Em seu espetáculo de estreia para crianças, o Grupo XIX de Teatro aborda temas difíceis do dia a dia de três crianças: a prática do bullying e a intolerância com o que é diferente.
Livremente inspirada em obra do israelense Amós Oz, a peça tem início quando os personagens se movimentam em um cenário sombrio, que se ilumina no momento em que entram três biombos e, atrás deles, essas personagens, que se apresentam ao público e dão início a uma conversa sobre o pensamento, a aparência, o jeito de ser e depois contam aos espectadores a história da aldeia onde vivem e de seus antepassados.
Na conversação, falam do significado do diálogo, de perguntar e responder, e interpretam os tipos de resposta que os adultos dão a suas perguntas, por exemplo --espécie de exercício dramatúrgico à vista da plateia.
O outro assunto do enredo, que é criação coletiva da companhia com dramaturgia de Ronaldo Serruya, é a história da aldeia em que, no passado, ocorreu um “desacontecimento”: todos os animais, grandes e pequenos, desapareceram. Onde estarão é a pergunta que fica no ar.
As crianças Santi (Rodolfo Amorim), Luna (Juliana Sanches) e Clara (Janaina Leite) interagem o tempo inteiro com o público e contam que somente restaram os humanos. Alguns aldeões acreditavam que um espírito do bosque tinha provocado o sumiço, mas nada fica provado. Os personagens se revezam para contar a história e sempre se dirigem aos espectadores.
As crianças vão à escola, e todos cantam com a professora, procurando adivinhar onde os bichos estão, o que fazem, que voz têm ou do que se alimentam. No recreio, as crianças jogam bola com a plateia.
Enquanto isso, Luna sofre bullying dos colegas. O problema ganha solução paulatina, ao longo da peça, mediante as conversas.
Com direção inteligente de Luiz Fernando Marques e Rodolfo Amorim, o espetáculo rompe com o automatismo da representação do cotidiano infantil com a interferência da imaginação e da subjetividade.
Do ponto de vista formal, explora planos cenográficos que procuram simbolizar as inquietações dos personagens, com soluções simples, como fazer da escada a sala de aula, ou trabalhosas, como levar o público para fora da sala de espetáculo, pelos corredores e escadarias do Centro Cultural Banco do Brasil, onde a peça está em cartaz, com a missão de fazer todo mundo conhecer o bosque ao redor do vilarejo e seus abismos.
Na volta todos vão ao palco e dá-se uma experiência sensitiva. O público senta-se em acolchoados coloridos; as crianças vestem fantasias mirabolantes de bichos e aprendem um pouco mais sobre as características dos animais.
As mensagens de esgotamento dos recursos ambientais, como a diversidade das espécies e a do desrespeito ao próximo, fogem do senso comum, e o público certamente retomará o diálogo proposto pela peça.
Avaliação: muito bom
Indicação da crítica: a partir de cinco anos
CCBB - teatro - R. Álvares Penteado, 112, Centro, tel. 3113-3651. 90 lugares. Sáb.: 11h. Até 23/6. Estac. a partir de R$ 15 (r. Sto. Amaro, 272). Ingresso: R$ 20. Ingr. p/ eventim.com.br.
Comentários
Ver todos os comentários