Casa de Francisca terá bar no calçadão e cine-teatro no porão, no centro de São Paulo
Espaços serão abertos em março com programação cultural majoritariamente gratuita
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No ano em que completa 18 anos de sua criação, a Casa de Francisca —que nasceu com o apelido de "menor casa de shows de São Paulo" e se tornou um dos espaços mais celebrados da cena musical da cidade— comemora a maioridade com mais uma etapa da sua trajetória.
As novidades são um bar voltado para a rua, no calçadão do largo da Misericórdia, e um cine-teatro no porão. Serão abertas no mesmo Palacete Tereza Toledo Lara que a casa ocupa desde 2016, quando se mudou de sua pequena sede original, com capacidade para 44 pessoas nos Jardins, para a região central.
Elas se somam ao palco baixo e elegante no primeiro andar, de onde cerca de 350 shows foram vistos por 100 mil pessoas no ano passado. A ideia é levar a mesma curadoria que norteia as apresentações musicais para novas frentes —uma seleção de DJs, cinema, festas, rodas de samba e conversa e um diálogo mais afinado com as ruas do centro.
A abertura dos espaços já dá esse tom. No dia 8 de março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher, Lia de Itamaracá celebra seus 80 anos em um grande show de graça e na rua, ao lado das cantoras Juçara Marçal, Alessandra Leão e Mônica Salmaso.
É uma significativa expansão que o criador do espaço, Rubens Amatto, prefere encarar como um desdobramento da história da Francisca, que já teve outro momento como esse quando migrou para o prédio.
"As coisas foram acontecendo de maneira muito natural. Se eu pudesse, teria ficado para o resto da vida no meu primeiro endereço, mas passamos a ter uma dimensão de que a casa precisava encontrar um espaço maior para que ela pudesse durar", conta.
A pandemia também trouxe para Amatto a noção do quanto o lugar era querido pelo público paulistano. Penando para se manter de pé, assim como muitos palcos pequenos e médios da cidade, a casa foi salva graças ao apoio massivo de artistas que já tocaram lá de uma campanha de financiamento coletivo com 1.500 mantenedores —alguns deles colaboram até hoje.
Enquanto isso, ao redor do próprio palacete que fica na Quintino Bocaiúva, lugar que nos anos 1950 era conhecido como a esquina musical de São Paulo, outros pontos não conseguiram se manter de pé.
Foi o caso da loja do térreo e o porão do espaço, que ficaram vagos. O dono da Casa de Francisca, então, decidiu tentar uma linha de crédito do governo do estado e outros esforços de arrecadação para botar em operação um palacete que fosse dedicado à cultura e à gastronomia.
"É natural ocupar mais partes de um lugar tão emblemático num largo tão importante e que foi completamente abandonado", diz Amatto.
No térreo, a casa abre o Largo, um bar regido pela discotecagem em vinil para que a cultura dos discos —vendidos por décadas na Bevilacqua, que existia ali— seja retomada no lugar.
A programação estará presente de graça de terça a sexta, aos cuidados dos DJs que mostrarão suas pesquisas de música brasileira, latino-americana e africana voltados para a rua. Aos sábados e domingos o espaço sediará rodas de samba, cirandas e outros gêneros musicais.
Embaixo, no porão, um cineteatro terá debates com temas voltados à cidade, literatura, dança e inclusão social, mas também exibirá filmes e terá festas, shows e outros tipos de apresentações. Durante o dia, enquanto a programação não se desenrola, a ideia é que o lugar esteja sempre aberto, servindo como um ponto de encontro no centro da cidade.
"Eu quero que as pessoas venham aqui e falem ‘o que tá acontecendo no primeiro andar? E no porão? E na rua?’. Que seja um espaço de convivência, com agenda muito viva e diversidade de gêneros também", diz o dono da Francisca.
Todas as novidades buscam girar em torno do estreitamento da relação do espaço cultural com as ruas do centro de São Paulo e da criação de políticas de inclusão mais firmes.
"Ocupar as ruas é o que traz segurança, e o centro tem esse potencial incrível. A gente deseja que ele esteja vivo de noite e de dia, mas também estamos atentos à discussão da gentrificação que isso traz. Temos o desejo grande de uma cidade menos impessoal e mais afetiva. Queremos ser um lugar o mais democrático e inclusivo possível", diz Amatto.