Anelis Assumpção lança disco de vinil em SP; leia entrevista

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Cantora Anelis Assumpção (foto) lança compacto na terça-feira (24), no Bourbon Street Music Club (zona sul de São Paulo)

A cantora Anelis Assumpção se apresenta no Bourbon Street Music Club (zona sul de São Paulo) nesta terça-feira (24).

O show integra a série Para Elas por Elas, que já trouxe Céu e Mariana Aydar, e marca o lançamento do novo compacto da paulistana, um disco em vinil de 45 rotações com a música "Not Falling".

Anelis vê também um recomeço para o disco de estreia, "Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa", de 2011. "Fiz poucos shows depois do lançamento por causa da gravidez [é mãe da menina Rubi, 10, que canta no álbum, e do garoto Benedito, de sete meses]. Para mim, o disco é completamente novo".

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Filha de Itamar Assumpção (1949-2003), ícone da vanguarda paulista no início dos anos 1980, ela se diz feliz pela lembrança do trabalho do pai, que recentemente ganhou força.

Nomes como Kiko Dinucci e o grupo Isca de Polícia, que acompanhava Itamar, entre outros, vêm recheando de tributos a programação paulistana.

Anelis aponta, entretanto, o que vê como uma confusão conceitual sobre a verdadeira vanguarda do pai: muito mais relacionada à forma, na independência total do mercado, do que à matéria, onde o músico se caracterizou por uma linguagem popular e acessível.

"Os caras iam colar lambe-lambe na rua da Consolação para ter alguém vendo o show. Nosso independente de hoje é completamente dependente de tudo."

Informe-se sobre o show


Crédito: Patricia Stavis - 14.jul.10/Folhapress Anelis Assumpção (foto) se apresenta nesta terça (24) no Bourbon Street Music Club (zona sul de São Paulo)
Anelis Assumpção (foto) se apresenta nesta terça (24) no Bourbon Street Music Club (zona sul de São Paulo)

CONFIRA ENTREVISTA:

Guia Folha - Fale sobre esse novo compacto, "Not Falling".
Anelis Assumpção - É um disco que fiz neste ano com o Giba, um amigo e compositor que sempre me manda coisas incríveis. Ele me mandou essa música quando eu estava grávida. Fiz pouquíssimos shows depois do lançamento do meu disco [de estreia, "Sou Suspeita, Estou Sujeita, Não Sou Santa"]. Para mim, ele é completamente novo. Achei que lançar o compacto podia ser um bom jeito de retomar o assunto.

E por que a opção por esse formato?
Sou muito influenciada por reggae, dub, ragga, ska, esses gêneros jamaicanos, e é um trabalho nessa linha. Quem cultiva essas coisas sabe o valor que têm. Eu queria mesmo era fazer com mais músicas. Ficou muita coisa de fora do álbum.

Como é ouvir sua voz no compacto?
É muito massa. O LP é uma mídia muito mais gostosa de ouvir, mais prazerosa. O CD devia ter o tamanho de um compacto. Graficamente fica no meio do caminho. Dá um desânimo...

Seu disco tem 17 músicas e, ainda assim, várias ficaram de fora?
Todo mundo queria menos músicas, diziam que eu estava maluca. Mas o que eu ia fazer com elas depois? São canções que faziam sentido em conjunto. A gente vive uma época de imediatismo em que as coisas têm que ser diretas, curtas. Eu fiz um disco com uma história, e não músicas para um disco. Só faria sentido exatamente assim, como foi. Mas, ainda assim, ficaram quatro de fora.

Que tipo de bagagem é importante para te entender musicalmente?
Fela Kuti é um cara que tenho ouvido bastante. Mergulhei nesse universo do afrobeat. Porque era mais do que um músico, mas uma figura: espetáculo, dançarinas, pinturas, toda uma expressão artística. O que mais ouço é reggae. Mas dá para me entender ouvindo João Gilberto, "rhythm & blues", gente como a Erikah Badul, uma artista que também tem uma grande preocupação visual. Eu vim disso, né? Meu pai é um cara que colocou o teatro dentro da sua música. Acabo me ligando em figuras assim.

E o que tem ouvido hoje?
Um disco chamado "Escolástica", do Adão Dãxalebaradã, que faleceu há um tempo depois de ser gravado pela primeira vez e pelo Antonio Pinto. Também o Kiko Dinucci, principalmente no "Metá Metá". Esse disco é demais! O "Bahia Fantástica", do Rodrigo Campos, também. Ele toca um violão absurdo, extremamente musical. E o "Mafaro", do André Abujamra.

Sinto no Rodrigo Campos uma pegada letrista mais ligada à narração do que à introspecção. Você se vê assim também?
Acho que sim. Gosto das histórias. Sou muito literal. É difícil, para mim, escrever com muitas metáforas, sabe? Eu busco sentidos. É como caminho poeticamente.

Você sente que há um resgate em andamento das heranças de Itamar Assumpção e da vanguarda paulista em geral?
Sim, e vejo de forma positiva. Só não sei se chamaria de resgate, porque não é uma coisa que estava sumida. Meu pai não está porque ele morreu, mas eles estão todos aí. Além disso, me questiono: se meu pai fosse vivo, a música que ele estaria fazendo hoje ainda seria "de vanguarda"? O Gil e o Caetano não são tropicalistas até hoje. É importante compreender que essas pessoas criaram um movimento que significou muita coisa, mas elas não ficaram presas a ele.

O que acha da avaliação de vanguarda atribuída a seu pai?
A obra toda dele é extremamente compreensível e popular. O adjetivo "vanguarda" é muito interessante por um lado, mas por outro é ruim, porque parece selecionar aquilo para iniciados. Fica um papo meio Bienal, do tipo "Ah, você não entendeu essa música? Que pena!". Essa história pode ser mais leve.

Gostaria, também, que existisse um novo questionamento, mais ligado à vanguarda do artista independente, à frente de seu tempo. Nesse sentido de agir com independência, acho que o Kiko [Dinucci] é um cara que pode dar continuidade à verdadeira herança de meu pai. Até porque hoje todo mundo é independente, mas com patrocínio, com edital... Os caras eram independentes mesmo, iam colar lambe-lambe na rua da Consolação para ter alguém vendo o show à meia-noite, passavam madrugadas gravando porque o horário de dia no estúdio era mais caro. Nosso independente de hoje é completamente dependente de tudo. Seria mais legal retomar a postura independente da vanguarda paulista do que esse significado de música inteligente para pessoas inteligentes.

Quais seus planos?
Quero divulgar esse show, ganhar outros lugares do Brasil, mostrar meu trabalho. A gente dedica muito tempo e energia para um disco e, agora que o bebê cresceu um pouquinho, quero mostrar essa música para quem quiser ouvir. De resto, seguir em frente, um tijolinho sobre o outro.

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