Boteco 28 monta exposição com objetos pessoais de Adoniran Barbosa
Restaurante no Farol Santander exibe ao público parte do acervo do sambista paulista
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Um chapéu fedora e uma gravata borboleta xadrez. Fosse flanando pelas ruas de São Paulo, fosse visitando os bares ou estúdios de rádio, Adoniran Barbosa era sempre visto vestindo esses dois itens, que viraram a sua marca.
Quarenta anos após a morte do compositor, completados no fim de novembro, esses mesmos acessórios podem ser vistos pelo público em uma exposição no Boteco 28. O restaurante fica instalado no 28º andar do Farol Santander, no centro de São Paulo.
Além do chapéu e da gravata, há folhetins com autógrafos do sambista, fotografias e, num quadro, um título de cidadão paulistano. Isso porque Adoniran era paulista —nasceu em Valinhos, a cerca de 90 km da capital. Mudou-se com a família para São Paulo ainda jovem e trabalhou em diferentes funções, como vendedor de tecidos. Tal homenagem foi recebida pela filha de Adoniran, Maria Helena, há quatro anos —o momento é registrado numa foto.
Pôsteres de documentários sobre João Rubinato, seu nome de batismo, também decoram as paredes. Estão por lá, ainda, pequenas bicicletas de arame e uma panela de polenta, construídas pelo ícone do samba.
"Além de artista, compositor e cantor, Adoniran tinha feito Liceu, então também era artesão. Ele fazia bicicletinhas e só dava para quem ele achava que tinha feito diferença na vida dele", diz Cássio Pardini, um dos sócios do Boteco 28.
Os objetos chegaram ao local em janeiro, no aniversário da cidade, pelas mãos de Pardini, que hoje cuida do acervo de Adoniran. A coleção tem cerca de mil itens, guardados pela mulher do músico, Matilde de Lutiis, ao longo do anos.
A história de como esses objetos originais chegaram a Pardini é longa. O acervo passou de mãos em mãos nas últimas décadas. Primeiro, foi deixado como herança para a filha, Maria Helena, que depois passou para Matilde e, de novo, voltou para ela. Ambas tentaram montar um museu em homenagem a Adoniran, mas não deu certo.
A coleção então ficou parada em casas de amigos, depois foi catalogado pela Universidade de São Paulo e guardado em caixas durante anos. Foi para o Museu da Imagem e do Som, mas também saiu de lá após imbróglios. Por fim, foi parar na Galeria do Rock.
"A galeria é um lugar bom para o Adoniran, porque ele era rebelde", diz Pardini. O produtor de cinema descobriu o acervo quando produzia um curta sobre o boêmio. "Juntamos uma turma, parcelamos e compramos o acervo. Ficamos superfelizes." A coleção, porém, não está aberta ao público, e o acesso é liberado apenas para pesquisadores, sob autorização.
Em 2018, o grupo montou uma grande exposição no Farol Santander. Com o término dela, os itens voltaram para a galeria. "As coisas tinham começado a escalar mais, mas aí veio a pandemia e as coisas voltaram a ficar esquecidas", diz Pardini.
Atualmente, ele produz um filme sobre o sambista, estrelado por Paulo Miklos. Mas pretende passar o acervo para frente e tem tentado transferir os objetos para a prefeitura paulistana ou para algum instituto. "Para dar continuidade. Eu termino meu ciclo com a produção desse filme", conta.
Ao mesmo tempo, a empresa dele e dos sócios conseguiu emplacar uma proposta de restaurante de comida da Paulistânia para ocupar o espaço do Farol Santander. As referências ao compositor também estão no cardápio, em uma receita inspirada em uma de suas últimas músicas, "Torresmo à Milanesa", composta ao lado de Carlinhos Vergueiro, em 1979, no balcão de um bar.
"Que é que você troxe na marmita, Dito?/ Troxe ovo frito, troxe ovo frito/ E você beleza, o que é que você troxe?/ Arroz com feijão e um torresmo à milanesa", diz um trecho da canção.
O chef do restaurante, Deivid Marques, preparou um prato usando esses mesmos ingredientes, e o batizou de Marmita do Adoniran. Custa R$ 72 e leva dois ovos fritos, feijão, arroz, farofa e torresmo à milanesa. "Quis brincar com essa música que fala de um prato super simples. Ele ia ficar por um mês, mas o pessoal foi gostando e hoje ele faz parte do boteco", afirma.
Mas não é preciso consumir o prato para conhecer o acervo, é possível apenas fazer uma visita ao local. A pequena exposição deve ficar por lá de forma permanente, mantendo viva a memória de um dos compositores de samba mais representativos de São Paulo.