Bexiga é endereço de grandes companhias de teatro e espaços culturais de memória afetiva
Região é reduto cultural marcado pela resistência, com locais como Teatro Oficina e Vila Itororó
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
3 meses por R$1,90
+ 6 de R$ 19,90 R$ 9,90
ou
Cancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Quem anda pelo Bexiga, no centro de São paulo, tem acesso a uma programação cultural completa, com exposições, shows, gastronomia e, especialmente, teatros.
Reduto de grandes companhias de teatro, a região viu alguns desses espaços não resistirem ao tempo, enquanto outros permaneceram de pé.
Um exemplo é o teatro Oficina, que está na região desde 1961, e que se prepara para estrear o espetáculo "O Bailado do Deus Morto" na próxima sexta, 3. Seu prédio, na rua Jaceguai, é marcado por uma parede de vidro em que a cidade invade o teatro e vice-versa. "O imediatamente fora, que é o Bexiga, importa e está sempre dentro", define Cafira Zoé, multiartista e integrante da associação do teatro.
Partindo de um teatro de encruzilhada, com artistas de diferentes formações, há um espaço que fica literalmente em uma encruzilhada: o Teatro do Incêndio.
Desde 2017, um imóvel de 1905 localizado no ponto entre as ruas Treze de Maio e Santo Antônio abriga a companhia. A casa, que é tombada, já sediou o Café Society e a boate Igrejinha, onde a cantora Maysa fez seu último show, e agora passa por reforma que inclui até um parklet.
Atualmente, o grupo realiza o projeto "Sou Encruzilhada, Sou Porta de Entrada, Sou Correnteza da Vida, Sou Esquina Cortada: Ave Bixiga!", uma combinação de residência artística e aulas de teatro para crianças e adolescentes que se transformará em escola cultural no ano que vem. "O projeto está relacionado com a gente estreitar o nosso olhar artístico para o bairro", diz Gabriela Monteiro, diretora de produção da companhia.
Seguindo para a rua dos Ingleses, há o Museu Memória do Bixiga, um espaço onde laços afetivos com o bairro são evidenciados. Aberto em abril de 1981, ele foi criado para exaltar a memória das pessoas que formaram a região.
Tim Ernani, que assumiu a direção do museu em 2019, tem como missão reaquecer a programação com novos projetos. O primeiro é o "Memória Negra do Bixiga", com objetos de dois pontos preponderantes dali: a Vai-Vai e a paróquia Nossa Senhora da Achiropita, que aparece representada pela Pastoral Afro, a primeira do Brasil, criada há 33 anos pelo Padre Toninho.
Já na área dedicada à escola de samba, é possível encontrar o caderno com a ata de sua criação, em 1959, o apito e cuíca de seu Livinho, um dos criadores do cordão carnavalesco que daria origem à Vai-Vai.
Todo o trabalho foi feito com a comunidade, com objetos trazidos por moradores. "Essa é a melhor forma de fazer as pessoas se interessarem pelo lugar e fazer com que ele seja delas", defende Ernani.
Criada em 2007 a partir das rodas de capoeira que aconteciam na praça da República, a Casa Mestre Ananias exibe a tradição popular não apenas do bairro, mas da cultura brasileira. A escolha da região não foi ao acaso, pois ali foi o primeiro local onde o Mestre Ananias morou quando chegou da Bahia, nos anos 1950. Rodrigo Minhoca, capoeirista e um dos fundadores do projeto, diz que enxergou a região como um ambiente fértil para trabalhar a capoeira.
"A gente construiu um campo de cultura popular que é aliado à sociedade, com a rotina de fazer festa, roda", explica Minhoca.
Além das rodas de capoeira, tradicionais às terças-feiras, as rodas de samba também marcam a programação do local, que inclui, ainda, projetos sociais para crianças e idosos.
Por fim, o Bexiga também abriga o novo Centro Cultural Vila Itororó, na rua Maestro Cardim, uma antiga vila residencial jamais finalizada, que acabou tombada como patrimônio histórico em 2002 e que foi inaugurada oficialmente como espaço cultural em setembro deste ano.
Higor Advenssude, gestor do centro cultural, reconhece que o local que não é convencional —e nem foi concebido para esse fim.
A programação destaca jovens artistas com projetos autorais e também os periféricos. Ela acontece em palcos não-convencionais, como o cinema ao ar livre às quintas na piscina, sexta-feira tem show no palco Éden, sábado a música na rua acompanha quem visita o local na noite a programação volta para a piscina, assim como no domingo. Há também programação no palco ruínas, onde foi construída e primeira casa da Vila. "Essa é uma característica da Vila, proporcionar esse lugar não convencional, de uma estranheza a princípio que se torna uma potência para quem está se apresentando e para o público", afirma Advenssude.
"Eu entendo o Bexiga como um lugar periférico no centro de São Paulo", diz. "A Vila Itororó sempre teve esse lugar periférico e a gente percebeu que aqui era um lugar de uma ocupação preta."
Roteiro cultural no Bexiga
Casa Mestre Ananias
O espaço retoma a programação com a 25ª Festa do Mestre, em memória de Ananias, que morreu em 2016. O evento atrai a comunidade da capoeira, com rodas de capoeira e samba, além de almoço.
r. Conselheiro Ramalho, 939. Dia 5/12, sábado, das 14h às 22h
Museu Memória do Bixiga
O centro cultural recebe a mostra "Memória Negra do Bixiga". Neste sábado (27), promove oficina gratuita de ritmo com a bateria 013.
r. dos ingleses, 118
Teatro do Incêndio
A companhia ensaia o espetáculo "Águas Queimam na Encruzilhada", que estreia em julho de 2022. Até lá, a agenda teatral está pausada, mas mantém a programação do projeto "Sou Encruzilhada, Sou Porta de Entrada, Sou Correnteza da Vida, Sou Esquina Cortada: Ave Bixiga!". Todo penúltimo domingo do mês, o parklet em frente ao teatro recebe rodas e conversas relacionadas ao samba. A que encerra o ano é sobre compositores.
r. treze de maio, 48
Teatro Oficina
"Paranoia", que marcou a reabertura do teatro, tem suas últimas sessões. Na sexta, dia 3/12, o espaço recebe a reestreia "O Bailado do Deus Morto".
r. Jaceguai, 520. "Paranoia" - Sex.(26) e sáb. (27), às 20h. Ingr.: R$50 em sympla.com.br. "O Bailado do Deus Morto" - Sex. a dom. (3 a 19/12), às 20h. Ingr.: R$60 em sympla.com.br
Vila Itororó
A peça "As Mulheres dos Cabelos Prateados", de Ave Terrena de Georgette Fadel, está na programação.
r. Maestro Cardim, 60
"As Mulheres dos Cabelos Prateados" - Sex. a dom., às 19h, no palco ruínas. Até 4/12. Grátis