Mirante 9 de Julho fecha de vez após 18 meses parado e assalto na pandemia

Termo entre a administradora do espaço e a Prefeitura de São Paulo não foi renovado

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São Paulo

A cidade de São Paulo perdeu mais um espaço cultural na pandemia. Após passar 18 meses fechado, o Mirante 9 de Julho, localizado sobre a avenida Nove de Julho e aos fundos do Masp, anunciou na sexta (17) o encerramento definitivo.

O motivo, afirma a administradora do Mira —nome pelo qual passou a ser chamado desde 2019— teria sido o fim de um termo entre o espaço cultural e a Prefeitura de São Paulo, proprietária do imóvel que o abrigava, atualmente sob gestão de Ricardo Nunes, do MDB.

Escadaria do Mirante 9 de Julho, na região central de São Paulo - Eduardo Anizelli -23.ago.2015/Folhapress

"A Prefeitura Regional da Sé tem outros planos para o espaço e encerrou a nossa parceria depois de nos fazer esperar e acreditar por 22 meses que iria renová-la", conta Dulce Santos, responsável pelo espaço.

Construído nos anos 1910, o mirante ficou abandonado por décadas até ser concedido pela prefeitura a empresários para revitalização. Abriu ao público em 2015 e, de lá para cá, foi administrado por três gestões diferentes —a última, em 2019, pela empresa de eventos Belvedere Nove. Santos calcula que foram investidos R$ 6 milhões no espaço desde 2017.

O termo de cooperação para concessão do espaço contemplava algumas obrigatoriedades, como a revitalização do salão central do imóvel e dos chafarizes da avenida Nove de Julho —ambas as etapas foram concluídas.

As empresas podiam utilizar parte do espaço comercialmente —desde que não cobrassem ingressos para eventos culturais— sem precisar pagar aluguel, mas arcavam com as despesas de manutenção.

Esse termo foi encerrado em fevereiro de 2020. Santos diz que ainda havia um acordo para fazer uma exposição de arte no local, como parte da última etapa de revitalização, o que viabilizaria renovar a gestão até o fim daquele ano.

Com a chegada da pandemia, porém, o local fechou as portas em março do ano passado e a mostra não ocorreu. O Mira teve um breve funcionamento, entre outubro do ano passado e março deste ano, quando abriu o salão do seu restaurante ao público —mas sem a costumeira agenda cultural de shows, exposições e festas.​

Nesse tempo, Santos conta que optou por continuar fazendo a manutenção do espaço com a expectativa de que o projeto sairia do papel. "Ficamos tentando viabilizar o projeto nesse período e esperando chegar a fase verde da pandemia."

Ela diz, ainda, que manteve contato com a Subprefeitura da Sé, que demonstrou interesse em continuar a parceria, ainda na gestão Bruno Covas, que era do PSDB. Mas, em dezembro, foi informada de que o termo estava encerrado. "A gente vinha conversando, estava tudo caminhando bem. Agora, só falaram para sair de lá. Não sei por qual motivo."

Durante esse tempo, Santos pagou contas como as de água, luz e despesas com a segurança do local, que sofreu um assalto no início do ano e perdeu cabos de energia, quadros de força, caixas de som e equipamentos de cozinha.

Impossibilitado de abrir, o espaço viu seu futuro ficar mais incerto. Santos chegou a abrir uma vaquinha para tentar arrecadar R$ 91 mil, pagar uma reforma elétrica e quitar dívidas. As doações no financiamento coletivo, porém, somaram apenas 1% da meta e a reforma não foi para frente.

A administradora disse que abriu um boletim de ocorrência e que entrou em contato com a Subprefeitura da Sé para tentar algum auxílio financeiro, mas que não obteve retorno.

"Eu podia simplesmente ter juntado tudo e ido embora, porque as contas estavam entregues assim que acabou o termo. Fiquei pela parceria, porque aprovaram a nova exposição", diz. "Paguei por dois anos para cuidar de um espaço público e não vou ser ressarcida. É um retrocesso, na hora em que eu tirar os pés de lá, provavelmente vão destruir tudo."

Em nota, a Prefeitura de São Paulo, por meio da Subprefeitura Sé, confirmou que o termo venceu e não foi prorrogado, e acrescentou que "as duas fontes localizadas na avenida Nove de Julho fazem parte do conjunto arquitetônico tombado do local, e a empresa não mostrou interesse em assumir sua manutenção".

Santos, por outro lado, compartilhou com a reportagem um email enviado em setembro à subprefeitura em que diz concordar em cuidar dos chafarizes, que estavam em funcionamento até março de 2020, quando foram depredados.

Em resposta, a prefeitura disse: "Os representantes da empresa apresentaram uma nova proposta, que foi analisada sob diversos aspectos pela administração regional, e houve o entendimento que não atende a todas as necessidades para uso do local."

"A administração regional está ouvindo outros interessados e conduzindo os devidos estudos para o uso da área e, assim que forem concluídos, serão publicados no Diário Oficial, através de chamamento público aberto para quaisquer interessados, inclusive a empresa citada", conclui a nota.

Enquanto isso, o mirante volta a ficar vazio por tempo indeterminado.