Um ator, um monólogo, um palco desnudo, uma história memorialista. Assim poderia ser apresentado “Juvenal, Pita e o Velocípede”, que marca a estreia da carioca Pandorga Companhia de Teatro em São Paulo, fazendo muito adulto ficar descrente no interesse da plateia infantil pelo espetáculo.
Engana-se quem comprar tal ideia. Ao fim da peça dirigida por Cadu Cinelli, de "Os Tapetes Contadores de Histórias", com texto de Cleiton Echeveste, vemos as crianças, até as bem pequenas, totalmente entregues ao jogo teatral liderado com vigor pelo ator Eduardo Almeida. Algumas perguntam: “A Pita não vem mesmo?”.
Na trama, o menino Juvenal empresta o corpo de um homem já crescido, talvez lá pelos seus 35 anos, engravatado e preocupado com as mensagens de seu celular. À espera de Godot (quer dizer, de Pita), aos poucos, ele se despe de sua pele de adulto (o terno e a gravata, adereços da brincadeira) para deixar à mostra as memórias de infância tatuadas no corpo.
É a iluminação de Ricardo Lyra Jr. que leva a plateia aos recônditos do imaginário de Juvenal menino, que certo dia encontra Pita num pé de cajueiro, também desenhado numa luz de potência narradora, um segundo personagem a jogar com o ator em cena. Sem dúvida, uma das concepções mais incríveis a iluminar os palcos paulistanos vespertinos nos últimos tempos.
Para contar essa história, o ator mergulhou em sua própria infância, num texto de poesia sem excessos nem rebuscamentos. Num espetáculo muito consciente do uso de todos os elementos visuais narrativos, com ritmo contagiante, o grupo nos leva a uma inesquecível viagem ao território da infância.
Avaliação: ótimo
Indicação da crítica: a partir de cinco anos
Sesc Consolação - teatro Anchieta - R. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, tel. 3234-3000. 280 lugares. Sáb.: 11h. Até 12/5. 60 min. Livre. Ingresso: R$ 5 a R$ 17. Menores de 12 anos: grátis
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