Fresta tem potencial, mas falta coerência ao menu
Restaurante exige malabarismo do cliente para montar refeição com bom custo-benefício
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O primeiro item do cardápio do Fresta, em Pinheiros, deixa dúvida. Está lá: Pão de fermentação natural (R$ 18). Barato para um pão inteiro, caro para uma fatia. E, claro, o cardápio se refere à fatia. Você decide que não vai pedir. Até porque, se quiser um pouco de azeite para acompanhar, vai desembolsar mais R$ 8.
Então você pula este e segue para os outros itens. E descobre que apenas duas opções já vêm com algum carboidrato: a tábua de queijos (R$ 72) e a pissaladière (uma massa folhada com cebola caramelizada, tomates confitados e anchova; R$ 47).
A tábua de queijos, na verdade, é uma minitábua. E o pão que a acompanha, na verdade, é meio pão. Se estiver acompanhado, você se obriga a pedir uma fatia extra —isso mesmo, aquela de R$ 18.
A proposta da casa segue a dinâmica cada vez mais comum de compartilhar pratos. A ideia é pedir vários e provar um pouco de tudo, como num menu-degustação em que o cliente decide o que será servido.
Provar vários sabores e texturas é uma ótima ideia. Mas traz o desafio de se montar uma sequência satisfatória sem saber o que exatamente vai chegar na mesa. Além disso, fica mais difícil controlar os gastos. Ainda mais num restaurante cujas opções são saborosas, mas pouco substanciosas.
O cardápio se divide em dois: "do nosso bar" e "da nossa cozinha". Além dos queijos com meio pão, na primeira parte tem uma porção de ovos de codorna com vinagre de dashi (R$ 26), outra de salame (R$ 38), um gostoso caldinho de siri (R$ 32) e legumes marinados (R$ 39).
Este último vem com pimentão vermelho assado, jiló tostado —em que o sabor de aceto balsâmico ganha excesso de protagonismo—, tomates-cereja sem pele com uma folhinha de manjericão em cima de cada um, e manteiga. Dá um certo desânimo. E, de novo, você se obriga a pedir uma fatia de pão —de dezoito reais.
Para tentar escapar dele, a parte do cardápio que oferece opções com mais jeito de restaurante do que de bar traz o pissaladière. Uma agradável surpresa de texturas e sabores. Uma primeira pista de que o potencial da chef Carol Albuquerque está muito à frente do desequilíbrio do cardápio.
A pancetta (R$ 56) confirma essa sensação. Excelente, é servida num delicioso caldo oriental e com legumes crus marinados. Faz pensar em como a experiência poderia ser ainda mais prazerosa se naquele caldo tivessem mergulhado uma generosa porção de udon.
A única sobremesa (R$ 36) mescla chocolate, amendoim, caramelo salgado e sorvete de baunilha. Com tantos ingredientes fortes, surpreendeu pelo equilíbrio e leveza. Vale provar cada camada separadamente e depois no conjunto da obra.
O minimalismo do cardápio se espelha no ambiente. Mesas simples, guardanapos de papel e nada de decoração, num pequeno salão aberto para a calçada. O que nos dias de frio pode gerar incômodo.
No fim, fica a impressão de que alguns ajustes necessários no ambiente e no cardápio podem transformar o Fresta em um restaurante de excelência.