Conheça o Mercadinho do Lasanha, pé-sujo que virou balada disputada no centro de SP
Modernos e famosos fervem em pista improvisada entre desodorantes e rolos de papel higiênico
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De tempos em tempos, surge um novo ecossistema para abrigar a fauna noturna de São Paulo. Neste ano, o escolhido foi um mercadinho, que se transformou em balada e num dos pontos de encontro mais fervidos do centro da capital, com frequentadores que vão dos modernos anônimos ao cantor Otto e à drag americana Violet Chachki, vencedora do reality RuPaul's Drag Race.
Aberto há seis meses na Vila Buarque, o Mercadinho do Lasanha tem nome literal —é mesmo um mercadinho e seu dono, chamado Marcelo Mota, é o tal do Lasanha.
Em pouco tempo, o local teve seu status elevado ao de point na região. Com uma caixa de som e luzes de LED, o espaço ganhou uma pista improvisada que recebe um pessoal que costuma ficar por ali até altas horas. "Tem dia que eu chego em casa às 11h da manhã", conta Lasanha.
Antes da pandemia, Lasanha tinha um negócio no largo do Arouche, não muito longe do novo ponto, e já funcionava como uma espécie de esquenta para o pessoal que frequenta as baladas LGBTQIA+ da região da República.
Com o aperto financeiro causado pelo período de fechamento do comércio, Mota transferiu o ponto para a rua Jaguaribe, em um local que também era sua casa. Além das prateleiras com rolos de papel higiênico e desodorantes e geladeiras com bebidas e lasanhas congeladas que lhe garantiram o apelido, ele disponibilizou algumas mesas, começou a atender também como lanchonete para ampliar o horário de funcionamento durante a pandemia e convidou um amigo artista para dar uma cor no teto.
"Eu dei uma ideia, mas falei que ele poderia fazer o que quisesse", conta Lasanha. O resultado foi uma pintura com muitas rosas e uma frase escrita em perspectiva que diz, em letras garrafais: "Mercadinho do Lasanha. Bem vindos".
Enquanto muitos lugares da moda em São Paulo apostam em neons instagramáveis, o desenho sem grandes pretensões virou um dos hits da casa. "O pessoal está pedindo e já estou vendo de mudar o texto para 'bem-vindes'", afirma, referindo-se à moda da linguagem neutra.
O pedido ilustra a principal característica do local: a sinergia com o público LGBTQIA+, que foi, afinal, quem transformou o pé-sujo em balada disputada.
"A gente estava procurando um lugar para tomar uma cerveja no comecinho de outubro. Aí uma amiga passou em frente ao Mercadinho do Lasanha e falou: 'gente, eu acabei de achar o melhor lugar do mundo'", lembra a diretora artística Gabriela Bandeira. "Ela falou que lá tem uma pintura maravilhosa no teto, o dono deixa a gente colocar música, fazer o que quiser."
Bandeira achou que o lugar seria perfeito para abrigar um projeto antigo, a Festa Ruim —evento LGBTQIA+ que, nas palavras dela, é uma "festa que celebra toda a comunidade, porque festa boa é festa com bicha de bolsinha". "Conversamos sobre isso, mas ele disse que não entendia nada de festa. Mas eu falei para ter calma, que a gente ajudaria", diz.
O movimento começou a crescer no bar, já transformado em balada, até que veio o evento de Halloween. "Do nada, chegaram 20 sapatões fantasiadas. Ele perguntou o que estava acontecendo, e eu falei: 'a gente vai fazer uma festa de Halloween aqui hoje, Marcelo'. Ele riu muito", lembra Bandeira. Nesse dia, o movimento foi tão grande que a diretora teve que ajudar no caixa do bar. Outra das convidadas deu uma mão no estoque.
Pouco tempo depois disso, o lugar estourou. Hoje o Mercadinho do Lasanha fica aberto de quarta a domingo durante toda a madrugada, enchendo as calçadas da rua. O movimento fez com que o pessoal que frequenta as festas já não precisasse mais trabalhar lá: agora, o Lasanha tem uma equipe de cinco funcionários e avisa que já contratou mais uma pessoa para cuidar da limpeza do banheiro.
Hoje, o negócio já conta com uma agenda de festas marcadas até o fim de janeiro e é ponto de encontro da comunidade LGBTQIA+ e do pessoal criativo que trabalha com comunicação e arte que costuma frequentar a região. Embora a pista fique cheia de gente dançando entre produtos de limpeza, o lugar favorito é mesmo a rua.
E é por isso que o Lasanha prevê que poderá ter problemas com o barulho e com o pessoal na rua em breve.
Por isso, diz que seu principal plano agora é melhorar a estrutura do lugar e conseguir dar um jeito de trazer o público para dentro. E garante que, apesar de ter descoberto o talento para a noite, ainda quer ter o mercadinho durante o dia. "Eu ainda quero atender a senhorinha que precisa comprar leite", diz. "Mas acho muito legal isso da pessoa entrar numa balada e comprar um papel higiênico —ou de sair para comprar papel higiênico e de repente estar dentro de uma balada."