Na Casa do Norte Bela Vista, do cearense Henrique Alves de Araújo, 52, a carne de sol divide o espaço com as placas de energia solar. E as inovações seguem. O estabelecimento, que fica em Guarulhos, na Grande São Paulo, também possui um aplicativo próprio para os clientes realizarem os seus pedidos.

Sem largar mão da tecnologia, Araújo faz questão de manter a tradição nordestina da loja, servindo pratos e vendendo produtos típicos. "Buchada, carne seca, rapadura, bolacha, feijão de corda, farinha, pimenta, cachaça e até chapéu, de todo canto do Nordeste", diz.

O comércio tem 20 anos. "Quando comprei o terreno, era só mato. Fui trabalhando, ganhando dinheiro e daí fui fazendo." Hoje, são três andares e mais de 20 funcionários, num espaço que recebe cerca de mil pessoas aos fins de semana e acumula fila de espera na porta.

A Grande São Paulo concentra um grande número de nordestinos que, assim como Araújo, residem nas periferias. Por isso, segundo ele, as casas do Norte são tão procuradas e comuns. "Nordestinos representam uns 90% do meu bairro."

De acordo com o último censo do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010, são mais de 3 milhões de migrantes nordestinos residentes na região metropolitana de São Paulo —1,3 milhão deles na capital.

Mas Araújo diz que as casas do Norte atraem também paulistanos e até estrangeiros. "Aqui eu tenho japonês que compra o jabá", comenta o baiano Manoel Andrade, 68, dono da Casa do Norte MA, com 57 anos de existência em Cidade Ademar, na zona sul da capital paulista.

O espaço possui a mesma estrutura e decoração de quando foi fundado, como uma mistura de mercado e restaurante que serve almoço típico diariamente. Durante todos esses anos, o comerciante assistiu à transformação do bairro, ao fechamento de lojas e à chegada das vacas magras com a pandemia da Covid-19.

A Jucesp, Junta Comercial do Estado de São Paulo, responsável pelo cadastro dos estabelecimentos comerciais, não possui um levantamento da quantidade de casas do tipo. Em uma pesquisa informal no Google Maps, porém, a Agência Mural contabilizou 313 casas do Norte nas periferias da capital. Na zona leste, são ao menos 143 locais —depois, estão a zona sul (107), a zona norte (49) e a zona oeste (14).

A reportagem considerou apenas estabelecimentos com a nomenclatura "casa do norte", localizados em um dos 40 distritos de regiões periféricas da cidade.

É na Cidade Ademar, onde há cerca de 20 lojas, que a paulistana Cristiane Trudes, 41, resolveu assumir a Casa do Norte Missionária. Há quatro meses no comando, ela é a terceira dona do estabelecimento, que existe há 22 anos.

Para entender melhor sobre os produtos regionais e dar conta da freguesia, Trudes diz que fez uma pesquisa intensiva de um mês com o antigo dono. "Tem vez que o cliente pede um produto com o nome diferente, a gente pergunta o que é —e, se precisar, pesquisamos na internet", conta.

Mas ela também adaptou e deu um toque pessoal ao espaço, incorporando produtos naturais. "É difícil encontrar uma casa do Norte com 100% de produtos do Nordeste", afirma.

Manoel Andrade, da Casa do Norte MA, diz que também é a favor dessas mudanças e de adaptações que tornem o comércio mais atrativo. Sobretudo por causa da inflação.

"Em semana de pagamento, os produtos mais caros vendem mais. Mais para o fim mês, é a vez das coisas mais baratas, como a linguiça seca e a farinha", exemplifica Trudes.



Casa do Norte Bela Vista
R. Bela Vista, 799, Jardim Leblon, Guarulhos (SP), tel (11) 2303-3429, casadonortebelavista.com.br

---

Casa do Norte MA
Av. Cupecê, 3.875, Americanópolis, São Paulo, tel. (11) 5021-7032

---

Casa do Norte Missionária
Av. Yervant Kissajikian, 3.013, Vila Missionária, São Paulo, tel. (11) 98411-0418, Facebook casadonortemissionaria​