Baladas de SP funcionam na madrugada com pessoas sentadas, DJ e flerte por bilhetinho

Casas noturnas se adaptam às normas da pandemia e põem mesas na pista

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São Paulo

O DJ toca música alta e os letreiros neon piscam quando uma cliente se anima ao som de Pabllo Vittar e se levanta da cadeira. Em uma fração de segundos, um segurança surge e pede para que ela volte a se sentar. É mais uma noite nas baladas de São Paulo durante a pandemia.

A cena se repete em diversas casas noturnas da cidade, já que muitas voltaram a funcionar desde 17 de agosto, quando o governo permitiu que estabelecimentos fiquem abertos madrugada adentro e sem limite de capacidade —mas com pessoas sempre sentadas e usando máscara.

A notícia agradou as baladas, que foram umas das primeiras atividades paralisadas por causa da Covid-19, já que tudo nelas ia contra o bom senso pandêmico: a aglomeração, os desconhecidos em local fechado, o flerte, o beijo, os copos compartilhados. Agora, liberadas a manterem suas portas abertas até altas horas, várias buscam se adaptar ao momento e se esforçam a convencer o público a voltar, mesmo que sentado.

O Whiplash Bar, fechado desde novembro do ano passado, por exemplo, resolveu retomar o funcionamento na quarta, dia 1º de setembro.

Para isso, a casa especializada em música ao vivo precisará convencer o público de que pode ser divertido assistir a shows de rock, R&B ou jazz sem sair do lugar. “Claro que perde um pouco, mas as pessoas estão com vontade de sair”, acredita Alessandro Cardoni, sócio do local.

Saber animar os clientes sem empolgá-los demais, aliás, é o novo desafio dos DJs na pandemia noturna. Felipe Rosa, que toca em quatro casas semanalmente, conta que se apresentar para um público sentado é desafiador. “O principal termômetro é observar se os pés estão batendo no ritmo da música” comenta o DJ, que precisa dosar a energia para não incentivar os presentes a se levantar das mesas.

No Espaço Barra Funda, quem chega tem a sua temperatura medida logo na entrada, onde bombeiros explicam o novo protocolo da noite paulistana —é preciso manter distanciamento de 1,5 metro, ficar sempre sentado, usar máscara quando não estiver comendo e bebendo e higienizar as mãos com frequência.

Dentro da casa noturna, as medidas são relembradas a cada uma hora no microfone. “Quem frequenta ainda está entendendo como é ir a um local desses”, comenta Caio Neiva, sócio do espaço.

Nesta quinta, dia 26, por exemplo, uma banda de forró anunciava no palco do Nossacasa Confraria das Ideias, na Vila Madalena, que, apesar do ritmo, não era permitido dançar coladinho no salão.

Se alguém se animava mais do que o permitido e tentava ficar de pé, funcionários e clientes faziam com que a pessoa voltasse à cadeira —trabalho que ficava cada vez mais difícil à medida que a noite seguia.

Essas novas regras reformularam até o conceito da noite. Afinal, já não há mais como esbarrar em desconhecidos, ficar grudado de suor alheio e pedir licença para uma multidão até chegar ao banheiro.

O novo normal de mesas, máscaras e música tranquila cria um ambiente mais familiar e novos códigos até na hora de paquerar. Na Tokyo, balada na região central, Luiza Mattozo comenta que, apesar do medo do coronavírus, a sedução continua —diferente, mas viva. “Venho para flertar. Quando vejo alguém interessante na outra mesa, mando um bilhete pelo garçom”, diz a estudante de 20 anos.

Mas o público mudou. “Passamos a sempre ter uma mesa de pessoas grisalhas com seus filhos pequenos, muito diferente dos baladeiros de antigamente”, afirma Daniel Rodrigues, gerente da casa.

Só que as orientações sanitárias não são adotadas em todos os eventos, é claro —e pessoas alcoolizadas não são as mais conhecidas por seguir normas e acatar proibições.

A festa “Buraco”, de música eletrônica, teve uma edição em 21 de agosto, um ano e meio depois da última. Realizada em um estacionamento no centro da capital, a divulgação dizia que o local teria um número reduzido de pessoas —mas o produtor Guilherme Casciano se desculpou depois nas redes sociais e confessou que a organização perdeu o controle e deixou mais gente entrar do que seria permitido. Houve aglomeração, como se não existisse Covid.

“Diferentemente do que alguns acreditam, baladas não voltaram como antes”, reforça Junior Passini, sócio da Tokyo e dono também da Selva, na rua Augusta. Na verdade, médicos dizem que casas noturnas, bares e restaurantes devem ser evitados no momento, apesar de permitidos por governo e prefeitura. Encontros devem ocorrer preferencialmente entre pessoas que já tenham tomado todas as doses da vacina, privilegiando lugares abertos e ventilados.

Para, ainda assim, convencer o público a ir às festas, algumas casas pretendem exigir, na entrada, o passaporte da vacina, aplicativo que a prefeitura promete lançar na semana que vem e que mostra se a pessoa tomou o imunizante. O município diz que a cobrança do app será facultativa em bares e restaurantes.

Enquanto o serviço não é lançado, alguns lugares já pedem que o frequentador leve a carteira de vacinação contra a Covid-19 e mostre o documento na entrada. É o caso da Bubu Lounge Disco, que pede o comprovante original ou digitalizado a quem chega.

Cardoni, do Whiplash, ainda tem ressalvas em relação à medida. “Vejo com bons olhos termos um ambiente em que sabemos que todo mundo está vacinado”, diz. “Mas adotar isso como obrigatoriedade requer uma série de cuidados —e um deles é garantir que o aplicativo está mesmo funcionando corretamente.”

Colaborou João Perassolo

Festas comportadas

Espaço Barra Funda
R. Barra Funda, 630, Barra Funda. Qui., das 23h às 4h30 (grátis até 0h, R$ 10 depois); sex., das 22h às 4h30 (R$10 até 0h, R$ 20 depois); sáb., das 20h às 4h30 (R$20 até 22h, R$30 depois); dom., das 18h às 23h (grátis até 19h, R$ 10 até 21h, R$ 20 após 21h) e das 23h às 4h30 (grátis até 23h30, R$ 10 até 1h, R$ 20 após 1h). @espacobarrafunda


NossaCasa Confraria das Ideias
R. Mourato Coelho, 1.032, Vila Madalena. Ter. a sáb., das 17h às 5h; dom., das 16h às 23h. Entrada grátis até 23h, após R$ 10. @nossacasa.vilamadalena


Tokyo
R. Major Sertório, 110, Vila Buarque. Ter., qua. e qui., das 17h às 2h; sex., das 17h às 3h (grátis até as 19h, depois R$ 50); sáb., das 12h às 3h; e domingo, das 12h à 0h (grátis até as 14h, depois R$ 50). @tokyo.sp


Tunnel
R. dos Ingleses, 355, Bela Vista. Qui., das 19h à 0h; sex., das 19h às 2h; sáb., das 19h às 2h; e dom., das 16h às 23h (entrada custa R$ 10). @balada_tunnel


Whiplash Bar
R. Dr. Melo Alves 74, Jardins. Qua. e qui., das 19h30 à 1h30; sex. e sáb., das 19h30 às 3h (entrada de R$ 30 a R$ 50). @whiplash_bar