Rafael Primot fala da "divertida tragédia" encenada com Marjorie Estiano

Você se lembra de todas as pessoas que conheceu há um ano? Em "Inverno da Luz Vermelha", David (André Frateschi) e Matheus (Rafael Primot) conhecem a prostituta Christine (Marjorie Estiano) enquanto passam férias em Amsterdã.

Um ano depois, já em São Paulo, a visita inesperada da garota mostra como esse envolvimento casual --que durou um único dia-- mexeu de forma bem diferente com cada um dos dois. David nem se lembra de Christine. Matheus é apaixonado por ela. "Esse sentimento o mantém feliz e esperançoso, e ele redescobre a vontade de continuar vivendo", conta Rafael Primot ao Guia.

Mas o espetáculo não mostra só o drama de amar e não ser correspondido. Também há muita música --o "repertório" inclui "Creep" (Radiohead) e "Strani Amore" (Renato Russo)-- e momentos divertidíssimos, principalmente quando o tímido Matheus começa a falar de vermífugos para "escapar" das investidas de Christine.

Abaixo, veja o que Rafael Primot --que ganhou o prêmio Shell de melhor autor por "O Livro dos Monstros Guardados"-- diz sobre amor, ser bonzinho ou malvado, e a vertente divertida da peça, que fica em cartaz no teatro Faap (centro de São Paulo) até 26 de setembro.

Crédito: Lenise Pinheiro/Folhapress Rafael Primot (à frente) encena a peça "Inverno da Luz Vermelha" com Marjorie Estiano e Andre Frateschi

Guia Folha - Você acha que o amor sempre pode tirar uma pessoa do "fundo do poço"?
Rafael Primot - O personagem que eu faço (Matheus) está deprimido e passando por um momento muito difícil de sua vida. Ele é o alter ego do autor Adam Rapp, que escreveu o espetáculo na época em que passava por um drama parecido. Depois que ele conhece uma garota que seu amigo lhe apresenta, Matheus redescobre a vontade de continuar vivendo e percebe o quanto o amor pode salvar. Ele se apaixona perdidamente por ela e, apesar de não superar esta paixão, é esse mesmo sentimento que o mantém feliz e esperançoso, com vontade de ficar bem e de continuar com sua vida e sua arte, sua escrita.

Guia - Você acha que é sempre ruim ser muito bonzinho ou muito malvado? O bom é sempre equilibrar os dois lados?
Primot - Ninguém é totalmente bonzinho ou totalmente malvado, todo ser humano tem esses sentimentos dentro de si e em dosagens distintas. A bondade e a maldade têm relação com uma série de coisas, têm a ver com a cultura em que a pessoa se insere, com a visão do outro, com a legislação de seu país... equilíbrio sempre, em todos os sentidos. Sentimentos, vícios, dores, amores, isso é o que o homem busca, mas nem sempre conseguimos atingir esse ideal.

Guia - Os trechos engraçados da peça são fundamentais pra ganhar o público e fazê-los pensar sobre o drama?
Primot - Nós sequer tínhamos a dimensão de que a peça era tão engraçada. Algumas críticas de Nova York apontavam a montagem como "hilariante", mas realmente não tínhamos esta noção concreta até o dia da estreia. Quando a cortina se abriu e tivemos a troca com o público, começamos a perceber o quão engraçada era aquela tragédia amorosa! O que sempre ouvimos do público é que eles são conduzidos por caminhos divertidos e então, no segundo ato, o peso da tragédia acaba sendo maior e mais doloroso, portanto a peça não é esquecida tão cedo, pelo menos não na pizzaria ou no jantar, e não poderia ser um elogio melhor de ser ouvido. Nossa função como artistas acaba sendo cumprida.

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