Conheça 10 rodas de samba tradicionais que voltaram a tocar nas periferias de SP

Grupos retomam apresentações, muitas delas gratuitas, após pausa de dois anos por causa da Covid

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São Paulo

Logo após a música "Acendeu a Vela" ser cantada, uma chama é acesa no centro da roda de samba. O fogo é então protegido por um vidro —não só para evitar que um vento o apague, já que os músicos só entoam os sambas enquanto o pavio estiver flamejando, mas porque aquela pequena labareda representa também uma pequena esperança.

Foi assim que a Comunidade Samba da Vela, roda tradicional que toca na Casa de Cultura de Santo Amaro, retomou as atividades na segunda, dia 2, após uma pausa forçada de dois anos por causa da pandemia de coronavírus.

Mas não foi só o Samba da Vela que guardou o cavaquinho no armário —nem a única roda que resolveu voltar a ter público presencialmente neste mês de maio. No extremo sul da capital, o Pagode da 27 vai retomar as apresentações após dois anos sem festa, algo inédito nos 15 anos em que promove sua música em uma estreita rua na região do Grajaú. O mesmo ocorreu com o Samba da Praça, também no mesmo bairro.

"Foi duro aguentar todo esse tempo, mas agora estamos livres para fazer o samba", comenta Jefferson Santiago, um dos músicos do Pagode da 27. "Aguardamos o uso de máscara ser liberado totalmente em espaços públicos."

Os motivos foram os mesmos citados por José Marilton da Cruz, mais conhecido como Chapinha, fundador do Samba da Vela. "O público do samba é sempre mais velho, então pensamos na segurança e na saúde dos visitantes para poder retornar", diz ele, justificando o porquê dessa volta ocorrer apenas em maio, enquanto a cidade vê baladas e blocos de Carnaval cheios há semanas.

Chapinha na volta do Samba da Vela, na Casa de Cultura de Santo Amaro, região sul de São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Quem frequenta o Samba da Vela, que existe há 22 anos, não precisa se preocupar em saber todas as músicas de cor. Logo no início, como em uma manifestação religiosa, todos recebem um caderno com as letras que vão ser cantadas durante a noite. No fim, para quem aguentou as quase três horas de duração, tigelas com caldos e sopas são oferecidas aos visitantes.

"Nós aqui de Santo Amaro estávamos com saudade do samba, da comunidade reunida e, claro, da sopa no fim", conta Adailto Ferreira, que mora próximo à Casa de Cultura. "Agora não preciso mais me preocupar com a janta de segunda", conta Ferreira.

No Samba da Vela, o chapéu-panamá, a camisa social e a recepção calorosa dão a impressão de que todos se conhecem por lá —mas quando Chapinha pede que os sambistas de primeira viagem levantem a mão, bem mais da metade do salão ergue o braço.

Roda de samba do Pagode da 27 no Grajaú, zona sul da cidade, em 2017 - Priscila Camazano / Folhapress

"Sempre tem uns 30% de público novo", diz Chapinha. No Samba da Vela, as pessoas geralmente ficam sentadas e é incomum ver gente dançando. Tampouco são vendidas bebidas no local. Quem quiser se arriscar numa cerveja pode comprar pelas redondezas e entrar na casa com copos plásticos. A entrada é gratuita, mas uma plaquinha na porta sugere a contribuição de R$ 5 para custear os cadernos e as sopas.

Esse cenário é completamente diferente no Pagode da 27, por exemplo, que é apresentado na rua aos domingos, de forma gratuita. Ali a roda tem pessoas sambando, com os músicos sentados em frente ao bar que leva o nome do grupo, o que facilita que a cerveja também rode entre todos os presentes.

Já o Samba da Praça, marcado aos sábados, lembra mais um show a céu aberto, próximo a bares e também de graça. Uma tradição dos frequentadores mais antigos é almoçar uma feijoada no Bar da Praça, restaurante que fica do outro lado da rua, antes de a música começar.

Já de volta ao Samba da Vela, próximo ao apagar da chama e com o salão mais vazio, Chapinha lembra que a volta da roda serve de comemoração, mas também de reflexão. "Muitos amigos, compositores, sambistas e frequentadores nos deixaram por conta dessa doença terrível. Este momento é para nos lembrarmos de que o samba não pode parar."

Veja abaixo dez opções de rodas de samba nas periferias de São Paulo que voltaram a aquecer o cavaquinho e o gogó.

Conheça 10 rodas de samba

Comunidade do Samba Da Laje
R. Jandi, 79, Vila Santa Catarina, região sul, @ComunidadeDoSambaDaLaje. No segundo domingo do mês, às 15h. Ingresso é um quilo de alimento não perecível


Comunidade Samba da Vela
Casa de Cultura de Santo Amaro - pça. Dr. Francisco Ferreira Lopes, 434, Santo Amaro, região sul, @sambadavelaoficial. Seg., às 20h30. Grátis, com contribuição sugerida de R$ 5


Grêmio Recreativo Movimento de Resistência Cultural Bate-Fundo
R. Igará Paraná, 37A, Vila Emir, região sul, @batefundooficial. Sáb. e seg., às 18h. R$ 15


Pagode da 27
R. Manuel Guilherme dos Reis, 500, Parque Grajaú, região sul, @pagodeda27. Volta em 22/5. Dom., às 14h. Grátis


Pagode na Disciplina
R. Oldegard Olsen Sapucaia, 433, Jardim Miriam, região sul, @disciplinajdmiriam_. Dom., às 14h. Grátis


Projeto Samba no Asfalto
R. Reverendo João Euclides Pereira, 308, Ermelino Matarazzo, região leste, @sambanoasfalto. Seg. e ter., às 20h; sáb. e dom., às 14h. Contribuição mensal de R$ 20


Quem Samba Fica
R. Augusto Ferreira de Morais, 259, lgo. do Socorro, região sul, @quemsambafica. Sáb., às 19h. R$ 15


Samba do Congo
R. Manoel de Souza Azevedo, 48, Morro Grande, região norte, @sambadocongo. Ter., às 19h30. Grátis


Samba do Olaria
R. Gaspar Barreto, 387, Vila Alpina, região leste, @sambadoolaria. Todo segundo domingo do mês, às 17h. Grátis


Samba da Praça Grajaú
R. Eduardo Ramos s/nº, Parque América, região sul, @sambadapracagrajau. Volta em 7/5. Sáb., às 17h. Grátis