Aos poucos, o clima tranquilo das ruas tomadas por casinhas e galpões que compõem o cenário da outrora industrial Barra Funda é transformado com a chegada de novos inquilinos, principalmente depois do início da pandemia. Botecos do tipo bar e lanches, mercadinhos e lojas começam a dividir cada vez mais espaço com galerias de arte, lojas de design, bares de drinques, baladas, cervejarias e padarias artesanais.
O movimento lembra o visto há alguns anos na região da Santa Cecília e Vila Buarque —e não surpreende que as novidades atraiam principalmente o público "santa cecilier", que agora habita os dois lados do Minhocão.
Aberto há três meses na rua Conselheiro Brotero, o bar e restaurante Pietá é exemplo disso. O espaço é, na verdade, a combinação de dois negócios antigos: o bar Pietá, que funcionou na região da Vila Madalena até 2010, e o restaurante vegano Rica Raiz, que fechou na Santa Cecília devido à pandemia.
Arlindo Carneiro Neto, sócio da casa, conta que resolveu procurar um ponto na região justamente por causa desse novo público. "Para mim, que nasci no bairro, é muito nítida essa mudança. Está chegando uma moçada muito legal, mais descolada", diz. "E a gente quer estar junto nesse momento."
Ele avalia que essa renovação na cara do bairro também tem a ver com quem foi morar ali recentemente. "Começou a ter um fluxo de gente mais jovem, procurando casas com um custo mais baixo. E aqui tem muito espaço, galpões, imóveis para serem reformados."
E parece que essa combinação tem funcionado. Inaugurado há dois anos em uma garagem na praça Olavo Bilac, o bar Miúda ficou conhecido por juntar gente jovem e moderna na calçada para tomar drinques e cerveja em cadeiras de praia. Em novembro, alugou o estacionamento ao lado e lançou uma programação de festas. Agora, é difícil não encontrar filas para entrar no local aos fins de semana, quando recebe DJs e público que se divide entre a pista e as habituais cadeiras de praia.
Arquitetura, localização e preços têm atraído especialmente pessoas que buscam abrir seus primeiros negócios. É o caso de Diêgo Penido. Depois de ser demitido no começo da pandemia, o designer de produtos transformou seu apartamento em uma minifábrica de pães.
O negócio cresceu e ele teve de procurar um ponto para instalar a cozinha. Apesar de ter cativado clientes no grupo do Facebook Cecílias e Buarques —de moradores de Santa Cecília e Vila Buarque– com seus pães, foi na Barra Funda que ele encontrou o espaço para a padaria Na Fila do Pão, aberta em agosto.
"A gente começou achando que ali seria um ateliê de produção, mas os clientes começaram a vir e nos vimos obrigados a ter que oferecer um serviço aqui", diz. Ele, que divide o espaço com a floricultura Fialka, conta que o pessoal da Santa Cecília costuma dar as caras por lá principalmente aos sábados, depois do passeio no Minhocão, mas que tem notado que os vizinhos têm aparecido cada vez mais. "Houve uma identificação com o bairro e vice-versa."
Os bartenders Fabio Mec e Ciro Tupinambá também escolheram a região para montar seu primeiro empreendimento próprio, o Trago Bar, em setembro do ano passado. Apostaram na rua Souza Lima —a mesma de casas como A Dama e os Vagabundos, Mescla, Laskarina Bouboulina e, agora, a Cervejaria Central. "Nossa ideia era atender 40 pessoas por dia, mas tem dia que chega a mais de 300", conta Flavia Almeida, casada com Mec e gerente do local.
O negócio deu tão certo que eles já têm planos para um novo bar na mesma rua, um boteco chamado Estrago, previsto para fevereiro. "O Trago tem um público de drinque, que senta no balcão e pede um sazerac. Mas também queremos atender um público do bairro que gosta de cerveja em garrafa de 600 ml, coisa que não tem no Trago."
Pioneiro na temporada atual da rua Souza Lima, o pessoal do A Dama e os Vagabundos conta que quando chegou, em 2017, mal havia movimento à noite por ali. "A gente queria um lugar baratinho, pequeno, para poder experimentar", afirma Italo Escarparo, sócio da casa. "Nem pensamos que poderia crescer, que teríamos que usar a calçada. Nossa sorte é que os negócios do lado não abrem nos fins de semana nem à noite, daí podemos espalhar as mesas ali."
O bar é outro que ganha um irmão na região em 2022. "Alugamos uma casinha ali perto, na rua Camerino. Ainda não sabemos o que vai ser, mas queremos um negócio mais intimista", diz.
E não são apenas os empresários de primeira viagem que aportam no bairro. Figuras conhecidas da noite do Baixo Augusta, os produtores e DJs Ronaldo Rinaldi e Sérgio Oliveira, conhecidos como Click e Sérjô, abriram a balada Irregular na rua Barra Funda em fevereiro de 2020.
Para Oliveira, o endereço, que antigamente abrigava a boate Bunker, caiu como uma luva. "A gente já queria sair um pouco do circuito Augusta, que já estava saturado naquela época", diz. O que ele não esperava, porém, era que a turma que fervia na pista de locais como o Desmanche também migrasse para lá. "E temos o público da festa de domingo, a Tereza, que é muito fiel."
"Isso aqui tem tudo para virar uma nova Vila Madalena", projeta Arlindo Carneiro Neto, do Pietá.
A nova cara da Barra Funda
Irregular
r. Barra Funda, 630. Instagram @irregularsp
Cervejaria Central
r. Souza Lima, 5. Instagram @centralbarrafunda
A Dama e os Vagabundos
r. Souza Lima, 43. Instagram @adamaeosvagabundosbar
De Caquinho
r. Brigadeiro Galvão, 32B. Instagram @decaquinhobar
Laskarina Bouboulina
r. Souza Lima, 67. Instagram @laskarinasaopaulo
Miúda
praça Olavo Bilac, 28. Instagram @miudabar
Pina Drinques
r. Brigadeiro Galvão, 177. Instagram @pina.drinques
Trago Bar
r. Souza Lima, 174. Instagram @trago_bar
Na Fila do Pão/Fialka
r. Margarida, 30. Instagram @na.filadopao
Pietá
r. Conselheiro Brotero, 575. Instagram @pieta.bar
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