'Dependemos de um milagre', diz proprietária do bar Ó do Borogodó

Com atividades suspensas devido à pandemia, reduto do samba em SP pode fechar de vez as portas

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São Paulo

Aquele que já foi o porto seguro para os fãs do bom samba em São Paulo, o Ó do Borogodó corre o risco de embarcar de vez para a memória da noite paulistana.

Em postagem feita em uma rede social na noite deste domingo (7), a casa anunciou que está em processo de despejo. "Num tempo em que tristeza é mato, a gente anuncia o fim", está escrito.

Segundo a proprietária Stefânia Gola, o Ó tem 15 dias para pagar a dívida do aluguel ou entregar o imóvel.

A empresária relata que desde 14 de março de 2020 a casa não promoveu nenhuma atividade presencial. "O bar era a nossa única fonte de renda. Estávamos fazendo a feijoada [para entrega via delivery] e algumas lives no nosso canal no YouTube. Tudo que a gente arrecadava era usado para pagar os funcionários, não o aluguel. Tentamos negociar, mas os proprietários não foram receptivos."

Ela calcula que a dívida do imóvel seja de cerca de R$ 100 mil. "Mas isso é agora. Como a gente não quer abrir até acabar a pandemia, o valor só aumentaria ao longo dos meses", afirma.

Apesar de ainda não ter quaisquer respostas sobre o futuro da casa, Gola conta que a reação do público à postagem trouxe alguma esperança. "Houve uma comoção imediata. A gente sentiu uma força ali."

Quando perguntada se as mensagens de apoio poderiam inspirar uma campanha de arrecadação de fundos, a empresária diz que eles também precisam entender se teriam fôlego ou braço para isso —afinal, também não há previsão para o fim da pandemia. "É muito provável que a gente entregue o imóvel. Dependemos de um milagre".

"Seria incrível se aparecesse um mecenas, ou se o poder público se comovesse e se mobilizasse com a nossa questão", fala. "A gente não tem o dinheiro, mas o resto tem de sobra. O potencial do Ó é enorme."

Mas a melancolia, parece, tomou conta do clima. Gola pondera que é difícil pensar no futuro do bar, pois "o país também está um caco". Ela lembra que o local completaria 20 anos em maio. "O Ó nasceu de 2001 para 2002, e parece que a gente estava em outro país. É inacreditável."