A carioca Bibi Ferreira conta uma história da sua vida em "Bibi, Histórias e Canções", no Teatro Frei Caneca (centro de São Paulo), de sexta a domingo, até 7 de outubro.
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Aos 90, a atriz --uma das damas do teatro brasileiro (veja galeria de fotos )-- canta amparada por uma orquestra regida pelo maestro e violonista Flávio Mendes. Um diálogo entre eles conduz a linha narrativa de um roteiro encantador.
Estão lá as trilhas que embalaram a incipiente indústria cinematográfica norte-americana nos anos 1940. Standards de jazz, temas de musicais da Broadway e a canção da histórica montagem de "Gota D'Água", de Chico Buarque e Paulo Pontes, também.
Pequena, apesar do salto enorme, Bibi se agiganta diante da orquestra. Um verso que escapa na letra de "O Barbeiro de Sevilha" não afeta o espetáculo. Tampouco o compromete a inabilidade cênica do maestro-narrador.
ATENÇÃO spoiler (não leia se não quiser estragar surpresas)
Dona de elegante autoironia, ela dispara, precisa, contra a idade avançada: "Vamos fazer agora uma rendição de 'Quixote', uma ópera baseada no livro do século 16, ou seja, de quando eu devia ter lá meus 11, 12 anos de idade."
Aplausos.
O timbre soprano e os vibratos bem definidos encantam quando, para homenagear a chamada "era do rádio", Bibi foca Elizeth Cardoso, cuja interpretação da bela "Onde Anda Você", de Vinicius de Moraes, marcou época.
Seguem citações a amigos e conhecidos saudosos, como Paulo Autran (1922-2007). Mais aplausos.
A influência da avó uruguaia e da mãe, argentina, manifesta-se em um tango arrebatador. Do ator e dramaturgo Procópio Ferreira (1898-1979), aprendeu sobre óperas: "O estilo mais megalomaníaco que existe, como papai".
Para contornar os obstáculos linguísticos do gênero, a pequena Bibi desenvolvera técnica curiosa: sobrepôr sambas nacionais às harmonias operísticas. Ela serve de exemplo "Fausto", com letra de Dorival Caymmi.
PIAF
O público já está totalmente ganho quando Bibi finalmente aponta para Edith Piaf (1915-1963). A ligação entre as duas tornou-se direta desde que encenou, nos anos 1980, um musical em homenagem à francesa.
"É impossível não cantar! As pessoas jogariam tomates em mim!".
Ela chama ao palco o empresário, Nilson Raman. Repetem juntos o dueto eternizado por Piaf e pelo cantor grego Théo Sarapo (1936-1970) em "A Quoi a Ça Sert L'Amour". Raman anuncia que a estrela se apresentará no Lincoln Center, em Nova York, em novembro.
Merecidos, atemporais, imperdíveis aplausos.
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