Distante da pieguice, drama de 'Félicité' alcança patamar de excelência




Em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, na África Central, uma cantora de bar se empenha em conseguir dinheiro para custear uma cirurgia para o filho de 16 anos, que havia acabado de sofrer um acidente de moto.

Uma leitura superficial pode empurrar "Félicité" para a vala das produções de um suposto cinema de arte que explora a miséria humana.

Vencedor do prêmio do júri no último Festival de Berlim, o filme do franco-senegalês Alain Gomis escapa a classificações como essa. As sublimes passagens musicais elevam o drama a um patamar de excelência, distante da pieguice e da autocomiseração.


O diretor introduz a Orquestra Sinfônica de Kinshasa como um suave contraponto à trama. Mas é a congolesa Véro Beya Mputu, no papel da mãe, quem nos arrebata como atriz e como cantora. A câmera de Gomis está sempre muito perto dos personagens, especialmente de Félicité (Véro).

É, no entanto, uma proximidade sorrateira. A potência da personagem está justamente na constatação de que não se pode decifrá-la.

A riqueza do filme está no que se vê e, em igual medida, no que se ouve. O trânsito caótico e o perturbador comércio de rua compõem o barulho de Kinshasa, a mesma cidade que acolhe o silêncio e a música da protagonista.

É esse amálgama que ilumina "Félicité", um dos filmes imperdíveis desta Mostra. Pouco conhecido no Brasil, Alain Gomis, 45, é um diretor que merece nossa atenção.

Veja salas e horários de exibição.

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