Numa cena teatral tão diversa como a paulistana, Newton Moreno é quase uma unanimidade. Em cartaz na cidade com duas peças premiadas pela crítica --"Agreste" (2004), no circuito alternativo, e "As Centenárias" (2006/2007), escrita sob encomenda para as atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão --, o dramaturgo celebra seu próprio espaço cênico, Os Fofos Encenam, e a estreia da montagem "Memória da Cana", adaptação livre de "Álbum de Família", de Nelson Rodrigues.
Assista à entrevista com Newton Moreno
Newton Moreno teve seu debute na dramaturgia em 2001, com a encenação de "Deus Sabia de Tudo...", que mostrava esquetes cômicas acerca de relações homossexuais. Depois de outros trabalhos que gravitavam em torno desse tema, o artista partiu em busca de um reencontro com as raízes nordestinas.
Um desses retornos se deu por meio do texto "Assombrações do Recife Velho", de 2005, que reúne lendas e histórias de terror populares. No processo de criação, o dramaturgo se apoiou na obra de Gilberto Freyre, e a influência literária se estendeu até a montagem recém-estreada. Nela, Newton situa o texto de Nelson Rodrigues num Pernambuco arcaico e patriarcal. Em entrevista ao Guia da Folha Online, ele explica: "na montagem, o corpo é do Nelson, mas ele está vestido com figurino e cenário completamente freyrianos".
No entanto, ainda que as peças teatrais de Newton Moreno sejam carregadas de regionalismo, não são restritas a esse universo. O próprio dramaturgo comprovou isso quando levou a montagem de "Agreste" para Berlim, em 2006, no festival "Brasil em Cena", que integrou a Copa da Cultura. "Como a história fala de um muro que divide duas vontades, e também existe a questão do extermínio da diferença, essas duas chaves foram apontadas depois pelo público presente, porque são questões delicadas dentro da história daquele lugar."
A sorte e o risco
Quando justifica a trajetória de sucesso, Newton diz se considerar um homem de sorte. "Ou eu me aproximei, ou eu fui aproximado por um anjo da guarda, de pessoas muito talentosas." Mas a sorte não é o único fator do seu brilhantismo: "Eu só tenho essa realidade da dramaturgia há oito anos. E, neste lugar de estar descobrindo coisas, você acaba se arriscando. E isso é bom".
Embalado pelos resultados positivos de seu trabalho, Newton anuncia dois novos projetos teatrais. Na área da dramaturgia, um texto que será encenado pela companhia Os Fofos Encenam e dirigido por Fernando Neves. Na direção, vai assumir a peça "Da Possibilidade da Alegria no Mundo", obra que deriva da comunicação entre textos de autores de vários países, que deve entrar em cartaz em unidade do Sesc. Os dois projetos ainda não têm data definida para estrear, mas estão previstos para o próximo ano.
A vontade de arriscar empurra Newton para outra mídia: o cinema. O documentarista Evaldo Mocarzel registrou ensaios e encenações de "Memória da Cana", que devem virar um filme. Outro projeto é organizar as filmagens do retorno do grupo Os Fofos Encenam, quase todos pernambucanos, a Recife (PE), na época da encenação de "Assombrações do Recife Velho". "Mais um risco", pontua Moreno.
Newton conta ainda que nem mesmo para um dramaturgo festejado como ele é fácil fazer teatro no Brasil. "Existem leis fundamentais, a gente tem o espaço Os Fofos Encenam graças à Lei de Fomento à Cultura. Mas temos que buscar outros mecanismos. As políticas públicas podem e devem ser melhor pensadas."
Para ele, no entanto, o teatro em São Paulo vive um momento de efervescência. "O público vai ao teatro, os grupos estão provocando a cena". E pondera que "fácil não é, mas São Paulo vive um momento muito feliz". Newton Moreno também.
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