O galpão de dois andares sediava antes uma fábrica de roupas e tem pichações cobrindo as paredes de tijolo da fachada. Estamos em Santo Amaro, bairro na zona sul de São Paulo, e um funcionário dentro de uma guarita indica que é ali mesmo a entrada para o Abadom, misto de castelo do terror e escape room que foi inaugurado no início deste mês na capital paulista.
Sem sinalização, a atração fica em uma rua residencial pouco movimentada, cenário que ajuda no clima de mistério, como se estivéssemos entrando em uma festa secreta.
Para participar, é necessário comprar com antecedência o ingresso, que custa R$ 50. Em um domingo à noite, casais e grupos de amigos chegavam ao endereço. Parte deles, aliás, não tinha convites e tentava a sorte na hora para participar da atração —mesmo sabendo que as vagas estão esgotadas até fevereiro do ano que vem.
Sem ingressos, é claro, todos tiveram de dar meia volta para casa. Até porque, desde que as entradas acabaram, o local montou uma longa lista de espera. Longa mesmo: são quase 9.000 nomes, que não conseguiram comprar os ingressos, esgotados em poucas horas desde a abertura da atração, e que aguardam alguma desistência para poder participar da nova experiência de terror paulistana.
"Foi uma loucura, não esperávamos essa enxurrada de gente", conta Cadu Dib, um dos sócios do Abadom. "Inicialmente, íamos trabalhar de quinta a domingo. Mas explodiu nas redes sociais, as pessoas pediram para ter mais vagas, e passamos a abrir também às segundas e terças. Mesmo assim tudo esgotou em poucas horas."
Mas o que existe no Abadom que justifique essa procura?
Para Dib, o tema de terror da experiência e a brincadeira com nossos medos despertaram o interesse do público. "A criança fantasia com personagens da Disney, princesas e super-heróis. Para o adulto, o lúdico é o terror", diz. "A pessoa quer se colocar à prova, sentir um pouco de medo."
O passeio começa com um guia de olhos esbugalhados, vestindo um macacão e carregando um molho de chaves. Os participantes, reunidos em grupos de oito pessoas, devem guardar os celulares e outros pertences em um baú, já que é proibido tirar fotografias durante o tour, que dura aproximadamente 30 minutos.
A primeira sala é um escritório iluminado por uma luz fraca vinda de um lustre piscante. Lá dentro, o anfitrião narra o enredo: estamos em um manicômio abandonado nos anos 1970, mas do qual muitos internos nunca saíram. O desafio é simples: escapar ileso.
Depois da recepção, o percurso conta com outras 11 salas —há, por exemplo, uma cela, um quarto e uma sala de enfermaria, que o enredo diz ter servido de laboratório para realizar experimentos com os pacientes. Todas são envoltas em escuridão total ou luzes bem fracas.
O anfitrião guia os visitantes por corredores e vai contando histórias sobre o manicômio e a rotina dos internos. Manchas de sangue nas paredes, correntes e móveis quebrados e bonecos decapitados formam a cenografia. Aqueles que conseguirem deixar o medo um pouco de lado vão ver ainda na decoração objetos das décadas de 1970 e 1980, além de máquinas de escrever, piano, televisão de tubo e instrumentos médicos.
Sons altos e repentinos de gritos, passos e até uma serra elétrica dão o toque final na ambientação. Nesse meio tempo, atores fantasiados e maquiados como personagens aterrorizantes surgem para dar um susto aqui e outro ali —e aí é o repertório clássico do terror, tem freira, gente possuída, maluco com serra elétrica etc.
Nessa hora, são comuns os gritos e os esbarros. A atração também incorpora elementos de escape room. Em alguns dos ambientes, é preciso desvendar pistas para destravar a passagem para a próxima sala.
Quando o grupo de visitantes surge gritando e correndo ao salão de espera do local, sabemos que o passeio acabou. Já aliviados e com os celulares de volta às mãos, aproveitam para tirar selfies e posar dentro de um banheiro que reproduz uma cela.
Em tempo: abadom, termo hebraico que costuma aparecer na literatura de terror e no cinema como referência a demônio, significa algo como "lugar de destruição".
As sessões ocorrem entre 19h e 23h todos os dias, exceto às quartas. Para tentar uma vaga nas próximas semanas, já que os ingressos estão esgotados, é necessário se cadastrar em uma lista de espera neste link. Caso haja desistência, o próximo da fila é convidado.
A partir de fevereiro serão vendidas mais entradas. No próximo ano, diz o sócio da atração, há planos para ampliar o local com novas salas temáticas.
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