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Cinema

Avôs escondem relacionamento gay de família tradicional em filme chinês

Sem cair no melodrama, 'Suk Suk' tem a particularidade de tornar protagonistas homens já maduros

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Suk Suk - Um Amor 
em Segredo

Avaliação: Bom
  • Quando: Estreia nesta quinta (9) nos cinemas
  • Elenco: Tai-Bo, Ben Yuen, Patra Au
  • Produção: Hong Kong, 2019
  • Direção: Ray Yeung

Um dos problemas dos filmes que encampam uma causa é que, com enorme frequência, essas causas são bem melhores do que os filmes.

Entre as produções que levantam as bandeiras gay e LGBTQIA+, encontrar um tom é o problema mais frequente —filmes costumam oscilar entre luminosidades melosas e cores idem, paisagens paradisíacas, artistas famosos e intelectuais renomados.

Por sorte, há gritantes exceções. É o caso de “Azul É a Cor Mais Quente”, longa de 2013 do tunisiano Abdellatif Kechiche sobre a relação de duas mulheres, por exemplo. E agora de “Suk Suk – Um Amor em Segredo”, que nos chega de Hong Kong depois de ter sido exibido no ano passado no Festival de Berlim.

Para começar, não há no filme explicações, justificativas ou nobilitações. Na história, o chofer de táxi Pak, casado, encontra Hoi, aposentado, num banheiro público. Insinua-se para ele, mas nada se concretiza. Os dois voltam a se encontrar depois e começam uma amizade que logo evolui para um relacionamento mais profundo.

O personagem Pak (de gravata vermelha, interpretado por Tai-Bo) cercado por sua família em cena do filme ‘Suk Suk’ - Divulgação

Difícil encontrar personagens mais triviais. Pak é avô e esconde sua homossexualidade, que deve continuar por baixo dos panos para o bem da família tradicional. Hoi separou-se há muito, criou o filho, que é agora casado e tem a sua própria filha. O rapaz no mínimo desconfia da orientação paterna, mas sua maior preocupação é encobri-la, para evitar que a mulher e a filha tomem conhecimento da sexualidade de Hoi —afinal, eles moram todos juntos.

Seja como for, de tão triviais que são, os personagens por vezes chegam a nos aborrecer.

Mas a particularidade do filme consiste em tomar como protagonistas dois homens já maduros, de uma geração que precisava absolutamente esconder sua sexualidade, sob pena de se tornarem párias numa sociedade que nem de longe pensava em tolerá-los.

Essa situação é melhor exposta numa questão levantada por um grupo de jovens que deseja criar uma casa de repouso para gays. Um dos homens expõe o seu caso. Ele mora ao lado de duas garotas, com quem fez amizade. Mas, depois que elas souberam que ele era gay, ambas se mudaram e passaram a hostilizá-lo. Ele diz que gostaria de, no momento em que não pudesse mais morar sozinho, ser cuidado por pessoas que o entendam. Compreende-se.

Há ainda duas outras questões delicadas no filme —como abordar o romance entre os dois homens e as relações sexuais entre eles. Neste segundo ponto, não é o caso de omitir o sexo, mas o diretor, Ray Yeung, soube como mostrá-lo com delicadeza e sem um mau gosto frequente.

Já a questão do romance é menos bem resolvida. A música e a trilha fazem com que a aproximação entre ambos não raro lembre alguns velhos filmes de namoros entre adolescentes.

Essa última característica é compensada pelo belo e apropriado tom melancólico do final. Yeung evita aqui o melodrama que, sugere, poderia invadir a narrativa, como ocorre, por exemplo, em “O Segredo de Brokeback Mountain”, lançado por Ang Lee em 2005 e que se tornou referência.

O amor clandestino de Pak e Hoi nos interessa em “Suk Suk” não porque diga que isso é certo, isso é justo ou qualquer coisa do tipo. O filme se mostra relevante porque nos mostra um fato e afirma simplesmente: é assim.