Pouco sutil, novo filme de Eliane Caffé usa o poder do coletivo
Em 'Filhos do Mangue', diretora retrata violências e abusos em comunidade no Rio Grande do Norte
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A diretora Eliane Caffé gosta de borrar as fronteiras entre ficção e realidade. O seu filme mais conhecido, "Era o Hotel Cambridge", de 2016, conta a história dos moradores do abandonado edifício Cambridge, no centro de São Paulo. A dinâmica do longa se dá na convivência entre os sem-teto e um grupo de refugiados recém-chegados ao Brasil.
O trunfo do filme, a mistura de habitantes reais, que interpretam a si mesmos, com atores profissionais, é repetido em seu novo longa, "Filhos do Mangue". Agora longe do centro da metrópole, a história se desenrola no mangue do Rio Grande do Norte, na comunidade indígena e ribeirinha da Barra do Cunhaú.
Os primeiros minutos já dão o tom do filme. Pedro Chão, vivido pelo ator Felipe Camargo, perde a memória. Ele está cercado por integrantes da comunidade de pescadores locais, que o interrogam sobre dinheiro que ele roubou. "Você se chama Pedro Chão, mas devia se chamar Pedro Cão, fio do cão", brada uma das inquisidoras —e mulher dele, papel da atriz Titina Medeiros.
A interrogação de Pedro Chão, amarrado, é desordenada, cheia de berros e de intervenções. Lembra uma cena de teatro na construção, principalmente ao descambar para uma discussão sobre representatividade. Nada disso é leviano ou incômodo —é construção da boa história contada por Caffé— em que esse jogo do grupo é parte da narrativa.
Pedro Chão assiste, atônito, ao caos. A memória que falta ao protagonista, e aparece em flashbacks, é a de seu passado criminoso e vil. Ele vivia às custas da exploração sexual de mulheres e de pescadores da região. Além disso, agrediu sua mulher rotineiramente.
A agressão de Pedro Chão não é mero detalhe de construção de um personagem machão, mas força motriz para o ponto mais alto —e menos sutil— do filme de Caffé.
Por causa da violência sofrida pela mulher dele, as habitantes da comunidade dão seus depoimentos. Em roda, consolando a mulher de Pedro Chão, elas desabafam.
"Filhos do Mangue" é, entre outras coisas, um filme sobre o plural. Falta sutileza, mas é louvável ver a forma acompanhar também o enredo.
Filhos do Mangue
Dias 26, às 20h45 (Espaço Augusta 2); e 28, às 13h (Cinesystem Frei Caneca 6)