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Restaurantes

'Não temos dinheiro nem para fechar o bar', diz dono do Jaguar, no centro de SP

Casa lança vaquinha para arrecadar R$ 100 mil, driblar a crise e se manter aberta

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São Paulo

Fechados pelo menos até o dia 11 de abril, bares e restaurantes de São Paulo buscam saídas para se manter de pé após um ano de pandemia. As histórias se acumulam —e, entre elas, está a do Jaguar Bar, que se viu sem dinheiro para se manter funcionando, mas tampouco tem dinheiro para fechar as portas.

“A gente pensou em fechar o bar, mas até para isso é preciso dinheiro —e não temos”, diz Fábio Schaberle, dono, ao lado de Ronaldy Fraga, da casa que fica no bairro dos Campos Elíseos, na região central da capital.

Caso decidissem fechar o estabelecimento e dispensar os funcionários, os sócios teriam de arcar com o pagamento de rescisões e também de multas, já que usaram o benefício de complemento salarial do governo nos primeiros meses da pandemia.

Inaugurada em 2018, a casa de ambiente descolado baixou as portas pela primeira vez em março do ano passado, quando e bares e restaurantes foram fechados pela primeira vez como medida para conter a propagação do novo coronavírus.

Mesmo com o retorno do atendimento presencial autorizado cerca de um mês depois, Schaberle e Fraga decidiram não reabrir a casa, como forma de manter em segurança a equipe, que hoje conta com seis pessoas.

“Já vínhamos de uma situação ruim, com o movimento praticamente 90% menor”, afirma Schaberle. No início, tentaram atender via delivery, mas a operação durou apenas cerca de dois meses. A baixa procura por pedidos e o custo da operação, com despesas operacionais e a taxa dos aplicativos de entrega, não compensavam, ele diz. “É uma conta que realmente não fecha.”

Foram cinco meses de portas fechadas. “A gente segurou com vaquinha, vendendo voucher”, conta Schaberle, que na época tentou linhas de crédito do governo. Sem sucesso, fez empréstimos num banco privado.

Para conseguir pagar o salário dos funcionários, recorreram ao benefício de complemento salarial do governo federal, que em abril de 2020 lançou o programa emergencial de manutenção de emprego e da renda.

Fachada do bar e restaurante Jaguar, nos Campos Elíseos - Adriano Vizoni/Achados Elo

Com a medida provisória 936, que posteriormente virou lei, o empregador pôde suspender no ano passado contratos de trabalho ou reduzir a jornada dos funcionários em 25%, 50% ou 70%, com corte proporcional de salário. Em compensação, o governo depositou um benefício emergencial ao trabalhador afetado, que ganhou o direito a uma garantia provisória de emprego pelo mesmo tempo que durasse a sua redução de jornada e salário​.

Em caso de demissões nesse período, a empresa passou a ser obrigada a pagar multas. No caso do Jaguar, esse prazo vai até agosto, já que os funcionários da casa tiveram seus salários e jornadas reduzidos durante oito meses, de maio a dezembro.

Se decidissem fechar o estabelecimento neste mês, por exemplo, os proprietários teriam de pagar todas as rescisões e também as multas referentes aos meses restantes para o fim do prazo de garantia provisória estabalecido pela lei. Segundo Schaberle, o valor ficaria entre R$ 140 mil e R$ 170 mil. Além disso, eles precisariam quitar dívidas com fornecedores, impostos atrasados e empréstimos em bancos. A quantia total, segundo ele, alcançaria a cifra de R$ 300 mil.

Assim, o Jaguar vive o dilema de não ter dinheiro para encerrar as atividades, mas tampouco tem caixa para permancer funcionando. “O delivery responde por apenas 10% do faturamento”, completa o dono. Além disso, os salários dos funcionários estão atrasados há um mês.

A solução encontrada foi lançar uma nova vaquinha online.

É possível contribuir enviando qualquer valor por Pix, pela chave 23.650.370/0001-70, ou pela plataforma de arrecadação Abaca$hi —a meta é angariar R$ 100 mil. O valor pago pelos clientes será revertido em consumo quando o restaurante for reaberto, com um acréscimo de 10% à contribuição feita. A validade é 31 de dezembro deste ano.

Mesmo reiterando os problemas relacionados ao delivery, a casa deve reativar nas próximas semanas as entregas via iFood e Rappi, já que os aplicativos tiveram uma redução temporária das taxas de comissão. “A conta ainda não fecha, mas, se funcionar, vamos levando.”