Musical 'Wicked' reestreia nos palcos de SP refletindo sobre bullying e corrupção política
Myra Ruiz e Fabi Bang retomam os papéis de Elphaba e Glinda no sucesso da Broadway
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Quando estreou no Brasil, em 2016, "Wicked" foi um dos maiores fenômenos do mercado musical nacional, com caravanas de todo o país se organizando para tentar assistir a uma das sessões desta que é também uma das principais produções da Broadway. Nos Estados Unidos, a obra está em cartaz há mais de 20 anos e concorre à vaga de musical americano mais longevo nos palcos, perdendo apenas para "Chicago".
Com uma nova montagem prevista para estrear no palco do Teatro Santander, no bairro paulistano da Vila Olímpia, nesta quinta, dia 9, o espetáculo pode repetir o fenômeno. Os ingressos para a estreia se esgotaram em menos de 24 horas, e a temporada foi prorrogada até o final de junho.
"As pessoas têm uma relação com esse musical que é inexplicável. Ele toca em lugares que são muito delicados, e acho que todo mundo se sente representado, além das músicas serem incríveis", diz a atriz Myra Ruiz, que estrelou a montagem de 2016 e volta agora para a nova produção ao lado da parceira de cena Fabi Bang.
Ruiz e Bang retornam a seus papéis como as bruxas Elphaba e Glinda, respectivamente, para narrar a história que precede os acontecimentos do clássico "O Mágico de Oz", isto é, antes da chegada da jovem Dorothy ao lugar.
Na montagem, Elphaba é uma jovem preterida pelo pai por ter a pele verde e por ser fruto de um caso extraconjugal de sua mãe. Quando chega à universidade, Elphaba é recebida de forma hostil e acaba como colega de quarto da garota mais popular dali, Glinda.
A dupla desenvolve uma relação que, com a interferência dos moradores da cidade de Oz, se deteriora. A disputa faz com que Elphaba se torne a Bruxa Má do Oeste.
"O musical trabalha nessa chave da amizade inesperada entre as duas e em como uma apoia a outra, como se ajudam. É um pouco o que acontece aqui nos bastidores. Nós nos tornamos muito amigas e desenvolvemos essa relação que transparece na peça", diz Fabi Bang, que ganhou um prêmio Bibi Ferreira por sua primeira interpretação de Glinda.
A amizade encontra abalos também quando a dupla se vê apaixonada pelo mesmo rapaz, Fyiero, e dividida no apoio político ao mágico que governa Oz, interpretados, respectivamente, por Tiago Barbosa e Marcelo Medici.
Ator que despontou no teatro musical na pele de Simba, protagonista de "O Rei Leão", Barbosa construiu carreira de sucesso na Espanha, e é um dos primeiros atores negros a dar vida ao personagem.
"No Brasil, com a população majoritariamente preta, isso não pode ser uma questão", ele afirma. "Se fosse por isso, eu não teria topado, mas me convidaram porque acham que meu trabalho está à altura da montagem."
Já Medici vê uma série de acertos no que diz respeito aos avanços na escalação de elenco, como o fato de uma personagem cisgênero, Madame Morrisson, ser interpretada por uma atriz trans, Diva Menner.
Na pele do corrupto Mágico de Oz, Medici vê em "Wicked" um caminho para a retomada do bom relacionamento entre o público e os artistas, deteriorado nos últimos anos. "Antunes Filho dizia que queria que o teatro tivesse o mesmo efeito de um show de rock. Esse musical tem, e essas duas —Fabi e Myra— são estrelas de rock para esse público que lota as sessões desde 2016."
De forma distinta do que na versão de 2016, a nova montagem de "Wicked" não é uma réplica fidedigna à montagem da Broadway. Embora as músicas e o texto sejam os mesmos, o cenário, o figurino e as marcas são diferentes. O país também mudou.
É só olhar em volta e você vai encontrar relações entre a política brasileira e a relação de despotismo do Mágico, a figura autoritária e a forma como os aldeões estão cegos —tudo isso encontra ecos na atualidade", afirma Ruiz.