Pratos lambuzados do Motel são saborosos, mas exagero ofusca refeição
Aposta da chef Renata Vanzetto em pratos à beira do pecado amarra bem o cardápio, mas a refeição pesa na prática
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Sábado, 19h40. Haviam se passado só dez minutos desde a abertura da casa. E a espera já era digna de motel no Dia dos Namorados. Aglomerados numa escada estreita, clientes ansiosos esperavam para comer no Motel Restaurante, inaugurado há três meses.
No topo, a hostess informou que a espera seria de duas horas. Ossos do ofício, a decisão foi aguardar —com meus quatro acompanhantes— no MeGusta Bar, que fica embaixo e também é da chef Renata Vanzetto.
Nossa vez no Motel só chegou duas horas e meia depois. Mas… para outra espera. Numa sala com sofazinhos, onde ficamos por mais 20 minutos. Só às 22h41 estávamos devidamente acomodados. Um total de três horas de espera. Seríamos recompensados pelo esforço?
Em meio ao caos do salão lotado, o garçom deu um primeiro aviso: a ideia da casa é compartilhar. Em cinco pessoas, a tarefa era capciosa. Primeiro, porque as porções são pequenas. Segundo, porque pratos como ancho com batatas não funcionam tão bem para dividir.
A solução mais acertada parecia ser cada um fazer o seu pedido, mas aí veio outro aviso: os pratos são servidos conforme ficam prontos —não de uma vez. Com isso, quem fizesse um pedido mais demorado ficaria na mão enquanto os outros comiam. Mesmo assim, soava como a melhor opção.
A maioria dos preparos é saborosa, mas todas as receitas provadas tinham fritura e molhos untuosos ou alho. Ainda que aposte no conceito de comfort food, o resultado geral peca pelo exagero.
A berinjela caramelizada (R$ 42) é preparada à milanesa e vem sobre molho ranch, que lembra maionese. A batata ao motel (R$ 36) é frita e servida com purê de queijo. O tuna tuna (R$ 56), cubos de atum marinado, vem com gema cremosa e alho frito. O sonho (R$ 46), em versão salgada, é recheado de coquetel de camarão e deixa a impressão de que os ingredientes não deram match.
O gostoso sanduíche de costela (R$ 64) com batata palha vem mergulhado em molho roti. O bacalhau à brás misturado a ovos caipiras é cremoso. Salgado além da conta, chega coroado com (mais) batata palha.
O ancho au poivre, o mais demorado e decepcionante, chegou à mesa depois que todos tinham terminado. Estava no ponto pedido, mas veio frio e acompanhado por míseros nove chips de batata. Parecia um prato kids, com preço bem adulto: R$ 89.
O melhor da noite foi o arroz safado (R$ 70), cozido em tinta de lula e com pedacinhos crocantes dela mesma. Vem com vinagrete, aïoli e shissô. Às 23h16 —portanto 35 minutos depois que o grupo conseguiu se sentar— o garçom avisou que a cozinha ia fechar. Mas que (ufa!) ainda havia tempo para sobremesa.
Diferente dos pratos, os doces são bem servidos, mas não emocionam. Maciço demais, o pudim delirante (R$ 42) não fez delirar. O ménage de Julieta, Juliete e Romeu (R$ 45), torta de queijo com pedaços de goiaba de um lado e goiabada de outro, deixou a sensação de que três é demais. À musse de chocolate (R$ 42) faltava delicadeza.
A aposta da chef em pratos lambuzados e frituras à beira do pecado amarra bem o conceito do cardápio. Mas, na prática, a refeição pesa. Até ao exagero caem bem sutilezas.