Veja restaurantes de SP comandados por casais para conhecer no Dia dos Namorados
Muito antes da pandemia, chefs já passavam 24 horas juntos entre casa, trabalho e panelas
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Se a pandemia de Covid-19 pôs muitos relacionamentos à prova, ao fazer casais passarem 24 horas sem se desgrudar por causa do home office, talvez dê para tirar uma ou outra lição daquelas duplas que se propuseram a criar negócios juntos —e, muito tempo antes do caos sanitário, já passavam o tempo todo lado a lado.
Como filhos, esses negócios são projetos de vida —exigem atenção, energia, esforço físico, paciência, criatividade e costumam refletir muito de quem é aquele casal. No caso de restaurantes, eles, além de fazer com que você saia cedo da cama e volte tarde para ela, ainda levam consigo sábados, domingos, feriados e demais dias em que as pessoas normalmente aproveitam para curtir, relaxar, abrir um vinhozinho e fazer um “date”.
“Na nossa rotina, Dia dos Namorados pode ser qualquer dia”, diz Janaína Rueda, de 46 anos, sobre a data, comemorada neste sábado, 12. “A gente sempre fala que vai fugir do trabalho, mas é mentira. O trabalho faz parte da nossa vida pessoal.”
Ela e o marido, Jefferson Rueda, de 44 anos, construíram juntos um pequeno império gastronômico no centro da capital paulista —estão à frente do Bar da Dona Onça, d’A Casa do Porco, da Sorveteria do Centro e da lanchonete Hot Pork, endereços que fazem o casal passar o tempo todo juntos.
Apesar de Janaína estar à frente do Dona Onça, bar-restaurante que fica aos pés do Copan, e de Jefferson encabeçar a premiada casa dedicada à carne suína, ela conta que os dois comandam sem distinções as cozinhas. “Inclusive, muitos menus da Casa do Porco têm pratos meus”, afirma.
Foi a gastronomia que uniu os dois. Ela conta que trabalhava em uma importadora de bebidas e, em busca de restaurantes parceiros, ouviu que o chef do antigo Pomodori era um cozinheiro brilhante
—no caso, Jefferson Rueda. Logo na primeira visita, Janaína diz ter sido conquistada pelo estômago. “Fiquei vidrada. Comecei a ir lá toda semana, mas ele era tão dedicado àquela cozinha que nem dava bola para mim”, lembra.
Embora o casal Rueda se misture entre as cozinhas e toquem tudo em dupla, outros endereços paulistanos têm divisões mais claras, como a Fame Osteria e o Cepa.
Inaugurada no final do último ano nos Jardins, a Fame é a nova empreitada do casal Marco, de 46 anos, e Érika Renzetti, de 49 anos, que por mais de duas décadas tocou o Osteria Pettirosso, primeiro em La Paz, na Bolívia, e, desde 2007, em São Paulo.
Italiano, Marco comanda restaurantes desde os 19 anos. Conheceu a mulher, que é brasileira, na versão boliviana do Pettirosso, quando ele tinha 23 anos. “Começamos a namorar, e ela automaticamente veio trabalhar no salão”, conta. Érika, que estava em um intercâmbio da faculdade de administração, assumiu o bar da casa. Hoje, cuida do salão do Fame e dá seus pitacos na cozinha. Já as harmonizações são feitas em dupla.
“Muita gente não entende”, diz Érika, sobre trabalhar com o marido. Eles dizem que funciona porque gostam muito do que fazem. Coincidentemente, o Pettirosso costura a história de outro casal —o chef Lucas Dante, de 33 anos, e a sommelière Gabrielli Fleming, de 30 anos. Eles estão juntos há 12 anos e hoje comandam o Cepa.
Foi o trabalho de Dante que inseriu Fleming, que era publicitária, na gastronomia. Ele era sub-chef no Pettirosso e não demorou para que ela começasse a ajudar no salão do restaurante italiano. “Aprendi muito com o Marco e a Érika”, diz a sommelière.
Eles contam que já queriam abrir um restaurante no bairro do Tatuapé e que hoje o Cepa é como um filho dos dois. “Tem que cuidar muito bem, senão não cresce”, dizem.
Do outro lado da cidade, o imóvel dos anos 1950 que abriga o restaurante AE!, na Vila Mariana, não ostenta um clima de casa à toa. O espaço foi, de fato, a residência do chef Ygor Lopes, de 28 anos, e da chef-confeiteira Walkyria Fagundes, de 31 anos, na inauguração, em 2019.
Eles admitem que o começo do AE! foi intenso. “A gente não está lá como marido e mulher, tivemos que separar bem isso”, diz Fagundes. Ela diz que o distanciamento é tanto que, durante o período em que ambos estagiaram em restaurantes espanhóis como o Neruá, que fica no museu Guggenheim de Bilbao, os colegas demoraram a perceber que eles eram um casal.
“No fim, passamos mais tempo como colegas de trabalho do que como marido e mulher. Mas agora temos um pouco de vida além da cozinha”, diz Fagundes. O que não vale, é claro, para o Dia dos Namorados. “Vai ser cozinha —e, depois, cama”, brinca Lopes. “A comemoração vai ficar para o domingo ou segunda”.
“Para a maioria dos cozinheiros, é praxe celebrar o Dia dos Namorados depois”, explica outro chef, Rodrigo Oliveira, de 40 anos, à frente do Mocotó.
O relacionamento com a historiadora Adriana Salay, de 36 anos, com quem é casado há dois anos, começou no próprio Mocotó, tradicional restaurante de comida sertaneja que existe desde 1973. “Brinco que fui procurar o sociólogo e encontrei o cozinheiro”, diz Salay, que foi ao restaurante para fazer um curso com o sociólogo Carlos Alberto Dória.
Oliveira diz que o Mocotó foi acontecendo, até que apareceu em premiações e listas internacionais. “Quando a gente começou a ter alguma notoriedade, pedi pra Dri assumir a comunicação, algo que ela já fazia tão naturalmente”, diz.
Além da coordenação da comunicação, Salay trabalha junto do marido no restaurante como conselheira, sobretudo para lidar com assuntos mais espinhosos —como, por exemplo, a maneira como a casa iria se posicionar na pandemia. Foi daí que surgiu o Quebrada Alimentada.
Encabeçado por ela, que pesquisa a fome no Brasil no seu doutorado, o projeto entrega cem marmitas por dia para pessoas em situação de vulnerabilidade, além de oferecer cestas básicas e de vegetais para cerca de 360 famílias. As quentinhas são preparadas no próprio Mocotó e distribuídas pela equipe da casa, com menu pensado por Oliveira.
“É um desafio”, diz a historiadora, sobre trabalhar ao lado do marido. “A gente tem as nossas diferenças, mas tem formas de ver o mundo que são também complementares”. O chef vê o lado positivo. “É a junção da fome com a vontade de comer.”
Todas as casas, exceto o Fame, têm opções para o Dia dos Namorados.
AE! Cozinha
R. Áurea, 285, Vila Mariana. Informações no Instagram @aecozinha
Bar da Dona Onça
Edifício Copan - av. Ipiranga, 200, lojas 27 e 29, República. Informações no Instagram @bardadonaonca
Cepa
R. Antônio Camardo, 895, Tatuapé. Informações no Instagram @restaurante.cepa
Fame Osteria
R. Oscar Freire, 216, Cerqueira César. Informações no Instagram @fame_osteria
Mocotó
Av. Nossa Sra. do Loreto, 1.100, Vila Medeiros. Informações no Instagram @mocotorestaurante