Martinelli chega aos cem anos com terraço aberto e eventos; veja vídeo exclusivo do projeto
Prédio terá cem dias de programação especial antes de passar por reforma
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No ano que marca o centenário do início da sua construção, um dos primeiros arranha-céus de São Paulo se prepara para uma nova fase. A partir desta quinta (14), o edifício Martinelli, no Centro Histórico, volta a receber locais e turistas com uma programação que inclui feira de arte, festival de design, instalações artísticas, festas e as visitas guiadas, que estavam suspensas desde 2020 (veja a programação no final do texto).
A programação faz parte do projeto M100, tocado pelo grupo Tokyo, que arrematou a concessão do térreo e dos andares superiores do prédio. A ideia é comemorar a efeméride abrindo o edifício ao público enquanto o projeto de requalificação não recebe a aprovação final dos órgãos competentes, como o Conpresp.
Ocupar prédios antigos com programação cultural antes de reformá-los tem se tornado uma prática comum. O antigo prédio da Telesp, na rua Sete de Abril, e o edifício Virgínia, na Martins Fontes, também receberam iniciativas assim.
"Queremos que as pessoas tenham a oportunidade de conhecer o Martinelli como ele é hoje, como nós o recebemos", afirma Rafa Guedes, sócio do Grupo Tokyo, que em 2018 inaugurou a balada homônima na rua Major Sertório, na República, ajudando a atrair negócios de entretenimento e gastronomia para aquele quarteirão. "Depois desses cem dias, começam as obras, e o presente maior virá lá na frente, no primeiro trimestre de 2026, quando devemos inaugurar projeto principal completo."
Assinado pelo arquiteto Rodrigo Ohtake, filho de Ruy Ohtake, em parceria com a Ilha Arquitetura, o projeto do novo Martinelli quer transformar os espaços concedidos do edifício num novo ponto turístico da capital, a exemplo do que fez o vizinho Altino Arantes, o prédio do Banespa, com a inauguração do Farol Santander.
A entrada será pela avenida São João, em um espaço que por muitos anos abrigou diferentes pontos de comércio. Ali haverá um hall de entrada com os elevadores que levam ao terraço, além de um café, uma lojinha e um espaço expositivo no subsolo.
No alto —no antigo palacete onde o empresário Giuseppe Martinelli morou com sua família para provar que seu projeto era seguro—, haverá, no 25º andar, outro espaço expositivo e um restaurante de comida brasileira, com atenção especial à cozinha paulista.
No 26º andar, os terraços que hoje são apenas espaços abertos devem ganhar mesas, poltronas e deques para contemplação, com vista para todos os lados do prédio, além de um espaço para eventos fechados e ao ar livre.
Os andares 27 e 28, antes inacessíveis, serão abertos à visitação. No primeiro, as varandas servirão como mirantes e, no último, onde ficam dois terraços, devem ser dispostas algumas mesas para eventos e jantares mais intimistas.
Hoje, estreitas escadas são o único acesso a esses andares, sem uso específico desde que deixaram de ser a casa da família Martinelli. Mas, no futuro, eles terão acessibilidade universal graças a um elevador de vidro que será instalado no exterior do prédio durante a requalificação —uma das várias intervenções que precisam de aprovação dos órgãos de patrimônio, uma vez que toda a fachada, os terraços e os volumes do prédio são tombados.
"O pessoal do tombamento tem sido muito parceiro, com um raciocínio muito contemporâneo que entende, por exemplo, que em nome da acessibilidade, é preciso fazer algumas intervenções", afirma
Ohtake. "Às vezes eles nos pedem algo mais baixo, ou algo mais discreto, mas no geral entendem que o importante é tornar o edifício público e fazer o projeto caminhar."
Parceiro de Ohtake no projeto, Michel Stein, da Ilha Arquitetura, destaca que todas as intervenções planejadas por eles procuraram respeitar o projeto original do prédio. No 26º andar, por exemplo, o piso de lajotas de ladrilho hidráulico será mantido. Mas, em alguns pontos, uma estrutura de réguas de cimento foi sobreposta a ele, garantindo a acessibilidade.
"Nosso principal desafio nesse trabalho é não errar. Tudo o que tem de original, de ornamento, será mantido", afirma Stein. "Todas as intervenções são reversíveis, com o mínimo de prejuízo à integridade e a autenticidade do prédio."
Inauguração em 1929 com apenas 12 andares, o mesmo número do então maior edifício da cidade — o Sampaio Moreira—, o Martinelli continuou em construção, movida pela vontade do seu proprietário de superar o edifício carioca A Noite, que na época era o maior arranha-céu do país, com 102 metros de altura.
A obra foi embargada diversas vezes pela prefeitura paulistana por questões de segurança, uma vez que a cidade até então não tinha um prédio tão alto, e o projeto original também não previa tantos andares. Não se sabia, portanto, se ele pararia em pé. A obra só foi liberada de vez após um teste de carga na fundação. Quando o grupo Tokyo teve acesso ao prédio, havia poucos documentos, como plantas, disponíveis. Foi preciso fazer um levantamento do zero, usando tecnologias atuais.
"Com isso, vimos o quão ousado foi o projeto do Martinelli. A estrutura é muito robusta, superdimensionada. Provavelmente, porque naquela época não existia computador para fazer os cálculos", afirma Stein. "Mas, de fato, a estrutura é muito sólida, feita para aguentar mesmo."
Na década de 1940, anos antes da morte de Martinelli, o governo brasileiro confiscou o edifício, já que a Itália era inimiga do Brasil na Segunda Guerra. O prédio foi então leiloado, ganhou mais de uma centena de proprietários e caiu em decadência. Em 1975, a prefeitura o desapropriou e o reabriu quatro anos depois como uma grande repartição pública —que, mesmo depois da concessão, ainda ocupa o miolo entre o térreo e o terraço.
Veja destaques da programação
Cidade do Futuro
De 14 a 16/3, promove meditação, ioga e uma ‘praia de paulista’ com drinques e DJs no terraço, além de tours pelo centro histórico que partem do Martinelli. Ingressos gratuitos no Sympla.com.br
Design Week + Feira na Rosenbaum
Em parceria com a semana do design, o prédio recebe a feira com curadoria do casal Cristiane e Marcelo Rosenbaum, e a mostra Jalapoeira Apurada, com trabalhos em capim dourado e buriti de quilombolas do Jalapão, no Tocantins. No sábado (16), às 12h, acontece uma roda de conversa com as artesãs
Visitas guiadas
A partir de 29/3, o prédio volta a receber visitas guiadas e gratuitas, mediante agendamento online. As informações estarão no
@edificio martinelli
Festas
Ao longo dos cem dias, o terraço receberá festas consagradas da noite paulistana, como Gop Tun, Pista Quente, Primavera Te Amo e até um after do Lollapalooza