Monotonia apaga brilho de menu-degustação saboroso no De Segunda
Bons preparos autorais sofrem com sequência pensada mais na praticidade da cozinha do que na experiência do cliente
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Um menu-degustação em São Paulo dificilmente custa menos de R$ 500. Isso faz o restaurante De Segunda, no Itaim, parecer especialmente atrativo. Na casa de culinária autoral do casal de chefs Júlia Tricate e Gabriel Coelho, o menu em sete tempos custa R$ 235 por pessoa, sem bebida.
A cozinha fica aberta para um salão simples. Na noite da visita, o rap tocava num volume que prejudicava a conversa. Mas a expectativa pelo menu-degustação falava mais alto.
O desfile começou com uma dupla de ostras. Uma com sorbet de caju e picles de cebola roxa. Outra, com pimenta-de-cheiro e bolinhas de maçã. Ambas com um toque equilibrado de coentro, complementando os sabores com leveza.
Na sequência, tartare de carne com molho tonnato (de atum e alcaparras) e picles de mostarda. As folhas de capuchinha que o decoravam exibiam gotas que lembravam o orvalho da manhã. Uma beleza. Para acompanhar, tortilha negra crocante. Um prato cheio de frescor, com texturas que contrastam e se complementam.
De sabor mais complexo, a cenoura na brasa veio acompanhada por outros preparos com ela mesma: curry thai de cenoura e tempurá de folha de… cenoura! Um inesperado sorvete de iogurte com zátar caminhava em harmonia com o dulçor do vegetal. E enfrentava, de igual pra igual, a picância do curry. Um prato intrigante e delicioso.
Abriu caminho para a língua bovina. Cozida lentamente e tostada na brasa, com purê de couve-flor caramelizada. O katsuobushi (peixe bonito desidratado e defumado) trouxe umami. A rúcula revelou picância e amargor. E o demi-glace deu vontade de lamber o prato.
Aí veio a bochecha acebolada. Na textura perfeita, com um inusitado purê de pão, e brincando com cebola usada em vários preparos, como beurre blanc (molho à base de manteiga e vinhos), picles e na brasa. Bem gostoso, mas lembrava demais o prato anterior. Novamente uma carne cozida lentamente, acompanhada de um creme untuoso.
A expectativa era por um prato seguinte bem diferente. Em vez disso, veio mais uma carne cozida lentamente, com mais cremes untuosos e mais demi-glace. Era o prato de cupim que, infelizmente, estava ressecado. Os acompanhamentos —releituras de pão de alho e salada de batata— davam um ar de fim de churrasco.
Ficou a impressão de que a cozinha se apoiou em pratos menos complexos de preparar —e com maior capacidade de agradar um público mais amplo.
Mas a monotonia fez com que o menu-degustação deixasse de cumprir uma de suas funções: conduzir o comensal por um caminho com começo, meio e fim. E levá-lo a se surpreender, nessa jornada, com nuances e com sabores que talvez não provasse por conta própria.
Sobremesa é agradável e equilibrada
A sobremesa trouxe um lampejo do brilho inicial. Morango em duas versões —fresco e em uma gostosa compota tostada—, sorbet de jabuticaba e ganache de chocolate branco. Agradável e equilibrada