios, da mudança dos tempos?", questiona Paula, que faz seu primeiro monólogo e também é autora do espetáculo ao lado de Pedro Granato, o diretor.

"Eu e o Pedro, parceiro na dramaturgia, somos muito conectados com temas como relações, paixões, desejo, liberdade, convenções sociais e como quebrar com formas estabelecidas e ser o mais autêntico com você mesmo", diz a atriz.

"E eu sinto, principalmente para a mulher, o peso das cobranças. Como se fossem formulários que você tem que preencher, tipo: - Casou? - Teve filhos? - Vai abrir mão ou ajustar a sua vida profissional à familiar?."

PERSONAGENS E SECADOR

Em cerca de um hora, Paula grita, chora, corre e dança. Dois secadores —pendurados um em cada lado do palco— servem como microfones, e ela recorre a eles para fazer confissões. Além da atriz abandonada, a artista interpreta outras personagens, como a mãe e a amiga pirada.

"É a primeira vez que vou me transformando durante a obra, ali, na frente do público", conta. "Fazer um solo é algo bem radical."

Com trilha que inclui Ana Cañas e Tulipa Ruiz, a peça é intensa, colorida e dinâmica, com toques de Pedro Almodóvar e Federico Fellini,.

HUMOR E HOMENS

O espetáculo tem momentos muito divertidos, mas também emociona. Tem gente que até chora ao final. É que dor de amor e tensão por um futuro indefinido mexem com todo mundo. "Partimos de um tema que envolve, desde o título, muitas lágrimas", conta Pedro Granato.

"Sempre gostei dessa mistura em obras de arte", diz o diretor, sobre a mescla de sentimentos. Para ele, muitas vezes, as pessoas colocam na comédia uma ideia de superficialidade. "Mas acho o humor fundamental, uma prova de inteligência. Rir de tudo isso é fundamental. O ridículo de sofrer por amor."

A história é sobre uma mulher largada que tenta se reerguer, mas os homens também se envolvem. "Acho que tem uma coisa mais voyeur. Uma relação mais de conquista, mistério. Eles se divertem e dão aquela olhadinha pelo buraco da fechadura, como diria o Nelson [Rodrigues]."

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