Descrição de chapéu São Paulo LGBTQIA+
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Conheça a Zig, balada que foi palco de Charli XCX e se tornou a principal casa LGBTQIA+ de SP

Espaço tem três unidades e foi escolhido por cantora britânica para sediar turnê de 'Brat'

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São Paulo

Poucos lugares de São Paulo estavam mais disputados do que a balada Zig Studio, na avenida Pacaembu, na Barra Funda, na noite do último sábado (22). Ali, um público de cerca de mil pessoas dançava à espera do momento em que a estrela pop favorita da vez, a cantora britânica Charli XCX, subiria ao palco para um DJ set exclusivo no Brasil.

Performer Bruno Jezebel em apresentação na Zig, em São Paulo - Raula/Divulgação

Um único tom de verde, que circulava há semanas na internet e que fazia alusão à capa do álbum "Brat", recém-lançado pela artista, aparecia por todo lado, em camisetas, capinhas de celulares, cabelos e nas próprias luzes do local.

Para quem desembolsou cerca de R$ 500 para estar ali, a apresentação de uma hora e meia foi suada e memorável. Para Rafa Maia e Werik Andrade, à frente da unidade que completa dois anos em 2024, também serviu como um atestado —a própria Charli pediu para que a parte brasileira de sua turnê "PartyGirl", que roda várias cidades do mundo, fosse feita no espaço deles.

A ideia da Zig, criada em 2017, começou bem menos ambiciosa que a noite deste ano. Na época, a dupla só queria encontrar um espaço em que a Kevin, festa em que a nudez é permitida, pudesse acontecer de forma segura para a fatia gay de seu público, que ainda hoje é maioria.

A solução apareceu na forma de um inferninho para 250 pessoas no centro da capital paulista, que funciona até hoje sob o apelido de Ziguinho. Depois de uma estreia caótica, sem gelo e com quedas de luz, o espaço passou a abraçar noites com propostas de pequenos produtores e se tornou referência underground da noite LGBTQIA+, recebendo de drag queens a DJs incensados.

"Eu diria que a Zig aconteceu por causa da Kevin e emprestou dela bastante de seu conceito. Mas tudo também vem do que a gente acredita, que é um lugar onde as pessoas vão para expurgar as coisas, principalmente numa cidade como São Paulo", diz Maia. "Acho que parte desse crescimento veio justamente de termos começado tão pequenos, com muitos amigos ao lado".

Dois anos depois da primeira unidade, Maia e Andrade decidiram criar o ZigDuplex, um espaço para 400 pessoas parcialmente dividido por um chão de grades —quem circula em cima consegue ver as pessoas dançando no primeiro andar— e um bar que funciona antes das festas.

Por sua localização no coração da República, próxima a outros clubes como a Tokyo, o Cineclube Cortina e a Love Cabaret, acabou se tornando a mais famosa e uma espécie de porta de entrada para o mundo da Zig, de acordo com o sócio.

O pós-pandemia trouxe uma terceira filial, a Studio, em 2022, para dar conta da demanda represada pelo isolamento social. Foi a empreitada mais ousada, que praticamente triplicou o público da anterior e selou a Zig como a principal marca da noite LGBT+ da capital paulista. Além disso, também a fez se tornar uma das poucas representantes de clubes fixos em uma cidade hoje dominada por baladas itinerantes.

Maia diz que as expansões não estavam nos planos e tudo aconteceu à medida em que a dupla sentia o apetite do público por novidades. "Parece até meio bobo falar, mas é tudo muito orgânico e despretensioso. A gente foi construindo uma história que não foi planejada, ainda que obviamente tenha muito trabalho por trás".

Ao mesmo tempo em que cresce e faz noites regadas à música mainstream, dedicadas a nomes como Beyoncé e Pabllo Vittar, o negócio também consegue manter a parte mais alternativa do público.

Exemplo disso são festas como a de XCX —que reina entre os fãs do pop menos comercial— e a curadoria de DJs que convida gente como Paulete Lindacelva, residente da festa eletrônica Mamba Negra. "A nossa diretriz é atender a demandas LGBT+ ainda que elas pareçam opostas entre si, porque também gostamos de coisas diferentes", diz Maia.

Drag queen Roovie Fox em festa na Zig, clube de São Paulo - Joao Guizze/Zig/Divulgação

Com os anos, a Zig se tornou ponto clássico de "afters" de festivais como Primavera Sound e Lollapalooza —recebeu sets da banda Cansei de Ser Sexy, do DJ e produtor Fred Again e da cantora Shygirl. Também virou queridinha das gravadoras para lançamentos oficiais de álbuns, como o das artistas pop Tove Lo e Jessie Ware. Bem mais recentemente, se abriu mais para o formato de shows, recebendo atrações como o vocalista do Scissor Sisters Jake Shears, Aluna, Urias, Linn da Quebrada e Lasgo.

Neste ano, ainda levou o trabalho para fora de suas paredes, com edições de festas em Campinas, no interior de São Paulo, e no Rio de Janeiro, com um set da cantora Romy. Também anunciou programação de aniversário no edifício Edifício Martinelli e uma parceria com a casa Fabrique na criação do espaço Usine, uma balada com ampla pista de dança e mezanino que será inaugurada no dia 13 de julho na rua Barra Funda.

"A gente sempre ouve brincadeiras de amigos que viajam para outros lugares e perguntam ‘qual é a Zig daqui?’, mas eu só fui ter mais recentemente esse entendimento da Zig para além do espaço físico, de perceber que as pessoas têm um sentimento diferente em relação a ela", diz Maia. "É exatamente essa sensação de comunidade que a gente quis criar. Um lugar em que as pessoas se sintam confortáveis e seguras para se manifestar, onde elas possam ser mais livres do que conseguem ser na rua. Parece absurdo dizer isso em 2024, mas ainda precisamos muito disso", diz.

ZigClub - R. Álvaro de Carvalho, Centro, Instagram @zig1e2
ZigDuplex - R. Araújo, 155, República, Instagram @zig1e2
ZigStudio - Av. Pacaembu, 33, Barra Funda, Instagram @studio.zig