Cinemateca dá carta branca para Luis Fernando Verissimo escolher filmes de mostra em SP
Quando não é polêmico na escolha, escritor o é na defesa de suas preferência; veja programação
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Aos poucos, a Cinemateca Brasileira retoma seu lugar no cinema brasileiro. Primeiro, conseguiu reabrir e reativar seus setores vitais, de preservação e pesquisa. Em seguida, passou a atacar um setor não menos essencial, porém com frequência negligenciado pela instituição, e a promover mostras (como a excelente 1972 – 50 Anos Atrás). A partir desta sexta, dia 9, por fim, reativa o uso simultâneo de suas duas salas.
Antes, nesta quinta, 8, "Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington, inaugura com exibição ao ar livre a mostra gratuita Carta Branca a Luis Fernando Verissimo. Na sexta, o evento já passa para a sala Oscarito, a mais antiga da instituição. As escolhas do escritor gaúcho quase sempre seguirão uma linha de fascinante confrontação com o gosto mais difundido da crítica e da cinefilia.
Suas explicações interessam, por vezes, tanto quanto suas escolhas. A sugestão à exibição de "A Noite Americana", de François Truffaut, por exemplo, se faz acompanhar do comentário segundo o qual de todos os "ratos de cinemateca" que formaram a nouvelle vague, apenas Truffaut se estabeleceu "no ramo do cinema".
Dá para questionar a opinião, mas para quê? Mais vale a ocasião de reencontrar (ou encontrar) o filme que, afinal, gerou a ácida correspondência pública trocada por Godard e o autor do filme e uma briga que durou até a morte de Truffaut, em 1984. À parte isso, "A Noite Americana" ganhou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira de 1973.
"A Noite Americana" fecha a programação da mostra, no domingo, dia 11, às 16h. Antes, às 14h, o espectador poderá ver em tela grande "Janela Indiscreta", um dos principais filmes de Hitchcock nos Estados Unidos e que, por sinal, deve boa parte de sua reputação aos ratos de cinemateca da nouvelle vague.
E de "Janela Indiscreta" vale reter a observação de Veríssimo sobre a abertura do filme: "Numa única tomada, mostrando só objetos e fotos (...) ela nos diz quem é e o que faz do dono da casa e como foi o acidente. No fim da tomada a câmera sobre pela perna engessada de [James] Stewart e, quando enquadra o seu rosto, (...) já sabemos tudo que precisamos saber sobre ele e sobre a situação".
As sessões de sábado (10) permitem a redescoberta de dois filmes hoje um tanto laterais: às 14h entra a obra-prima "O Sol por Testemunha" (1960), de René Clement, está esquecido devido à sombra que o cinema dos Estados Unidos lançou sobre o cinema europeu. Traz Alain Delon, Maurice Ronet, Romy Schneider na notável adaptação do romance de Patrícia Highsmith, de cujo roteiro participou, aliás, Paul Gégauff, outro da grande geração de ratos da cinemateca.
Em seguida, às 16h15, vem a aventura colonial "Gunga Din" (1939), de George Stevens. Colonial, aqui, não é modo de dizer. Trata-se, para um destacamento de soldados britânicos, de combater um grupo de rebeldes indianos, naturalmente perversos e sanguinários, além de outros defeitos. Tire a ideologia fora e é um filme que ainda se pode ver.
Fecha a programação de sexta, às 20h, "Apocalypse Now" (1979), a grande saga de Francis Ford Coppola, adaptação livre do romance "O Coração das Trevas", de Joseph Conrad, que redundou numa das produções mais conturbadas da história.
Antes, a mostra reserva-se o direito de programar um filme surpresa. Por definição, não se sabe o que será. Mas não surpreenderia a ninguém se fosse um filme italiano, cinematografia muito a gosto de Verissimo, que coloca Mario Monicelli no alto de seu panteão pessoal (acima, mesmo de Fellini).
Para começar, no entanto, a sugestão de Verissimo é "Eu Tu Eles", o filme brasileiro desta quinta às 20h, em que se impõe certo espírito anárquico, bem encarnado por Regina Casé. É o filme pelo qual o escritor compra briga, ao escrever que "Não é uma falsificação do Nordeste como estão dizendo, sua beleza não está na exploração do exotismo fotogênico para exportação, mas na maneira como mostra a persistência, naquela paisagem, da consideração humana".
Quando não é polêmico na escolha, Veríssimo o é na defesa de suas preferências. Vale atentar a ambas.