Gilberto Gil faz dois shows especiais com orquestra; leia entrevista

Um dos nomes mais fortes da música nacional em seis décadas, Gilberto Gil mostra seu "Concerto de Cordas e Máquinas de Ritmo" ao lado da Orquestra Sinfônica da Bahia, nesta sexta-feira (dia 24) e neste sábado (25), no Teatro Alfa (zona sul de São Paulo).

Sobre o show, o baiano diz: "É um recanto particular, diferente do 'popão' das vibrações elétricas". Assistido por talentos como o violoncelista Jaques Morelenbaum, Gil faz brilhar, em novos arranjos, alguns de seus velhos clássicos, como "Expresso 2222".

O "Guia Folha" conversou com o compositor por telefone. Confira a seguir.

Crédito: Jean-Christophe Magnenet - 12.jul.12 /France Presse Gilberto Gil (foto) apresenta espetáculo com a Orquestra Sinfônica da Bahia nos dias 24 e 25/8 no Teatro Alfa (zona sul de São Paulo)
Gilberto Gil (foto) se apresenta com a Orquestra Sinfônica da Bahia nos dias 24 e 25/8 no Teatro Alfa (zona sul)


ENTREVISTA COM GILBERTO GIL

Guia Folha - Na última vez em que te vi, na Virada Cultural, fiquei impressionado com sua energia.
Gilberto Gil - Eu gosto. É a chamada pulsação elétrica, mais vibrante, com as rítmicas coletivas e populares que emanam das pistas. Eu gosto dessas coisas. Entre as décadas de 1970 e 1990 meus discos foram todos assim, com fragmentos de rock, funk, reggae, baião, samba.

O que podemos esperar dessa apresentação com a Orquestra Sinfônica da Bahia?
É uma coisa diferente, resultado de uma acumulação particularizada. Começou com o "Gil Luminoso" [disco de 2006], um trabalho com canções intimistas que tinham sido propostas pelo poeta e artista plástico Bené Fonteles. Depois chamei o Jaquinho Morelenbaum para juntar o violoncelo dele a esse conceito. Agora cheguei no quarto estágio com as máquinas de ritmo. Com instrumentos clássicos. É um recanto um pouco mais particular. Diferente desse mundo "popão" que eu trabalhei com as bandas vibrantes elétricas.

Tem algum rearranjo que surpreenda mais o público?
A releitura de "Juazeiro", do Luiz Gonzaga, o público gosta muito. "Up from the Skies", do [Jimi] Hendrix, também. O público acha curioso.

Como é olhar para trás e ver esse caminho?
É tudo bom. Já fui menino. Depois adolescente, jovem adulto, adulto maduro. Agora sou homem velho. [risos]

Mas com alma de menino, não?
Sim, gosto de me considerar um velho infante.

Tom Zé está lançando um disco com convidados da nova e até da novíssima geração. Você acompanha a produção musical contemporânea?
É um disco muito interessante. Mas, para mim, o que marca esse disco não é nem a participação dos jovens, mas a abrangência extraordinária do espectro musical de Tom Zé, os momentos iniciais da formação dele. As participações marcam uma afeição, um respeito e um tributo que esses jovens prestam ao decanato dele.

O que te instiga musicalmente?
Existe um procedimento natural. Em outubro e novembro vou aos Estados Unidos com um projeto chamado "Fé na Festa", de música nordestina junina. O universo gonzaguiano. No ano que vem, não sei, vamos ver... Acho que retomar um pouco o "concerto de cordas" e já pensar em um novo projeto.

O professor Pasquale Cipro Neto escreveu uma coluna dizendo que "a língua portuguesa deve muito a Gilberto Gil". O que te inspira liricamente?
Eu comecei a ler na infância, estimulado pela família. Minha mãe e minha avó professoras primárias, pai médico, homem interessado nas luzes, no Iluminismo, nessas coisas todas. Logo menino me puseram nas mãos uma coleção de 18 livros chamada "Tesouro da Juventude", depois uma enciclopédia, depois uma coleção inteira do Monteiro Lobato. Quando fui fazer o ginásio na Bahia, vieram os livros de Jorge Amado, Gilberto Freire. Veio tudo! Romances e ensaios.

Depois que me encontro com Caetano, esses estímulos se intensificam. Porque ele é um rapaz interessadíssimo por essas coisas. Uma espécie de mentor e curador. Ele teve vários papeis na minha vida. Meu interesse pelo cinema que ele despertou mais profundamente. Godard, Antonioni, Fellini. Foi se acumulando um gosto pelas narrativas, pelos tons mais dramáticos e poéticos. Acho que consegui um domínio razoável.

Você está sendo modesto.
Não estou não. Até hoje esqueço como se escreve uma palavra. Frequentemente preciso apurar um verbete no dicionário. Eu sou de uma geração que tem um mínimo trato com a língua. Eu, Chico, Caetano, Edu Lobo, Vandré, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, esse povo todo gosta de escrever, de poetar.

Se tivesse o poder de trazer de volta um artista para uma parceria, quem seria?
Assim, sei lá. [pensa] O Tom. Tom Jobim. Pode anotar!

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