Uma caminhada de pouco mais de dez minutos pelas ruas de Pinheiros separa a Casa Rockambole e o CL Music Hall, duas novidades que estrearam no bairro da zona oeste paulistana e que marcam a retomada cultural de São Paulo após o avanço da vacinação contra a Covid —e também a flexibilização das regras sanitárias na cidade.

Se nos últimos dois anos a capital viu sua pulsante cena musical agonizar com o fechamento —ou a ameaça de fechamento— de importantes espaços, como a Casa do Mancha, o Breve, o Alberta #3 e o UnimedHall, agora a cidade parece começar a recuperar parte do que foi perdido.

A reconstrução vem na forma de novas empreitadas culturais, algumas delas simbólicas. É o caso da Rockambole, inaugurada nos primeiros dias de março no número 119 da rua Belmiro Braga. Até janeiro de 2021, o imóvel era ocupado pela Estação Rio Verde, conhecida pelo charmoso palco que abrigou shows de Arnaldo Antunes, Nando Reis, Otto e Lucy Rose, entre outros.

Com cinco sócios à frente, o espaço é a nova sede do selo musical de mesmo nome, que, desde 2016, prioriza a música brasileira independente e assina bandas como Dingo Bells, O Grilo e Pluma. Felipe Machado, um dos sócios, conta que a criação do negócio começou logo que o grupo soube que o Rio Verde fecharia as portas.

"Em setembro de 2021 fechamos o contrato com o Guga [Stroeter, um dos fundadores da antiga casa] e pegamos o bastão para continuar com a ideia básica do Rio Verde. Não fizemos mudanças estruturais no teatro e nem no coreto, que são marcos, só investimos no som e em detalhes para aumentar o conforto", conta.

A pegada da agenda segue a linha da gravadora, que aposta nos sons da MPB e do rock de grupos alternativos, fora do mainstream —mas não se reduzirá a isso, segundo Machado.

Em todos os finais de semana deste mês, por exemplo, o local sedia a festa Samba do Sol, que fez cerca de 70 edições quando ali ainda era o Estação Rio Verde. Também há a ideia de criar uma noite fixa dedicada ao dub e ao reggae. "Estamos abraçando o antigo e dando espaço para o novo, queremos trazer novas artes para oxigenar a cena de São Paulo", diz Machado.

Além do auditório, que neste mês ainda recebe shows de Bemti e Scatolove, o local com capacidade para até 1.200 pessoas também tem um estúdio de gravação e uma área externa com bar que serve drinques, cervejas e comidinhas, sempre com música rolando nas caixas de som.

Perto dali, na rua Padre García Velho, o CL Music Hall abriu as portas também com a proposta de impulsionar uma cena já existente na região. Os sócios, que comandam o CityLights Hostel —que há tempos deixou de lado a hospedagem para se dedicar às noites de música—, ainda são responsáveis por tocar o Kingston Club e o Giro Bar, que ficam por perto. O CL Music Hall é o maior espaço do grupo. Aberto em fevereiro, ocupa o imóvel de uma antiga igreja evangélica e também poderá abrigar até 1.200 pessoas.

"Resolvemos apostar numa casa na qual você não vai para assistir apenas a um show, e sim para uma noitada e, ao longo dela, acontece um show. Isso também tira a responsabilidade dos artistas de lotarem sozinhos a casa", afirma o DJ Flores, sócio e residente do espaço.

Desde a inauguração, a agenda já teve artistas como Di Melo e Samuca e a Selva e tem no horizonte datas com BNegão, Luedji Luna e Bixiga 70. "A gente quer fazer algo bem eclético, do carimbó à música cubana, mas ali só vai tocar casca grossa."

A adição de mais um ponto cultural na região também faz parte de um projeto mais ambicioso do grupo, que é fazer do quarteirão um polo turístico. "É fantástico ver isso acontecendo depois desse período de casas vazias. A música sempre foi e sempre vai ser um armamento tremendo para o humor das pessoas. Quando você assiste a um show bom, ele é capaz de mudar sua semana", afirma Flores.



Casa Rockambole
R. Belmiro Braga, 119, Pinheiros, região oeste. Instagram @casarockambole. Agenda e ingressos em rockambole.fanlink.to/Ingressos

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CL Music Hall
R. Padre García Velho, 61, Pinheiros, região oeste. Instagram @citylights_sp. Agenda e ingressos em clmusichall.com