Banda que mistura rock e sertanejo pretende "unir tribos"; leia entrevista

O rock e o humor caminham juntos no Brasil há muito tempo, com bandas que fogem ao comum da música popular --desde o grupo Mamonas Assassinas, que explodiu nos anos 1990, e até com o Massacration, que surgiu satirizando as bandas de heavy metal.

A Comitiva do Rock foi além e resolveu misturar o sertanejo com o rock, usando influências que vão de MPB ao heavy metal, de nomes como Chrystian & Ralf, Guto & Nando e o próprio Mamonas Assassinas. "É sempre uma grande honra e elogio quando nos comparam de alguma forma com os Mamonas, que foram geniais, únicos, incomparáveis e insubstituíveis", diz o vocalista Zezé Cavalera, cujo nome faz uma brincadeira com Zezé di Camargo e Max Cavalera (ex-Sepultura).

Todos os integrantes brincam com grandes nomes da música como, por exemplo, Tião Satriani (2ª voz, guitarra), Hudson Vai (guitarras), Slash Sorocaba (guitarras), Ozzy Menotti (baixo) e Tonico McBrain (bateria), além da Vaca Metaleira, que é a mascote da Comitiva do Rock. "A Vaca Metaleira é a figura central da Comitiva. Dentro da historinha contada no nosso site foi ela quem juntou cada um dos integrantes, rebatizou com um novo nome e montou a banda. Então ela está mais para guru que uma mascote, pois é a grande madrinha", brincou Zezé.

A banda tem show confirmado em São Paulo no próximo dia 21 de julho, no Anime Friends, realizado no Campo de Marte (zona norte).



LEIA ENTREVISTA COM ZEZÉ CAVALERA:

Guia Folha - Como surgiu a ideia de criar a Comitiva do Rock?
Zezé Cavalera - É uma longa história. Sou de Anápolis (GO), cresci ouvindo e cantando música sertaneja, até me mudar para São Paulo, que foi onde conheci o rock e que foi paixão imediata. Com o tempo conheci alguns metaleiros que, curiosamente, gostavam de música sertaneja, e percebi que isso não era um fato isolado, embora não fosse algo declarado, por existir certo tabu do roqueiro em admitir que goste de outros estilos mais "povão", devido a certo radicalismo que existe no gênero.

Também descobri que sertanejos famosos, como as duplas Chrystian & Ralf, Guto & Nando, João Neto & Frederico e especialmente Edson & Hudson, que hoje são nossos amigos, eram também grandes fãs de rock e heavy metal.

Em 2004, resolvi fazer uma experiência e, com a ajuda de um amigo guitarrista, gravei uma versão metal do clássico "Evidências" (Chitãozinho & Xororó), que se transformou em "Heavydências", e teve uma repercussão incrível na internet. Aquilo funcionou como um sinal, que a coisa poderia e deveria ser levada adiante.

Vocês misturam basicamente o heavy metal e sertanejo. Por quê?
Primeiro, porque a música sertaneja e o heavy metal são nossas influências naturais, são os estilos que mais ouvimos e temos familiaridade. Costumamos dizer que "o rock está no sangue, e o sertanejo no coração". Em segundo, para "unir tribos". Percebemos que muita gente que gosta de rock e metal também gosta de sertanejo, mas não assume pelo famoso tabu. Então resolvemos levantar essa bandeira. Sempre recebemos mensagens de fãs dizendo coisas como "Minha avó odiava rock, mas adora vocês!"

Qual a semelhança entre os dois estilos? Ou não existe e vocês quiseram brincar isso?
Parecem estilos totalmente diferentes, mas não são. Conhecendo as bandas de metal melódico e comparando a melodia e os vocais agudos dos sertanejos mais tradicionais, eu sempre achei que, se acelerasse o andamento das músicas, adicionando uma bateria de bumbo duplo, elas se transformariam facilmente em metal melódico.

A brincadeira é algo inerente à nossa fórmula, mas ela tem um propósito que vai muito além de simplesmente fazer as pessoas sorrirem. Somos contra qualquer tipo de preconceito, e é isso que procuramos incorporar nas músicas, como o fato de que tribos tão distintas podem conviver em harmonia e enxergar o valor do outro.

As influências da Comitiva do Rock são variadas. Como é na hora unir tudo isso para compor o repertório?
É gostoso você se permitir ter essa liberdade poética e artística de unir elementos de universos tão diferentes, e transformar numa coisa harmoniosa, que sintetiza todas suas influências, e ainda te possibilita homenagear artistas que a gente ama. Coisas que poderiam ser absurdas se incluídas na música de "uma banda normal", na Comitiva acabam sendo propícias, e soando bem.

Vocês acreditam que a Comitiva do Rock tem o mesmo papel que os músicos do grupo Mamonas Assassinas tiveram em sua época?
Quero dizer que é sempre uma grande honra e elogio quando nos comparam de alguma forma com o grupo Mamonas Assassinas, que foram geniais, únicos, incomparáveis e insubstituíveis. Eles misturaram música pesada com outros gêneros e letras extremamente populares, de uma forma tão genial e ao mesmo tempo simples que, sem dúvidas, fizeram muitos adultos e crianças curtirem rock.

Embora nossa inspiração real seja a música sertaneja e o heavy metal, vejo que, nas devidas proporções, temos um papel parecido sim. Uma das minhas maiores inspirações como letrista e cantor é o Falcão, que é um artista realmente genial e que também era uma grande influência para o Dinho [vocalista do Mamonas].

Recentemente vocês lançaram um videoclipe parodiando a música "Painkiller", do Judas Priest, ao lado, do vocalista Detonator (ex-Massacration). Como foi isso?
Foi uma experiência muito bacana e um dos passos mais ousados que demos. Foi a música mais extrema que gravamos, e o clipe mais elaborado que fizemos do começo ao último segundo, literalmente. A música em si nasceu totalmente por acaso, durante uma brincadeira de ensaio. E o Bruno Sutter [intérprete do Detonator] é, na minha opinião, uma das pessoas mais legais, gentis e humildes do cenário, além de um dos maiores vocalistas de metal do Brasil. Ele tem muito conhecimento, uma versatilidade e extensão vocal incríveis, e pode cantar qualquer tipo de música como ninguém, além de ser um baita baixista.

Durante os shows, vocês têm a presença da "Vaca Metaleira" animando o público. De quem foi a idéia de usar uma vaca como mascote?
Muita gente acha que é uma referência ao Iron Maiden, pelo fato de hoje termos também três guitarristas, e a vaca ser, para nós, como uma espécie de "Eddie", a mascote oficial do Iron. Na verdade, a Vaca Metaleira é a figura central da Comitiva. Dentro da historinha contada no nosso site, foi ela quem juntou cada um dos integrantes, rebatizou com um novo nome e montou a banda. Então ela está mais para guru que uma mascote, pois é a grande madrinha da Comitiva.

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