Região do Copan ganha circuito gastronômico e cultural durante a pandemia

Negócios inaugurados desde o ano passado dão nova cara ao prédio e a seu entorno

Fachada do Copan, na região central de São Paulo

Fachada do Copan, na região central de São Paulo Jardiel Carvalho/Folhapress

São Paulo

O paulistano que ficou trancado em casa e não passeou pela região do Copan no último ano pode se surpreender com a nova movimentação que nasceu por ali desde o início da pandemia. O edifício vem se fixando como um novo polo cultural e gastronômico no centro da capital.

Aos seus pés, abriram as portas no último ano negócios como a livraria Megafauna, o restaurante Cuia e o bar Paloma. Eles se juntam a locais já estabelecidos como os bares da Dona Onça e Fel, além do espaço cultural Pivô, que se dedica à arte contemporânea.

O movimento não se restringe às curvas do gigante projetado por Oscar Niemeyer. Ele se espalha para os arredores, especialmente para as ruas da Vila Buarque que ficam entre o prédio e o elevado Presidente João Goulart, o Minhocão.

Nos últimos meses, aquele miolinho enfrentou algumas perdas, mas também ganhou novidades —como os restaurantes 31, Botanista e Bráz Elettrica. Ali também foi o local escolhido para implementar o Ocupa Rua, que criou espaços para pessoas se sentarem, comerem e beberem em frente a bares e restaurantes.

Depois de meses fechados e apostando no delivery, endereços conhecidos também estão voltando a abrir, caso do centenário Circolo Cucina, sob nova administração, e os bares o Jazz B e Cama de Gato –este último a partir desta sexta, dia 1º de outubro.

Com o frescor dos novos empreendimentos, não é incomum esbarrar em publicações nas redes sociais nas quais os negócios apresentam as casas vizinhas ao público. Essa política de boa vizinhança estimula um circuito cultural —que, ainda por cima, pode ser percorrido a pé.

Por ali, a possibilidade de caminhar de uma loja da moda para o bar do momento se soma a uma boa oferta de espaços com mesas na calçada.

A combinação de local aberto e rua por onde não passam carros, aliás, parece ser a fórmula do sucesso do Copanzinho e do Orfeu, grudados ao Copan e sempre cheios.

A piada que corre por ali é a de que “a variante Copanzinho do coronavírus está em produção”, por causa das aglomerações que ocorrem por lá. Mas é verdade que o boteco limita o público com um cercadinho —o que não ocorre com o vizinho Orfeu, administrado hoje em dia pela Fábrica de Bares, que não quis responder a perguntas da reportagem.

Prestes a completar 15 anos, o Bar da Dona Onça é um dos precursores da atual fase da região. “Eu nunca tive nenhuma pretensão de revitalizar o centro”, diz a chef da casa, Janaína Rueda. “Não existe isso de revitalizar um lugar que sempre esteve vivo”, completa.

Para ela, houve um momento em que o público migrou da região, que deixou de ser referência de sofisticação e passou a ser tido como degradado e perigoso, para ir a bairros como os Jardins.

Ao lado do marido, Jefferson Rueda, Janaína comanda outras estrelas que ajudaram a moldar a cara atual do local, como A Casa do Porco, o Hot Pork e a Sorveteria do Centro. E deve abrir mais um negócio nos arredores no próximo ano, a Mercearia do Centro.

A explosão do eixo Copan-Minhocão vai seguir ainda com o retorno do clube Love Story, que volta à ativa repaginado em uma sociedade que conta com o nome de Facundo Guerra, por exemplo.

​Além disso, a Ilion, uma empresa de investimento imobiliário, perdeu na pandemia o inquilino que ocupava a laje comercial do Copan, que tem incríveis 4.627 metros quadrados e era usada como sede corporativa de uma grande empresa. A procura de novos locatários se mostrou surpreendente, comenta a companhia.

“A laje despertou interesse de áreas que a gente não tinha imaginado”, diz Maxime Barkatz, sócio-fundador da Ilion. “Veio gente de coworking, de galerias de arte, de restaurantes”, conta, apesar de ainda não ter nenhum nome definido para o espaço.

Cada vez mais nos holofotes, a região acende agora o sinal amarelo para a gentrificação. “Eu acho que aqui ainda vai mudar, mas não vai chegar a ser um bairro pasteurizado”, fala Bruno Bocchese, dono do Fel e do Paloma. “Por aqui passa muita gente, de todas as classes. Vai continuar a ser um lugar interessante.”

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