Bar Genésio, clássico da boemia de São Paulo, fecha as portas
Casa encerra as atividades após crise financeira e atritos com o proprietário
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Em fevereiro deste ano, mês em que a capital paulista começou a endurecer seu plano de quarentena, uma grande placa de “aluga-se” surgiu pendurada na fachada do Genésio, bar que é reduto boêmio da Vila Madalena e que foi frequentado por nomes como Milton Nascimento, Paulinho da Viola e João Bosco.
Um mês depois, quem passa pela rua Fidalga vazia —nenhum bar pode abrir as portas na atual fase do plano do governo por causa do agravamento da pandemia— vê um anúncio mais discreto, mas ainda pior. Depois de quase 19 anos sendo ocupado pelo clássico bar, o número 265 da rua está vago e, quando reabrir, não será mais com o Genésio.
A casa, que por causa da Covid-19 permaneceu de portas fechadas e funcionou apenas com uma tentativa de delivery que durou pouco, já estava mal das pernas desde o ano passado, quando começou a buscar investidores que a mantivessem de pé.
Àquela altura, os cinco sócios, que também gerenciam o Filial, bar que fica do outro lado da mesma rua, acumulavam dívidas e mantinham os cerca de 40 funcionários com os contratos de trabalho suspensos. Mesmo quando houve um afrouxamento na quarentena imposta pelo governo estadual, eles decidiram não reabrir as duas casas.
“Precisávamos voltar, mas não sabíamos como. A tristeza de perder o bar era grande, mas também era terrível retomar daquele jeito. Eu não queria que um garçom ou um cliente morresse de Covid”, conta Helton Altman, um dos quatro irmãos que tocavam o Genésio com um amigo.
O grupo até tentou entrar para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, mas nada saiu dali. “Se a gente tivesse conseguido, talvez tivéssemos mais tempo. O
governo é o maior responsável por isso tudo”, reclama.
A luz no fim do túnel veio quando a Fábrica de Bares, que comanda estabelecimentos como o Bar Brahma e o Bar Léo em São Paulo, demonstrou interesse em manter os espaços em funcionamento.
Quase no fim da negociação com a empresa, no entanto, o proprietário do número 265 —que se chama Genésio e, em tempos passados, usava o imóvel como sua oficina— decidiu oferecer o espaço para locação, encerrando a relação de quase duas décadas com o grupo e com o bar, que foi batizado com o seu nome.
“A gente tinha uma relação muito boa com o seu Genésio, mas na pandemia, com todo mundo assustado e sem dinheiro, ele preferiu não dar preferência para nós. A gente implorou, disse que todos os funcionários teriam seus empregos garantidos. Eu liguei para ele, para a mulher dele e para o filho. Mas não adiantou”, conta Altman.
Segundo o empresário, os documentos da Fábrica de Bares chegaram a tempo, mas o aviso de aluguel foi pendurado mesmo assim na porta. “Aquela placa não deveria ter sido colocada, a imobiliária foi totalmente desumana”, reclama. O grupo, então, se viu numa espécie de fila de candidatos ao aluguel do espaço.
Com isso, a história de um dos principais espaços boêmios de São Paulo ficou para trás, levando o Genésio à extensa lista de casas que não resistiram ao ano pandêmico —até agosto do ano passado, segundo um levantamento feito pela Associação Nacional dos Restaurantes, 200 mil casas já haviam sinalizado dificuldades para se manter em funcionamento por causa da crise.
“O Genésio está fechado. É a nossa marca, mas não sabemos quanto tempo vai durar essa pandemia. E acho muito difícil continuarmos com esse nome, justamente pela perda de carinho e respeito que aconteceu. O bar fica na memória, como quase tudo fica”, afirma Altman.
A casa do outro lado da rua, por outro lado, ainda pode ver dias melhores e continuar sua história de 20 anos —aniversário que teve de ser comemorado de forma virtual, no ano passado. O Filial, do mesmo grupo de sócios, já começou o processo de transição para ser tocado pela Fábrica de Bares, deve passar por reformas e, talvez, absorva alguns dos funcionários que foram dispensados com o fim do Genésio. Metade da boemia ainda segue viva.