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Restaurantes

No Clandestina, pato no tucupi vira guioza em cozinha brasileira feita com olhar original

Restaurante comandado pela chef Bel Coelho tem preparos que causam certo estranhamento, mas dão vontade de provar

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Clandestina

Avaliação: Ótimo
  • Onde: R. Girassol, 833B, Vila Madalena, região oeste.

Uma primeira olhada no cardápio do Clandestina mostra que a chef, Bel Coelho, brinca com ingredientes brasileiros em preparos de outros cantos do mundo. O quiabo vira kimchi, o feijão-manteiguinha vira homus, o pato no tucupi vira guioza, a jabuticaba vai parar no crème brûlèe. Causa um certo estranhamento —mas também dá vontade de começar a experimentar.

Nas receitas há referências aos biomas brasileiros, da Amazônia à caatinga. Ingredientes regionais que não necessariamente aparecem como protagonistas. Por vezes, surgem em detalhes que tornam a experiência instigante.

Barriga de porco glaceada com tucupi preto, feijão manteiguinha e picles de maxixe do Clandestina - Folhapress

O resultado é uma cozinha tecnicamente madura, que entrega sabores que a gente só come lá e pratos completos —mesmo que o cardápio opere no sistema de porções para compartilhar, que popularizou-se recentemente.

O guioza de pato com tucupi (R$ 65, quatro unidades) foi o eleito para começar a refeição nesse estilo, para dividir.

Dava vontade de tomar às colheradas o caldo, com jambu infusionado e azeite de pimentas brasileiras, de tão bom. Uma porção de pão de fermentação natural (R$ 6) ajudou a limpar o que ficou no prato. O da casa é uma focaccia, que chegou quentinha.

Na sequência, a opção foi pela tábua A.mar (R$ 65), composta por um saboroso salame de atum, peixe defumado (no dia, era cavala), karasumi (ovas de peixe salgadas, secas e prensadas) e lula em conserva. Com sabores bem marcados, eram o contraponto ideal para acompanhar uma cerveja gelada.

Entre os pratos principais, o primeiro foi o tortelli (R$ 69), uma massa firme que envolve queijo Quina, de sabor suave e textura macia. Vem com um caldo de cebola que adiciona umami e, para arrematar, cogumelos e lascas de queijo Maratimba. Levemente adocicado, ele é feito com leites de vaca e ovelha.

Mas o pedido que mais surpreendeu foi a barriga de porco (R$ 84). Ela é glaceada com tucupi preto (uma redução do tucupi amarelo, que fica mais denso e concentrado) e servida com feijão-manteiguinha, leve e saboroso. Um encantador picles de maxixe completa o prato.

Para ir em turma, o conceito de compartilhar funciona bem, porque os pratos não precisam de complemento. Ou seja, não precisa quebrar a cabeça fazendo combinações —e ainda correr o risco de errar (ou ficar com fome).

Para ir em dois, vale saber que dividir duas entradas, dois principais e uma sobremesa talvez não seja suficiente. Nem para matar a fome nem para saciar a curiosidade sobre as criações da chef, que entrega cozinha brasileira feita com pesquisa, técnica e olhar original e cuidadoso.

A sobremesa também não decepcionou

Os franceses que nos perdoem, mas a versão clandestina do crème brûlée (R$ 39) é difícil de superar. A receita ganha uma base de queijo, em homenagem aos mineiros, baunilha do cerrado e uma reluzente calda de jabuticaba. Para acompanhar, café especial, de pequeno produtor, coado na mesa.