Praça Roosevelt deve ter teatros e Cine Bijou reabertos até o início de 2022 em SP

Enquanto Parlapatões e Satyros planejam peças, cinema de rua voltará a funcionar após 25 anos

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São Paulo

Antes de aglomeração ser sinônimo de contaminação por Covid, ela era indicativo de sucesso, lembra Ivam Cabral, um dos fundadores do grupo teatral Os Satyros.

No mundo sem pandemia, peças lotavam os pequenos teatros da praça no centro de São Paulo, que foi revitalizada a partir de 2011 com obras e uma programação cultural intensa. O ápice acontecia nas Satyrianas, evento que reunia milhares de pessoas numa programação de 78 horas com peças, performances e até números de circo.

Os dias de muvuca ainda parecem distantes, mas um retorno começa a ser esboçado com o planejamento dos grupos Satyros e Parlapatões de voltar a ter peças presenciais até, no máximo, o começo de 2022 —embora não exista ainda uma data definida para isso.

Esse retorno deve coincidir também com a reabertura do Cine Bijou, um dos mais tradicionais cinemas de rua de São Paulo, com um movimento para reaquecer a programação artística da praça. “Em janeiro a gente volta indiscutivelmente, porque já serão praticamente dois anos de portas fechadas e pagando as contas”, diz Cabral.

Um dos espaços do Satyros na Roosevelt foi fechado durante a pandemia para diminuir os gastos. Eles conseguiram, contudo, manter sem baixas o grupo de cerca de 60 atores, numa intensa programação de peças virtuais.

O que ainda está pendente para os próximos meses é a definição da cara dessa reabertura —se vão conseguir fazer mais de uma sessão por noite e quantas pessoas poderão ficar na sala, por exemplo. O retorno também deve ocorrer com uma peça inédita que começa a ser ensaiada presencialmente em outubro.

Se a reabertura ficar para a data limite, em janeiro, ela vai coincidir com a reativação do Cine Bijou, que formou gerações de cinéfilos paulistanos ao lado do cinema Oscarito.

O espaço, que vai ser comandado pelos fundadores do Satyros, ficou conhecido por exibir filmes autorais durante a ditadura militar e está fechado desde 1996. A intenção, segundo Ivam Cabral, é que a programação mantenha o espírito do passado, com filmes clássicos e títulos brasileiros que estão fora do circuito comercial.

A companhia, inclusive, começou neste mês um festival online do Cine Bijou para criar uma movimentação em torno da reabertura da sala. “A gente sente que o pessoal tem bastante carinho pelo Bijou, mas precisamos criar um movimento”, diz Cabral. “Porque não sei como será nosso público a partir de agora. Ainda é muito tímido o que tenho encontrado nas plateias.”

O número de espectadores é um problema para os teatros pequenos, como é o caso dos Satyros. Financeiramente, é inviável reabrir as portas para sessões com poucas pessoas —e esse foi um dos fatores determinantes para que o grupo optasse por não voltar a funcionar com capacidade reduzida, como já está permitido pelo plano de quarentena estadual.

Hugo Possolo, do Parlapatões, afirma que esse é um dos problemas para o retorno do grupo, que também tem sede na Roosevelt. Eles avaliam voltar com a programação presencial quando a cidade atingir os 70% da população completamente vacinada. Isso será decidido, no entanto, durante o mês de outubro.

“O impacto da pandemia foi muito forte para a gente. O fato é que a gente fechou logo de cara, sem a perspectiva de reabrir e com uma grande dificuldade, porque foi no mesmo momento em que me tornei secretário”, diz ele, que ocupou o comando da Secretaria de Cultura municipal antes de se tornar diretor-geral da Fundação do Theatro Municipal —função que ele também deixou no mês passado, após a saída de Alê Youssef da Cultura na gestão de Ricardo Nunes, do MDB paulistano.

O trabalho de Possolo na gestão municipal impediu que o Parlapatões, grupo do qual ele é um dos fundadores, pudesse tentar captar dinheiro em alguns editais —receita que segurou as pontas de diferentes grupos teatrais durante a pandemia. Alguns funcionários deixaram de trabalhar em regime CLT e um empréstimo foi feito. O galpão do grupo na Vila Romana, onde a companhai dá aulas e guarda boa parte dos figurinos e dos cenários das peças, também foi posto à venda.

Enquanto o Parlapatões não volta a se apresentar presencialmente, outros grupos chegaram a usar o espaço da companhia na Roosevelt para gravar peças virtuais —um deles propôs até fazer um mês de temporada presencial de novembro a dezembro. Ainda em outubro, eles devem lançar a primeira peça online, "Iérus Halem”, que fazia parte de um edital ainda de 2019 e que decidiram realizar virtualmente.

“O teatro é de clima de alegria, de festa, celebração. É um lugar de encontros. A reabertura acontecer de maneira tímida, distante, é complicado", diz Possolo.