Restaurante alienígena com disco voador é atração em SP, mas dica é já chegar jantado
'Aliens Experience', com personagens espaciais, diverte crianças, mas a comida é cara e gordurosa
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Experiência, taí uma palavrinha que foi banalizada na gastronomia. Qualquer coisa vira experiência. Rodízio de espetinhos é experiência. Caldo de cana na feira? Experiência.
Aí aparece nos stories do meu Instagram o anúncio de um jantar temático alienígena, dentro de um disco voador. Enfim, uma experiência digna do peso da palavra.
A curiosidade masoquista me levou ao "Aliens Experience", espetáculo infantil encenado num estacionamento em frente ao Memorial da América Latina, na Barra Funda, na região central de São Paulo. O tal disco voador é uma estrutura provisória um pouco mais sofisticada do que uma tenda de circo climatizada.
A missão E.T. requeria a companhia do Pedro, meu assistente de nove anos. A vantagem de ter um ajudante tão júnior é poder pagá-lo com frituras e milk-shake —negociação juridicamente segura quando o sujeito também é seu filho.
Compramos os ingressos pela internet e chegamos um pouco antes do horário do espetáculo, às 19h, num sábado. Para entrar, os maiores de 12 anos precisam apresentar comprovante de vacinação. É um show de alienígenas, não para alienados, golaço do pessoal de Andrômeda.
Dentro do "disco", as mesas são dispostas ao redor do palco, que fica no centro do picadeiro. O ambiente é escuro como os confins da Via Láctea, com neons e luz negra fazendo brilhar os copos plásticos de cores berrantes.
O cardápio aparece no celular por um código QR que já identifica a mesa e envia o pedido à cozinha. Parece ficção científica.
A sociedade dos aliens é estratificada. Aqueles que servem as mesas se assemelham a humanos com maquiagem pesada. Os que participam da peça se subdividem em meia dúzia de espécies com fenótipo de extraterrestre autêntico: algumas poucas dominam o nosso idioma, as outras emitem "blips" e sons afins.
A trama intergaláctica orbita ao redor do roubo de uma pedra espacial com poderes mágicos. O clímax da ação se dá na batalha entre os E.T.s roubados e os E.T.s ladrões.
Nesse ponto, tudo vira correria e balbúrdia, com os guerreiros espaciais disparando feixes múltiplos de laser verdes e vermelhos. Minha gata Lola iria enlouquecer com tantas moscas de luz. O Pedro também curtiu bastante, assim como as outras crianças embarcadas no disco.
Intrigava a presença de um ou outro casal sem filhos. Na mesa bem em frente à minha, estava empolgadíssimo um barbudinho com pinta de tatuador artesanal ou barbeiro gourmet. Ele dava risada. Ele levantava o braço para participar das brincadeiras interativas. Ele tirava selfies com os personagens. Chegou a ceder a própria cadeira para um alien beber cerveja (a long neck de Heineken custa R$ 18) com a namorada dele. Tudo por uma foto no Insta.
Não me deixei levar por semelhante transe, mas minha baixa expetativa foi superada. Os caras de Andrômeda são bons no que fazem, para o público que almejam.
Eu esperava algo tacanho. Tive más, hum, experiências no entretenimento infantil –como o drive-thru de mundo animal no estacionamento de um shopping, tosco de fazer corar palhaço de circo do interior.
O figurino é caprichado, o cenário também, o texto tem algumas boas sacadas, tudo funciona em sincronia, inclusive o serviço concomitante com a peça. Mas preciso falar da comida, pois é para isso que a Folha me paga.
O cardápio denota alguma ambição gastronômica, o que é temerário em situação de show infantil. Há uma seção de entradas, outra com hambúrgueres de três tipos de carne (mais um vegano) e uma parte dedicada a pratos combinados com bife, massa, salada etc.
Alinhei com meu assistente júnior o seguinte pedido: nuggets de frango (R$ 38) para dividir. Hambúrguer de porco (R$ 49,50) com rúcula e anéis de cebola para mim. Para ele, filé à milanesa com massa ao pesto (R$ 68) e um milk-shake de chocolate (R$ 31) cheio de marshmallows e lambanças do gênero.
Os preços, se não lunáticos, são estratosféricos. É o esperado em casas e discos voadores de show.
O problema dos alienígenas é que, enquanto Órion brilha no palco, o óleo deixa a comida literalmente brilhante. Tudo é muito gorduroso.
Os nuggets estavam no mesmo nível dos comprados em supermercados. O bife à milanesa era filé mesmo, mas estava encharcado, e o pesto do macarrão tinha gosto de azeite e manjericão oxidados. A comida chega à mesa em tempo recorde, o que levanta a suspeita de que seja simplesmente aquecida para o serviço.
Quanto ao meu hambúrguer, fui contemplado com uma pasta de queijo laranja-venusiano que não constava na descrição do cardápio. O Pedro pareceu não se importar com tais nuances: devorou a comida dele e a minha. Preciso ser mais rigoroso com meu aprendiz.
Sem querer pegar pesado demais com os simpáticos aliens, é um programa divertido para levar crianças. Mas procure se alimentar antes —ou deixe para depois. Aí vocês tomam, numa relax, um sorvetinho e uma cervejinha superfaturados, com um sorriso no rosto, pois assim é que funciona no planeta Terra.