Julia Lemmertz estreia "Maria Stuart" em SP e diz ser atriz de teatro

Crédito: Renato Mangolin/Divulgação

"Eu me sinto mais uma atriz de teatro." Sob a luz dessa afirmação, Julia Lemmertz traz aos palcos do Teatro Sesc Anchieta, em São Paulo, a peça "Maria Stuart", que estreia neste sábado (19). Depois de atuar na série "Tudo Novo de Novo", da rede Globo, ela se dedica às temporadas do espetáculo e declara que o teatro é o ofício do ator, enquanto "a televisão é o ofício de toda uma empresa, você não precisa nem ser tão incrivelmente bom ator para ser um ator de televisão".

Em entrevista ao Guia da Folha Online em uma tarde de quarta-feira, antes dos ensaios da peça, Julia Lemmertz falou ainda da importância do trabalho do ator nos palcos: "Já que é tão difícil, tão trabalhoso, acho que vale a pena você dar ao público algo que realmente o transforme de alguma forma. Acho que a gente tem que fazer o público querer melhor, almejar coisas melhores. Pode ser meio utópico, mas eu tenho essa sensação com o teatro."

No espetáculo --com texto do ano de 1800, do dramaturgo clássico Schiller, e duração de 180 minutos--, Julia encarna Maria Stuart, rainha da Escócia, que entra em conflito com Elisabeth I, rainha da Inglaterra, vivida por Lígia Cortez. As duas representam conceitos diferentes de feminilidade e religião, com cenografia e figurinos atemporais. A temporada em São Paulo vai até 25 de outubro.

Leia a entrevista:

Folha Online - Como surgiu a oportunidade de encenar a peça?
Julia Lemmertz - Em 2006, o Antônio Gilberto, que é o diretor do espetáculo, estava fazendo um ciclo de leituras de Schiller no Centro Cultural da Justiça Federal do Rio de Janeiro. Ele escolheu "Maria Stuart" para dirigir e me chamou, chamou vários atores. E foi tão bacana que, quando acabou a leitura, a gente, no entusiasmo, decidiu fazer a peça. Pela beleza do texto, porque é lindo, fascinante, poético... O Antônio ficou animado e, com o Celso Lemos, que é o produtor do espetáculo, começou a levantar produção. A gente conseguiu patrocínio do Banco do Brasil e estamos há quase um ano praticamente rodando com a peça. É uma vitória mesmo ter conseguido chegar com esse espetáculo a São Paulo, ele é bem a cara da cidade.

Folha Online - Você trabalha em cinema, teatro e TV. Tem um veículo preferido? Qual é a sensação de transitar entre esses meios?
Julia - Eu me sinto bem sortuda em poder trabalhar em todos os veículos. Mas eu me sinto muito em casa no teatro. Eu sei que aqui é o lugar em que eu me preparo realmente, onde eu cresço, me sinto trabalhando, colocando a mão na massa. Acho que o teatro é o ofício do ator, o cinema é o ofício do diretor, a televisão é o ofício de toda uma empresa --tem milhares de questões que vão além do trabalho do ator, você não precisa nem ser tão incrivelmente bom para ser um ator de televisão. Você tem que ter carisma, tem que ser bonito... Basicamente eu sou uma atriz que tem a sorte de fazer todas essas coisas, mas eu me sinto mais uma atriz de teatro. Faço menos teatro do que eu gostaria. O problema é que é muito difícil. Eu tenho família, tenho filho pequeno, é duro fazer tudo isso e ainda assim dar conta de ser mãe, mulher, dona de casa.

Folha Online - Você acha que um ator mais conhecido leva mais gente ao teatro?
Julia - Eventualmente sim. Obviamente sim. Mas se você for pensar, por exemplo, no Paulo Autran, ele fez televisão, mas fez a carreira dele no teatro. As pessoas iam vê-lo, não porque era o Paulo Autran da televisão, mas porque era o Paulo Autran do teatro. Claro que era outra época, em que os teatros tinham outra função na vida das pessoas, elas tinham a curiosidade de ver grandes textos. Hoje em dia o teatro vive meio aos trancos e barrancos. Há muitas outras coisas a se fazer do que ir ao teatro.

Crédito: Divulgação

Folha Online - Mas, como uma atriz conhecida, você acha que isso facilita esse "fazer teatro no Brasil"?
Julia - Acho que facilita na medida em que você é recebido em alguma empresa. Mas isso não quer dizer que eles vão te patrocinar. Acho que, por exemplo, "Maria Stuart" as pessoas vão ver, não porque eu estou fazendo, mas porque é um texto clássico. A gente não pode tirar o mérito do produto. Não tenho nada contra peças comerciais bacanas, mas tem muitas que são uma porcaria, feitas para ganhar uma grana. No teatro, já que é tão difícil, vale a pena você dar ao público algo que realmente o transforme de alguma forma. Claro que uma comédia, você rir, sair desopilado, é bacana, mas tem que ter alguma coisa a mais nessa comédia. Acho que a gente tem que fazer o público almejar coisas melhores. Pode ser meio utópico, mas eu tenho essa sensação com o teatro.

Folha Online - Você está com outros projetos agora?
Julia - Eu estou com um filme pra lançar até o final do ano, chamado "Do Começo ao Fim", com texto e direção do Aluizio Abranches --que dirigiu "Um Copo de Cólera" e "As Três Marias". É um filme difícil, que trata de dois assuntos bem cabeludos, homossexualidade e incesto. Aí eu vou com a peça provavelmente até o final do ano. E ano que vem não sei o que vai acontecer, tenho outros projetos de teatro e talvez volte o seriado "Tudo Novo de Novo", que foi bem, mas vai depender um pouco dos horários... Na verdade, eu ia fazer a novela do Manoel Carlos ["Viver a Vida"], mas por conta do "Tudo Novo de Novo" eu saí. O que, por outro lado, me propiciou continuar com a peça. Porque a novela do Maneco a gente tem que fazer só a novela: não tem horário ou os horários são muito loucos. Acho que eu dei sorte de continuar o caminho da peça, porque tem que ter tempo pra fazer.

Informe-se sobre o evento

Leia mais em Teatro

Leia mais no Guia da Folha Online

Livraria

Duração: 180 minutos. Classificação etária: 12 anos.
As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas

Ver mais