Luísa Matsushita, do Cansei de Ser Sexy, fala sobre primeira exposição individual em SP
Artista, que integrou uma das bandas de maior sucesso no exterior, hoje pinta o cotidiano
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Em 2013, quando fazia a turnê de "Planta" com sua banda Cansei de Ser Sexy —que naquela época completava 10 anos e tinha a reputação de ser um dos grupos brasileiros mais conhecidos no exterior —a vocalista Lovefoxxx, nome de palco de Luísa Matsushita, decidiu que queria outra coisa para sua vida.
"Comecei a ficar muito mal, com crises de ansiedade que nunca tive antes. E aí teve um dia que eu percebi que precisava pintar." A descoberta foi estranha, segundo ela. Embora tivesse começado uma carreira como designer gráfica aos 19 anos, se aventurasse nos desenhos e estivesse rodeada de artistas em Nova York, onde morava, a pintura nunca havia feito parte de sua vida até então. Ela era uma cantora.
"Eu era reconhecida pela minha voz, usava umas roupas crop-top, uns shortinhos, e um dia pensei ‘gente, eu tô no palco pelada e as pessoas acham que eu sou uma cantora pelada. Eu não sou isso. Eu sou uma pessoa meio tímida, eu sou uma pintora’" ela conta, rindo. "Quando percebi isso eu entrei em choque."
Ela, então, avisou as colegas de banda que iria terminar os compromissos do disco e partir para dedicar seu tempo à pintura até que essa se tornasse sua atividade principal. Depois, se o grupo quisesse, até toparia voltar para o CSS, mas como um hobby. Uma década depois, e de volta a São Paulo, a sensação de Matsushita é a de que tudo o que ela queria aconteceu.
Nesta quinta, 31, ela inaugura a sua primeira exposição individual na Galeria Luisa Strina, que recebe uma dezena de obras feitas por ela ao longo deste ano. Em outubro, lança o primeiro trabalho do projeto musical Tum, criado com o namorado, Chuck Hipolitho. Em dezembro, reencontra no festival Primavera Sound as companheiras do Cansei de Ser Sexy para um show que comemora duas décadas da criação da banda.
Mas muita coisa veio antes. Em 2014 ela expôs desenhos na Califórnia e, no ano seguinte, partiu para uma residência artística na Amazônia. Em 2019, trocou sua casa em São Paulo por uma bem pequena, que ela construiu no litoral de Santa Catarina, e mergulhou na bioconstrução, na agro-floresta e no voluntariado.
O espaço físico para as telas era mínimo, os mosquitos que grudavam na tinta eram muitos, e Matsushita viu na construção 3D uma alternativa para continuar produzindo. "Eu fazia obras menores, em papel, mas a construção de espaços acabou sendo minha prática artística, uma forma de trabalhar a relação das cores com o espaço. E a minha pintura vem muito disso", diz. "Pintei em maiores ou menores quantidades desde 2014, mas a produção nervosa mesmo veio neste ano".
Para a exposição "Se Não For Pra Chorar, Eu Nem Saio de Casa", que estreia nesta semana, a artista buscou inspiração em detalhes do cotidiano e na sua infância —algumas obras têm nomes como "Guarda-Roupa" e "Caminhão de Melancia", por exemplo.
"A casa onde eu cresci era um lugar que eu achava feio, que não me satisfazia. Então eu ficava procurando detalhes de que gostava, tipo um ralo de latão no banheiro que eu achava lindo. Hoje em dia eu sei que se não fosse essa casa talvez eu não tivesse treinado o olhar para o que me agrada, e acho que tudo veio como uma forma de lidar com essa carência de beleza", explica.
Matsushita traduz essa sensação em composições sintéticas, de formas precisas, feitas com pincéis e camadas finas e com um trabalho cuidadoso para atingir as cores que procura. A ideia parece ser criar o bem-estar visual que ela não encontrava onde cresceu.
"Eu tento fazer tudo de um jeito funcional, de uma forma que não seja um desperdício, um luxo. E eu quero que meus trabalhos deem aquela sensação de quando você está num lugar e aí chega uma pessoa muito querida e tudo melhora, sabe? Gosto de produzir telas boas de se estar perto", diz.
As obras são um contraponto, segundo ela, ao excesso dos tempos em que trabalhava como designer e da verborragia que veio depois nas letras que fez para o CSS, como "Let’s Make Love And Listen to The Death From Above".
"Antes eu não conseguia sintetizar, e na pintura eu sinto que não coloco esse excesso de insegurança", conta. "Acho que as minhas pinturas são mais maduras do que eu, mais elegantes do que eu. Elas têm algo que transcende o que eu posso ser como pessoa. Quase como se fossem uma entidade separada, o que acho ótimo."
É uma abreviação que hoje ela também consegue encontrar na música que faz no Tum. "Eu tenho achado mais interessante trabalhar com o espaço vazio, que fica entre os elementos principais, como quando a gente gosta mais de uma coadjuvante do que de uma atriz principal", diz.
Para o show do CSS no fim do ano, no entanto, o excesso é bem-vindo. "É o Cansei versão Primavera, com um telão bafo, surpresas, hits, uma cover babadeira. É uma celebração bonita, sem a intenção de voltar, porque todas têm suas vidas profissionais e eu também tenho a minha —a que eu sempre quis".